DADOS BIOGRÁFICOS

Professora, poeta e ficcionista, Geni Mariano Guimarães nasceu na área rural do município de São Manoel-SP, em 08 de setembro de 1947. Aos cinco anos, mudou-se com seus pais para outra fazenda situada em Barra Bonita, Estado de São Paulo. Iniciou sua carreira de escritora publicando seus primeiros trabalhos no Debate Regional e no Jornal da Barra. Em 1979, lançou seu primeiro livro de poemas, Terceiro filho. No início dos anos 80, aproximou-se do grupo Quilombhoje e do debate em torno da literatura negra. Dedicou-se às questões sociais, principalmente no que se refere à afirmação da afrodescendência, chegando a se candidatar para o cargo de vereadora de sua cidade em 2000. Porém, não foi eleita. Em 1981, publicou dois contos no número 4 de Cadernos Negros, assim como seu segundo livro de poesia, fortemente marcado pelos tons de protesto e de afirmação identitária. Ao longo da década, ampliou sua presença no circuito literário brasileiro. Em 1988, participou da IV Bienal Nestlé de Literatura, dedicada ao Centenário da Abolição. Neste mesmo ano, a Fundação Nestlé publicou seu volume de contos Leite do peito. No ano seguinte, publicou a novela A cor da ternura, que recebeu os prêmios Jabuti e Adolfo Aisen.

Os livros mais conhecidos da autora apresentam caráter autobiográfico, dentre eles, Leite do peito. Em uma entrevista à revista americana Callaloo, Geni Guimarães declara:

Escrevi porque eu tinha que registrar a vivência de uma família negra, porque este livro é autobiográfico, eu precisava falar dos meus traumas, das minhas dores e das minhas alegrias, eu tinha que colocar isso pra fora.

Através dos relatos do mundo observado pela autora percebe-se o retrato das questões socioculturais no meio rural, como, por exemplo, quando exalta o comportamento de uma família negra que é profundamente marcada pelas ideologias da sociedade branca. Sua obra poética apresenta elementos distintos da prosa, porém os traços biográficos continuam presentes, o que pode ser observado pela linguagem que reflete a identidade feminina. Segundo Moema Parente Augel:

A autorreferencialidade, a intersubjetividade, o envolvimento afetivo, o registro confessional, a percepção interior em que o corpo, em vez de ser visto de fora, é expresso a partir de dentro, assim como a referência à realidade doméstica como realidade artística, são elementos característicos de uma escrita essencialmente feminina e dos quais podem-se encontrar abundantes exemplos nos versos de Geni Guimarães. (In: DUARTE, 2011. p. 279).

Na obra, o leitor encontrará uma acentuação positiva sobre a identidade étnica e de gênero, a partir de uma perspectiva relacionada com a contestação dos valores vigentes, o que está fortemente ligado à produção dos autores afro-brasileiros contemporâneos. Para a autora, escrever é um exercício emancipatório, ou seja, ela se vale do texto também como uma forma de libertar os seus ideais para a coletividade, como uma forma de não deixar que a voz da afrodescendência seja silenciada.

 


PUBLICAÇÕES

Obra individual

Terceiro filho. Bauru: Editora Jalovi, 1979. 2.ed. Rio de Janeiro: Malê, 2022. (poesia).

Da flor o afeto, da pedra o protesto. 1.ed. e 2.ed. Barra Bonita: Ed. da Autora, 1981. (poesia).

Leite do peito. São Paulo: Fundação Nestlé de Cultura, 1988. 2 ed. 1989 (contos).

A cor da ternura. São Paulo: Editora FTD, 1989. 12 ed. 1998 (contos).

Balé das emoções. Barra Bonita: Ed. da Autora, 1993. 2.ed. Rio de Janeiro: Malê, 2021. (poesia).

A dona das folhas. Aparecida: Editora Santuário, 1995 (infantil).

O rádio de Gabriel. Aparecida: Editora Santuário, 1995 (infantil).

Aquilo que a mãe não quer. Barra Bonita: Ed. da Autora, 1998 (infantil).

Leite do peito. Ilustração e projeto gráfico de Regina Miranda, Belo Horizonte: Mazza Edições, 2001 (contos, reedição revista e ampliada).

O pênalti. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2019 (infantil).

Poemas do regresso. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2020.

Traduções

The color of tenderness. Tradução de Niyi Afolabi. Trenton, NJ: Africa World Press, 2013.

Antologias

Cadernos negros 4. São Paulo: Edição dos Autores, 1981.

Axé. Antologia contemporânea da poesia negra brasileira. Organização de Paulo Colina. São Paulo: Global Editora, 1982.

IKA. Zeitschrift für Kulturaustausch und internationale Solidarität, maio 1984, nº 25.

A razão da chama. Antologia de poetas negros brasileiros. Organização de Oswaldo de Camargo. São Paulo: GRD, 1986.

O negro escrito: apontamentos sobre a presença do negro na literatura brasileira. Organização de Oswaldo de Camargo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.

Schwarze Poesie,Poesia Negra. Organização de Moema Parente Augel. St. Gallen/Köln: Edition diá, 1988.

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica.  Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, vol. 2, Consolidação.

 


TEXTOS

 


CRÍTICA

 


FONTES DE CONSULTA

AUGEL, Moema Parente. Geni Mariano Guimarães. In DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Vol. 2, Consolidação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

AUGEL, Moema Parente. Quando elas rompem o silêncio. Escritoras afro-brasileiras contemporâneas. In: Lusorama: Zeitschrift für Lusitanistik. Revista de Estudos sobre os Países de Língua Portuguesa, Frankfurt/M: TFM, nº 30, junho 1996, p. 5-25.

AUGEL, Moema Parente. ‘E agora falamos nós’. Literatura feminina afro-brasileira”. In: AFOLABI, Niyi; BARBOSA, Márcio; RIBEIRO, Esmeralda (Orgs.). The Afro-Brazilian mind: contemporary Afro-Brazilian literary and cultural criticism / A mente afro-brasileira: crítica literária e cultural afro-brasileira contemporânea. Trenton, N. J.: Africa World Press, 2007, p. 21-45.

COLINA, Paulo (Org.) Axé - Antologia contemporânea da poesia negra brasileira. São Paulo: Global, 1982.

CONCEIÇÃO, Jônatas; BARBOSA, Lindalva (Orgs.). Quilombo de Palavras: A Literatura dos Afro-descendentes. 2 ed. Salvador: 2000.

GUIMARÃES, Geni Mariano. Leite do Peito (anteriormente A Cor da Ternura). 3 ed. Revista e ampliada. Belo Horizonte: Mazza, 2001.

_____. Balé das emoções. Barra Bonita: Evergraf, s/d. (poesia)

LIMA, Omar da Silva. O feminismo negro em Leite do Peito, de Geni Guimarães. In: Revista Intercâmbio dos Congressos Internacionais de Humanidades. Disponível em: <http://unb.revistaintercambio.net.br/24h/pessoa/temp/anexo/1/269/225.pdf> 

LOBO, Luíza. Crítica sem juízo. Ensaios, Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1993.

JOVINO, Ione. Resenha de A cor da ternura. In: Revista Palmares – Cultura Afro-Brasileira. Brasília: Ministério da Cultura / Fundação Cultural Palmares. Ano 1, n°1, agosto 2005; p.78-79.

OLIVEIRA, Eduardo de (Org.). Quem é quem na negritude brasileira. Vol. 1. Congresso Nacional Afro-Brasileira CNAB, 1998.

OLIVEIRA, Maria Onória. Literatura infantojuvenil brasileira: Tecendo fios para o fortalecimento de nossa identidade étnico-racial?. In: Lugares dos discursos. X Congresso Internacional da ABRALIC. Simpósio Afrodescendências. Rio de Janeiro, 31.7 – 4.8 2006. CD ROM. ISBN: 978-85-98402-04-8.

PADILHA, Laura C. Poesia africana, em feminino. In GOTLIEB, Nádia B. (Org.). A mulher na literatura, vol 3, Belo Horizonte: UFMG/AMPOLL, 1990. p. 136-142

SILVA, Luciana Mesquita. A cor da ternura, de Geni Guimarães: uma análise de sua tradução para o inglês sob uma perspectiva descritivista. In: O Eixo e a roda, Revista de Literatura Brasileira, v. 25, n. 1, 2016.

SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro, ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Graal, 1983.

SOUSA, Andréia Lisboa de. Representação afro-brasileira em livros paradidáticos. In: Lugares dos discursos. X Congresso Internacional da ABRALIC. Simpósio Afro-descendências. Rio de Janeiro, 31.7 – 4.8 2006. CD ROM. ISBN: 978-85-98402-04-8.

Xavier, Elódia (1991), Tudo no feminino. A mulher e a narrativa brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Francisco Alves

 


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