As africanidades na literatura infantil contemporânea*

 

Cristiane Veloso de Araujo Pestana**

Resumo

O presente artigo busca observar como a Literatura Infantil contemporânea trata dos temas relativos à diáspora africana, levando em consideração os aspectos culturais e identitários do povo negro. Como objeto de pesquisa escolhemos dois livros: Os tesouros de Monifa da autora brasileira Sonia Rosa e As tranças de Bintou da escritora francesa Sylviane Anna Diouf. Ambas as histórias retratam a afetividade e a valorização da família e de suas heranças culturais. Porém uma é situada no contexto africano e a outra narrada em solo brasileiro.

Palavras-chave: Literatura infantil; Africanidades; Identidade

Abstract

This article seeks to observe how the contemporary Children’s Literature deals with the themes related to the African diaspora, taking into account the cultural and identity aspects of the black people. As a research object we chose two books Os tesouros de Monifa by Brazilian author Sonia Rosa and As tranças de Bintou by French writer Sylviane Anna Diouf. Both stories reflect the affectivity and appreciation of the family and their cultural heritages. However, one situated in the African context and the other narrated on Brazilian soil.

Key-words: Children’s literature; Africanities; identity.

Introdução

A população brasileira descende de vários povos e culturas, porém, inegavelmente, sua maior herança advém do povo africano escravizado. Primeiramente por ter sido esta população a de maior concentração de pessoas na história da fundação do Brasil e, também, por ser a África o berço de todas as civilizações. No entanto, o processo de colonização colocou este povo em situação degradante e coibiu, de todas as formas, quaisquer tipos de manifestações culturais. O povo negro, fruto de um processo diaspórico violento e desumano, segue sendo tratando de forma desrespeitosa, preconceituosa e, ouso dizer, criminosa até os dias de hoje.

Para tentar amenizar os processos de exclusão e invisibilidade da população negra, sobretudo a partir do processo educacional, foi criada a Lei 10.639 em 9 janeiro de 2003, a qual promoveu alterações significativas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96), no sentido de ampliar o aprendizado de História e Cultura Afro-Brasileira, desta forma os currículos das escolas foram reformulados, as editoras tiveram que fazer adaptações e revisões em seus materiais didáticos, cursos de formação foram oferecidos e assim também as editoras de livros paradidáticos também tiveram que se adequar às necessidades do mercado.

Nesta perspectiva, vários autores se viram obrigados a se inserirem neste novo ramo da literatura, a literatura com temas étnico-raciais. Alguns deles por imposição de suas editoras, outros visando um mercado novo e com amplas possibilidades. Porém, o que se viu foi uma enxurrada de livros com temática negra voltados para o público infantil sem nenhum critério ou preocupação com a edição. Mas isso é assunto para um outro artigo. Por ora, iremos focar na análise de dois livros que contribuem para o combate ao racismo.

Primeiramente, precisamos considerar que o racismo impera na sociedade brasileira de forma latente e insistente, antes velado e, atualmente, revelado sem nenhum pudor por muitos indivíduos. Entendamos aqui o racismo destinado aos descendentes de africanos, sobretudo os indivíduos de pele negra, levando em consideração a explicação dada por Nilma Lino Gomes e Kabengele Munanga no livro O negro no Brasil de hoje:

O racismo é um comportamento, uma ação resultante da aversão, por vezes, do ódio, em relação a pessoas que possuem um pertencimento racial observável por meio de sinais, tais como cor de pele, tipo de cabelo, formato do olho etc. Ele é resultado da crença de que existem raças ou tipos humanos superiores e inferiores, a qual se tenta impor como única e verdadeira. Exemplo disso são as teorias raciais que serviram para justificar a escravidão no século XIX, a exclusão dos negros e a discriminação racial. (MUNANGA, 2016, p.179)

As marcas desta exclusão e discriminação racial podem ser observadas de várias formas na Literatura, inclusive na Infantil. São traços estereotipados que permeiam tanto o texto verbal quanto o texto visual, ou seja, as ilustrações de algumas narrativas infantis. Acreditamos que os livros, que trilham nesta linha temática, deveriam ser criteriosamente pensados, produzidos e selecionados, pois conforme salienta a pesquisadora Maria Anória Oliveira (2015), o trabalho com a arte literária, seja no âmbito da produção, ou da seleção e difusão dos livros de literatura infantil sob a temática étnico-racial, requer um olhar crítico para não endossar o que se deseja desconstruir.

Contudo, o que se objetiva neste trabalho é apresentar histórias que, na contramão destas práticas racistas, ressaltam a beleza da cultura africana, reforçam a importância da ancestralidade para a população negra brasileira e auxiliam na construção identitária de crianças negras fazendo com que elas se tornem sujeitos capazes de conseguir driblar toda uma história de injustiça e discriminação. O que corrobora com o pensamento da estudiosa Ruth Barreiros, de que “formar leitores por meio dessa modalidade de arte, cuja temática está voltada para afro-brasilidade, pode propiciar uma renovação de valores no que se refere ao respeito à diversidade em uma sociedade pluriétnica” (BARREIROS, 2011, p. 334).

A importância de uma literatura negra voltada para o público infantil

A Literatura Negra se apresenta no cenário literário brasileiro como um meio de retomar a palavra sobre si, desconstruir imagens estereotipadas e solidificar uma cultura particular. Ela se insere na Literatura Brasileira com características distintas como temática racial, discursos políticos de luta e empoderamento, autores negros e autoras negras escrevendo sobre suas percepções e seus sentimentos e a inserção de personagens negras como protagonistas.

Dentro do contexto, a população negra foi narrada durante muito tempo sob o olhar do outro, um olhar muitas vezes deturpado e agressivo, em que os personagens eram meramente ilustrativos e vistos como objetos de exotização e sexualidade exacerbada. Já na proposta da Literatura Negra, os personagens se tornam protagonistas, assumem a fala sobre si mesmos e retratam sua cultura com mais propriedade e dignidade.

A ausência do protagonismo negro na Literatura é objeto de inúmeras pesquisas, dentre elas destacamos a da professora Regina Dalcastagné sobre as personagens negras nos romances brasileiros e, também, as considerações do ensaísta Cuti, que justificam a necessidade de existir uma vertente negra dentro da Literatura brasileira. Segundo o autor,

Quando se estudam as questões atinentes à presença do negro na literatura brasileira, vamos encontrar, na maior parte da produção de autores brancos, as personagens negras como verdadeiras caricaturas [...]. Estar no lugar do outro e falar como se fosse o outro ou ainda lhe traduzir o que vai por dentro exige o desprendimento daquilo que somos. [...] O sujeito étnico branco do discurso bloqueia a humanidade da personagem negra, seja promovendo sua invisibilização, seja tornando-a mero adereço das personagens brancas ou apetrecho de cenário natural ou de interior, como uma árvore ou um bicho, um móvel ou qualquer utensílio ou enfeite doméstico. Aparece, mas não tem função, não muda nada, e se o faz é por mera manifestação instintiva, por um acaso. Por isso tais personagens não têm história, não têm parentes, surgem como se tivessem origem no nada. A humanidade do negro, se agride a humanidade do branco, é porque esta última se sustenta sobre as falácias do racismo. (CUTI, 2010, p.88-89)

Para o professor Cleber Fabiano da Silva, “torna-se necessário possibilitar o protagonismo negro, evidenciando procedimentos estéticos e discursivos que o insira em contextos além dos que normalmente estávamos acostumados” (CAGNETI; SILVA, 2013, p.35. Observa-se então, que o protagonismo e a representação positiva de personagens negras, sobretudo para as crianças negras, é de total relevância, tendo em vista que o período da infância é cunhado de descobertas e significações que serão a base para a constituição destas enquanto indivíduos. 

A criança é plenamente capaz de promover identificação com histórias e personagens e fazer inferências que serão essenciais na construção de sua identidade negro-brasileira. Para a educadora e pesquisadora Eliane Cavalleiro “compreende-se que o reconhecimento positivo das diferenças étnicas deve ser proporcionado desde os primeiros anos de vida.” (2006, p. 26)

De acordo com a pesquisa e o mapeamento feito pela pesquisadora Eliane Santana Debus, a visão etnocêntrica dos livros infantis, calou a voz dos negros, o que ocorreu através da ausência de personagens protagonistas negros, pela construção de um discurso hegemônico. Para a autora, o caráter simbólico da literatura infantil pode contribuir para reflexões que rompam com a visão construída através da desigualdade étnica e que possam ser repensadas através de uma visão que contemple a valorização da diversidade. Assim, podemos observar que “a identificação com narrativas próximas de sua realidade e com personagens que vivem problemáticas semelhantes as suas leva o leitor a re-elaborar e refletir sobre o seu papel social e contribui para a afirmação de uma identidade étnica.” (DEBUS, 2007, p.1)

A formação de uma identidade positiva nas crianças negras tem sido assunto recorrente em várias áreas da educação. Ainda vemos muito a imagem dos negros associada à escravidão, à marginalidade, à pobreza extrema e à discriminação, sobretudo na TV, na internet, inclusive em livros didáticos.  Para que nossas crianças cresçam com conhecimento e capacidade de mudar este cenário, é preciso que ela se constitua como um cidadão consciente de sua origem, de sua importância histórica, de seu valor e seus direitos. Sendo assim, com uma autoestima bem desenvolvida e convicta de seu lugar na sociedade, esta criança se tornará, no futuro, agente de mudança e de ressignificação de valores. Um lugar propício para tais transformações seria a escola.

A herança cultural africana na Literatura Infantil

Dentro da Literatura Negra infantil, encontramos narrativas que trazem personagens negras em contexto diaspórico, ou seja, ambientada em um território que foi colonizado, onde vivem descendentes de africanos que foram arrancados brutalmente de suas terras e feito escravos em um lugar completamente desconhecido. Outras narrativas, numa perspectiva de se fazer conhecer esse continente-mãe de todas as nações, apresentam personagens negros em solo africano. São muitas as histórias infantis situadas na África, algumas delas escritas por autores franceses, africanos e americanos e traduzidas para o português. Algumas são transcrições de contos da oralidade, outras trazem ensinamentos típicos da tradição africana.

Retomar a África como pano de fundo das histórias infantis promove o desvelar de uma cultura ancestral que foi uma das fundadoras da cultura brasileira e aproxima as crianças negras de uma identidade que lhes é confrontada o tempo todo. É importante resgatar as raízes da população negra, pois é através dela que esta população promove as ligações necessárias para o autoconhecimento e para a autoestima. Para o professor e escritor Edimilson de A. Pereira, “reconhecer as especificidades dos diferentes contingentes culturais que dão forma à nação brasileira é uma condição fundamental para construirmos uma sociedade justa e solidária” (PEREIRA, 2010, p.23)

Porém, mesmo buscando e valorizando uma ancestralidade, se faz necessário que essa memória ancestral seja ressignificada no tempo e no espaço, pois vivemos uma contemporaneidade permeada de diversas outras culturas. Somos entrelaçados de várias identidades possíveis e, portanto, a reivindicação de uma identidade única não se sustenta mais, assim como nos aponta o sociólogo Reginaldo Prandi:

Voltar à África não para ser africano, ou para ser negro, mas para recuperar um patrimônio cuja presença no Brasil é agora motivo de orgulho, sabedoria e reconhecimento público, para ser o detentor de uma cultura que já é ao mesmo tempo negra e brasileira. (PRANDI, 2007, p.15)

Trazendo o pensamento do referido pesquisador para o contexto brasileiro, é possível estabelecer alguma relação com as ideias de Stuart Hall, que afirma não existir uma única identidade, mas sim várias, que se confundem e se complementam, e, o mais importante, que estão sempre em movimento de transformação, “dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas” (HALL, 2004, p.45).

Para Hall (2003, p.36), “a globalização cultural é desterritorializante em seus efeitos. Suas compreensões espaço-temporais, impulsionadas pelas novas tecnologias, afrouxam os laços entre a cultura e o “lugar”. Segundo o teórico, as culturas possuem sim um local, porém já não é possível mais dizer onde elas se originaram. Tal afirmação endossa a tese que Eduardo Assis Duarte chama de “hibridismo cultural”. Para Duarte, essa ideia rompe com as bases do “nacionalismo” e seus derivados, mesmo sendo esta uma ideia utópica, não deixa de ter um caráter político. Segundo Duarte, estamos “num mundo em que tudo se mistura e se reprocessa” (2005, p.101).

É justamente por este viés do entrelaçamento ou do hibridismo cultural que selecionamos o livro Os tesouros de Monifa da autora Sonia Rosa. O referido livro aborda a herança africana e as tradições mantidas pelos negros da diáspora em território brasileiro, sob o respaldo de uma cultura já em relação com outras. Para contrapor, apresentaremos o livro As tranças de Bintou da autora Sylviane Diouf, que segue os mesmos caminhos, porém em solo africano, com personagens africanos que não sofreram o processo diaspórico. São africanidades recontadas e representadas de formas distintas, porém com o mesmo objetivo, apresentar a África e seus elementos culturais. Entendamos aqui o termo africanidades de acordo com o filósofo e antropólogo Eduardo Oliveira:

Na escala do tempo e espaço as africanidades dizem respeito à cultura material e simbólica da Diáspora Africana, recriada e ressemantizada em território africano e não-africano. É política e estética concomitantemente. [...] É sentimento de pertença. [...] Ancestralidade é o princípio régio das africanidades. É lastro de tempo e espaço em processo de subjetivação, síntese, crítica e criação. [...] Africanidades é uma categoria que compreende e se compreende a partir do mundo cultural africano-diaspórico na superação do racismo e na produção de uma nova regra de justiça social e felicidade subjetiva. É insurreição social e fluidez literária [...] Africanidades são um (re)-encontro consigo mesmo. (OLIVEIRA, in SILVA, 2014, p.30-31).

A ancestralidade é um tesouro – Análise do livro Os tesouros de Monifa

A escritora Sonia Rosa nos brinda com mais uma preciosidade do mundo literário infantil. Os tesouros de Monifa conta a história de uma menina negra descendente de africanos. Sua tataravó Monifa veio da África num navio negreiro e perdeu todos os seus parentes e amigos durante a travessia do Atlântico. No Brasil, Monifa foi feita escrava e sofreu muito com a solidão e as crueldades de sua condição. O local exato de origem de Monifa não é contato no texto, apenas é revelado que, em sua terra, seu nome significa "eu tenho sorte”. A menina, personagem principal e narradora da história não possui um nome, mas isso não minimiza sua relevância na narrativa.

A menina segue contando a história de sua ancestral, dizendo que ela acumulou durante toda sua vida um “tesouro” muito especial que foi sendo passado de geração em geração, e que este agora estava guardado em sua casa dentro de uma caixa. O referido tesouro eram os diários escritos com muito esforço por sua tataravó africana. Nas palavras da narradora, Monifa foi esperta, pois “soube juntar e recolher pedaços de seu tempo para que a gente de hoje pudesse espiar um pouquinho do ontem... O encontro do passado com o presente tem embalado esse tesouro valioso da minha família.” (ROSA, 2009, p. 10). Voltando um pouco no significado no nome de Monifa, podemos dizer que a “sorte” está no fato de uma família negra conseguir manter os laços de afetividade e ancestralidade em meio a toda adversidade. A neta de Monifa já conhecia muitas das histórias contatas por sua mãe e sua avó, e afirma que através delas consegue se transportar para o além-mar e o além-tempo.

Era aniversário da menina e de acordo com a tradição ela receberia de presente a caixa contendo os diários de sua tataravó, segundo ela a melhor notícia que recebera em sua vida. O texto não precisa a idade da personagem, mas subentende-se que ela estaria entrando na adolescência. Ao receber a caixa, a emoção toma conta da menina e de sua família. A narração é muito detalhista e cuidadosa para descrever este momento tão importante que é o ápice da história:

Quando vi a enorme caixa na cama de minha mãe, fiquei impressionada! Nunca tinha visto uma coisa assim tão antiga. Com cuidado, toquei na caixa e comecei a fazer carinho nela... Ao mesmo tempo, comecei a pensar que, há muito, muito tempo, as mãos da minha tataravó africana pegaram naquela caixa, e os seus dedos, cansados de trabalhar em hora, escreveram aqueles tesouros... (ROSA, 2009, p. 14)
De repente foi me dando um aperto no coração... Joguei os braços por cima da caixa e a enlacei como num abraço. Era como se naquele momento eu abraçasse a minha tataravozinha e toda a sua gente... (ROSA, p. 17)

Antes de abrir a caixa, a mãe lhe entregou uma carta. Era uma carta escrita por Monifa, destinada a seus filhos e filhos de seus filhos. Na carta, a ancestral africana conta como foi difícil a vida num lugar estranho, com uma língua estranha e como seu povo sofreu com o processo da escravidão. Ela pede que seus descendentes nunca se esqueçam da luta do seu povo de origem, que valorizem suas raízes e que eles nunca percam seus sonhos e a esperança de um mundo melhor para todos, independente de cor e raça.

Entre os trechos mais marcantes da carta destacamos os seguintes: “Estar em contato com minhas raízes me fortalece e é também uma maneira de não me perder da minha história, isto é, não me perder de mim mesma” (ROSA, p. 20). Aqui podemos observar claramente a necessidade do povo negro, sobretudo os africanos escravizados, de se manterem próximos de suas raízes como uma forma de não perder a identidade, de consolar as dores e de manter viva uma outra vida que morreu dentro dos porões dos navios negreiros.

Em outro trecho observa-se a importância de se alfabetizar, de aprender a escrever e colocar no papel todo o sentimento aprisionado em suas almas. Na carta, Monifa fala como e onde aprendeu a escrever e diz que espera que seus descendentes também aprendam a ler e escrever. Para ela, a escrita é algo que cura, que salva da loucura e que deixa sementes para o futuro. “Escrever é uma maneira de se anunciar ao mundo e de se sentir mais gente. É também uma forma de não enlouquecer, de suportar... Por isso, esses escritos para mim valem mais do que ouro. Eles valem toda uma vida. Valem a minha vida!” (ROSA, p. 21).

É impossível não nos recordamos de Carolina Maria de Jesus e seus diários. Carolina também queria usar sua escrita para se anunciar ao mundo, mas, sobretudo, escrever era uma forma de desabafo, de se manter viva e lúcida ante os desafios da vida. A pesquisadora Susy Mara Pereyra, aponta que Carolina “valia-se da escrita como forma de enfrentamento para suportar as condições de miséria e abandono” (PEREYRA, 2018, p.7). Trilhando este mesmo caminho, Ana Rita Santiago afirma que Carolina “encontrou na escrita um meio de sobrevivência e resitência” (SANTIAGO, 2016, p.203). Sobre a importância da educação e do aprendizado da leitura e da escrita, assim como Monifa espera que os filhos e netos saibam ler e escrever, Carolina Maria também escreveu sobre as dificuldades que passou e o que esperava para o futuro: “Temos que preparar os nossos homens e não importa os homens preparados. Antigamente o homem para educar-se tinha que ir a Coimbra. Então educa-se uma minoria, quando é dever da pátria educar a maioria” (JESUS, 1994, p.191).

Ao final da carta, Monifa se despede e deixa uma mensagem de esperança e amor não só a seus familiares, mas também para todo o mundo:

Desejo que as minhas esperanças renovem as de vocês e que os meus sonhos se multipliquem junto aos seus... Desejo também que o amanhecer de cada dia seja uma possibilidade de um dia melhor para todas as pessoas que vivem neste mundo! Torço pela Paz e pelo Respeito entre os homens de todas as cores. Que os deuses os abençoem sempre!!! Monifa. (ROSA, p. 20-21)

Após ler a carta, a menina abriu a caixa e foi se deliciando com tudo o que havia nela. Além de alguns diários, tinham muitos versinhos anotados e ela chegou à conclusão de que sua tataravó era uma poetisa, e lamenta não tê-la conhecido. Ela diz que se pudesse, gostaria de enchê-la de beijos e se aninhar em colo.

Mais uma vez, o texto nos leva à Carolina Maria de Jesus, desta vez pelo processo similar dos escritos guardados em caixas. Assim como Carolina guardava seus cadernos, Monifa também guardava seus diários e seus pequenos pedaços de papel com versinhos e anotações do cotidiano. E, assim, em ambas as situações, as caixas nos remetem aos tradicionais baús, ou arcas que abrigam um tesouro, como nos remete os estudos de Sérgio Barcellos:

Não saberia dizer se as caixas onde Carolina guardou seus cadernos poderiam ser chamadas de baús ou de arcas, mas a plasticidade dessas palavras evoca aquilo a que elas se prestam. Longe de serem sepulturas de vestígios do passado, são recipientes de tesouros, protegendo-os e conservando-os – velando por eles. (BARCELLOS, 2014, p.112)

De repente chegam sua mãe e sua avó Abgail (só a avó e a tataravó são nomeadas na história) para prepararem o cabelo da menina para o aniversário. Elas iriam fazer tranças e enfeitar com elásticos coloridos (em As tranças de Bintou entenderemos melhor o significado das tranças para as meninas negras). Enquanto tinha o seu cabelo cuidadosamente arrumado, a menina pensava na honra que era ser a guardiã daquele tesouro e afirma ter feito uma descoberta: “Descobri que aquele tesouro não era só da minha família, era de todo o nosso povo, porque minha tataravó africana é um pouquinho avó de todos os brasileiros.” (ROSA, p. 29). Aqui, claramente, o texto faz uma referência da África como origem do povo brasileiro. A avó da menina é uma simbologia das heranças de matriz africana que geraram e conduziram a cultura brasileira até os dias de hoje.

Tradições que alimentam a vida – Notas sobre o livro As tranças de Bintou

O livro As tranças de Bintou foi escrito pela historiadora e ativista francesa Sylviane Anna Diouf. A autora nascida em Paris, sempre teve contato com a cultura africana através de seu pai senegalês, além disso, ela morou por um tempo em Senegal e no Gabão. Diouf é uma historiadora dedicada aos estudos da História e Cultura dos povos de origem africana.  Por trabalhar em Nova Iorque, o livro foi publicado primeiramente nos Estados Unidos e depois lançado na França. Somente alguns anos depois foi editada a versão brasileira da narrativa. Esta é a primeira obra de ficção da escritora, que até então se dedicava a textos ligados às temáticas da infância e do continente africano.

Bintou é a narradora da história. Assim como em Os tesouros de Monifa, a narração é feita por uma menina, que é também a personagem principal da narrativa. A narrativa retrata o sonho de uma menina negra africana chamada Bintou em ter seus cabelos trançados. O que já é apresentado logo na primeira frase do texto “Meu nome é Bintou e meu sonho é ter tranças” (DIOUF, não paginado).  Era um sonho recorrente. Bintou conta até como gostaria que suas tranças fossem enfeitadas “com pedras coloridas e conchinhas”. Ter os cabelos trançados, na cultura africana, é um atributo permitido somente às mulheres. De acordo com a narrativa, às crianças como Bintou é permitido apenas ter birotes, que são pequenos coques feitos no alto da cabeça (assim como também tinha a menina neta de Monifa). Fatou, a irmã mais velha de Bintou, usa tranças e consola a menina nos momentos em que tal fato a entristece. (Nesta narrativa, ao contrário da outra história analisada, a maioria dos personagens tem nome).

Era ocasião do batizado de seu irmão mais novo, e por isso a família recebeu a visita de vovó Soukeye. É através de sua avó, que Bintou recebe os ensinamentos das tradições de sua família. Na cultura africana, os mais velhos são os sábios, detentores de todo o conhecimento. De acordo com a personagem “os mais velhos sabem mais porque viveram mais, e por isso aprenderam mais” (DIOUF, não paginado). A avó da menina lhe explica que as tranças têm relação com a vaidade e com a beleza da mulher, portanto são coisas distantes ainda das crianças. Carinhosamente a avó lhe diz: “Querida Bintou, quando for mais velha, você terá bastante tempo para a vaidade e para mostrar a todos a bela mulher que será. Mas, agora, querida, você ainda é apenas uma criança. Poderá usar tranças no momento adequado.” (DIOUF, não paginado)

Para marcar a transição para a fase adulta, a menina tem um outro sonho, onde imagina ter dezesseis anos e já pode usar tranças no cabelo. Porém ao acordar, a menina se depara com a realidade dos birotes e se entristece novamente.

Chega o dia do batizado e todos se reúnem no jardim da casa de Bintou. O membro mais velho é o responsável por anunciar a chegada no novo integrante da família. Após um momento de reza, ele anuncia a todos que o nome da criança seria Abdou. Após a solenidade de apresentação, todos podem festejar e comer as comidas típidas da região, enumeradas pela menina narradora da história.

Durante a festa, Bintou observa de longe as mulheres da família e as amigas de sua mãe. Todas usam tranças perfumadas e decoradas. A menina sabe que os modos de manipular os cabelos fazem parte da história e da cultura de um povo e que ela deve respeitar o tempo e as tradições, mas, mesmo assim, volta a lamentar seus birotes. Para Nilma Lino Gomes (2011), o corpo se tornou ao longo da história um emblema étnico, manipulado de formas distintas entre os diferentes povos e suas culturas. Também é um símbolo explorado nas relações de poder e de dominação para classificar e hierarquizar grupos diferentes. O corpo é uma linguagem e o cabelo é uma de suas partes, utilizada muitas vezes, como veículo de comunicação, luta e resistência.

Bintou conhece uma amiga de sua irmã Mariama. A moça se chama Teresa e é brasileira, ela também usa longas tranças que chegam até a cintura. Bintou então pergunta se as garotas brasileiras usam tranças e Teresa responde que sim: “Muitas usam, e põem prendedores coloridos em cada uma”. Bintou então deduz “As brasileiras devem ser lindas...” (DIOUF, não paginado). Esta passagem da narrativa mostra como se diferem os aspectos culturais de um local para outro, principalmente quando, mesmo sendo negra e, provavelmente, de descendência africana, a moça brasileira não compartilha das mesmas tradições. Desta forma, é possível observar que a cultura de origem é ressignificada a partir de um deslocamento espacial e temporal. Isso só confirma a tese de que os elementos culturais se transformam na diáspora. Ou seja, no Brasil, é permitido que meninas, ainda bem pequenas, usem tranças e manipulem seus cabelos de acordo com seus gostos e preferências sem seguir nenhum elemento cultural, ritual ou tradição. Diferentemente do lugar onde Bintou mora:   

A questão do penteado na narrativa não está ligada apenas a um capricho de beleza, mas concentra uma dimensão simbólica e cultural. Sendo assim, é necessário pensar o corpo como algo produzido na e pela cultura e como marca identitária individual e coletiva. [...] a manipulação simbólica dos cabelos está presente na cultura de diversos povos. Dessa forma, as escolhas quanto aos cabelos (tamanho, corte, penteado, cor etc) podem ser entendidas também como uma dimensão política. No que diz respeito aos referenciais de africanidades, os cabelos estão ligados à ideia de força vital de cada indivíduo, conceito de extrema importância para muitos grupos sociais africanos. (OLIVEIRA, 2011, não paginado)

De acordo com a pesquisa realizada por Gomes (2008), o uso das tranças, mesmo sendo uma técnica que acompanha a história da população negra desde a África, teve seus usos e sentidos alterados no tempo e no espaço. Ela afirma que nas sociedades ocidentais algumas famílias utilizam as tranças, sobretudo nas crianças, para tentar romper com os estereótipos do “negro descabelado e sujo”. Na infância, as crianças brasileiras não costumam gostar de usar as tranças, porém na fase adulta há uma espécie de reconciliação com este penteado, inclusive as apresentando de uma forma mais estilizada.

Retornando à história de Bintou, a menina parece que terá seu sonho realizado, quando num feito heroico ela salva dois garotos que estavam se afogando na praia. Bintou, ao ver a cena, corre até alguns pescadores da região e pede ajuda. Os meninos são resgatados e a vila enaltece a sua atitude. Neste momento de alegria, a mãe de Bintou diz que lhe dará um prêmio e pergunta o que ela mais desejaria. Antes que a menina pudesse falar alguma coisa, sua irmã Fatou disse: “Ela sonha com tranças” (DIOUF, não paginado). A mãe então acaricia-lhe os cabelos, já com os birotes desmanchados pelo intrépido feito e lhe diz: “Então você terá suas tranças”. (DIOUF, não paginado)

Nesta noite, mais uma vez Bintou sonha com suas tranças e passarinhos se aninhando em seus cabelos. De manhã, sua avó lhe chama e começa a mexer em seu cabelo. A menina percebe que o penteado feito por vovó Soukeye não se trata das tão sonhadas tranças, mas sim de outros birotes. Sem coragem de se olhar no espelho, a menina reluta em abrir os olhos. Porém, ao abri-los e ver seu reflexo no espelho a menina tem uma linda surpresa: “É quando vejo pássaros amarelos e azuis em meu cabelo. Foi-se a menina sem graça com quatro birotes na cabeça. No espelho aparece uma garota com um lindo cabelo olhando para mim”. (DIOUF, não paginado)

Ao final da narrativa, a menina já não se entristece mais com seus birotes, já não acha mais seu cabelo feio e sem graça, e com muita alegria caminha pela sua vila afirmando: “Eu sou Bintou. Meu cabelo é negro e brilhante. Meu cabelo é macio e bonito. Eu sou a menina dos pássaros no cabelo. O sol me segue e eu sou muito feliz.” (DIOUF, 2010, não paginado). De acordo com Oliveira (2011) o desfecho é muito significativo, uma vez que, de acordo com o Dicionário de símbolos, os pássaros são uma imagem muito frequente na arte africana e simbolizam força e vida.

Podemos concluir que a narrativa de Diouf resgata a humanidade e a afetividade do povo africano, oferecendo ao público infantil uma pequena amostra desse Continente tão vasto e rico em ensinamentos. Oliveira (2011) ainda destaca que a

África é muito mais, é um mosaico de grupos sociais que se integram numa lógica diferente de diversos valores do mundo ocidental. Portanto, mostrar às crianças através da literatura a multiplicidade africana significa verdadeiramente trabalhar a cultura afro-brasileira em sua essência e não ratificar o estereótipo cunhado pelo cânone ocidental. (OLIVEIRA, 2011, não paginado)

Desse modo, a autora desconstrói as imagens cristalizadas no imaginário social ocidental de uma África como sendo um grande espaço desértico em que animais como leões e elefantes são mais importantes que os seres humanos.

Considerações finais

Em ambos os textos observamos a força e a importância feminina, seja na cultura africana ou na afro-brasileira. As mulheres exercem em suas famílias uma função de fio condutor de toda a sabedoria e são detentoras de um poder transformador incomum. É através das mulheres mais velhas, consideradas as mais sábias, que as personagens, ainda muito jovens, tomam consciência de mundo e aprendem a trilhar seu caminho. O processo de constituição do ser enquanto indivíduo crítico, as primeiras noções de identidade e o aspecto da afetividade são desenvolvidos, primordialmente pelas matriarcas. Na tradição africana, principalmente, a mulher é a fonte da vida. No Brasil de hoje, observamos cada vez mais as mulheres sendo chefes de família e criando seus filhos sozinhos. Muitas avós assumindo o papel das mães e encaminhando seus netos da melhor forma que podem.

No aspecto estético, vemos como, desde criança, a manipulação e a identificação com o cabelo são fatores muito importantes para as mulheres. Enquanto algumas buscam transformar suas fibras capilares para se encaixarem no mundo branco, onde o padrão estético de beleza pressupõe um cabelo liso, outras estão deixando a química de lado e assumindo suas raízes crespas em nome de uma identidade de matriz africana. Assumir o cabelo natural não é nada fácil, porém vai muito além de uma questão estética, o cabelo é uma forma de empoderamento e de resistência, sobretudo numa sociedade presa em rastros culturais europeus e constituída de muitos indivíduos preconceituosos e racistas.

A lição que fica ao final das leituras, é que, independente do caminho percorrido, ao final o que se busca é a felicidade e o contentamento consigo mesmo. Que saibamos encontrar os tesouros escondidos pelas caixas da nossa história e, a partir daí, passamos a exibir com orgulho o nosso corpo adornado com cores e pássaros, seguindo sempre a caminho do sol.

Referências

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* Texto publicado na Revista Crioula, da USP, n. 25, 2020.

** Cristiane Veloso de Araujo Pestana é Professora da rede pública de ensino de Juiz de Fora- MG, Especialista em Literatura e Cultura Afro-brasileira, Mestra e Doutoranda em Letras, Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Em seu projeto de Doutorado, pesquisa a representação das personagens negras na Literatura Infantil brasileira. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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