Narciso acha feio o que não é espelho

Sueli Meira Liebig 1

O mito de Narciso, surgido provavelmente da superstição grega segundo a qual contemplar a própria imagem prenunciava má sorte, possui um simbolismo que fez dela uma das mais duradouras da mitologia grega. Narciso era um herói do território de Téspia na Beócia, famoso pela sua beleza e orgulho. Era filho do deus Cefiso e da ninfa Liríope. No dia do seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura. ... Indiferente aos sentimentos alheios, Narciso desprezou o amor da ninfa Eco e seu egoísmo provocou o castigo dos deuses. Ao observar o reflexo de seu rosto nas águas de uma fonte, apaixonou-se pela própria imagem e ficou a contemplá-la até consumir-se. Na psiquiatria e particularmente na psicanálise, o termo narcisismo designa a condição mórbida do indivíduo que tem interesse exagerado pelo próprio corpo.

Parafraseando no meu título o verso da canção Sampa, sucesso de Caetano Veloso, pretendo mostrar como o mito de Narciso se encaixa como uma luva dentro do imaginário/ideário desejante e ao mesmo tempo imperativo da questão identitária na cosmogonia ocidental branca e cristã, tendo como pano de fundo o conto Espelho, do escritor afro-brasileiro Márcio Barbosa (1993), e os contos homônimos de Machado de Assis (1859) e Guimarães Rosa (1962).

Numa das estrofes da elegia de Veloso, cifra-se o pensamento hegemônico da cultura dominante:

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto o mau gosto, é que Narciso acha feio o que não é espelho... (1978) Para ocupar um espaço ou ter visibilidade na sociedade dominante burguesa,branca e capitalista, é preciso ascender socialmente e discutir a própria identidade em relação a uma imgem social e psicológica. A visão que o establishment tem do Outro é opaca. Encarando-o “frente a frente”, não consegue enxergar-se, reconhecer nele a sua própria imagem e semelhança.

Cria-se a partir daí uma fissura entre o ser e o ser o outro: a identidade que nega a alteridade permanece estagnada, transmuta-se em mera constatação de um mau gosto cuja origem deve ser investigada. Excluir o Outro leva a visão especular que desemboca no reducionismo: é impossível conceber o elemento humano fora da margem que o ligue ao seu Outro. Como argumenta Zilá Bernd,

 ...Trata-se, pois de apreender a identidade como uma entidade que se constrói simbolicamente no processo de sua determinação. A consciência de si toma a sua forma na tensão entre o olhar sobre si próprio – visão do espelho, incompleta, e o olhar do outro, ou o outro de si mesmo – visão complementar. (BERND, 1992, p.15)

A afirmativa de Bernd conduz a abstração de Todorov: A busca identitária, inevitável durante os períodos de crise, corre o risco de transmutar-se em etnocentrismo, isto é, em erigir em valores universais os valores próprios a sociedade a que pertenço. (TODOROV,1993, p. 21)

Pensando o Outro, o que não reflete a minha imagem no espelho, busco deslindar a suas raízes, tento entender onde se fixa o seu lócus de enunciação.Para Julia Kristeva,

Estranhamente, o estrangeiro habita em nós: ele é a face oculta da nossa identidade...; o estrangeiro começa quando surge a consciência da minha diferença e termina quando nos reconhecemos todos estrangeiros, rebeldes aos vínculos e as comunidades. (KRISTEVA, 1994, p.9) São muitas as cristalizações discursivas acerca da exegese da alteridade.

Tema instigante e ao mesmo tempo intrigante, ele se insere, semiologicamente, em todos os campos do conhecimento humano e notadamente na literatura, que abrange a todos ao mesmo tempo. No estudo dos três contos em pauta, o viés psicológico se sobressai: a teoria freudiana constitui-se em um diálogo constante com a literatura, paralelamente àquele estabelecido com os estudos da mente humana. A psicanálise, por sua vez, chega quase a se fazer produção literária, e sem dúvida imprimiu profundas marcas na literatura a partir do século XIX, ao pôr em relevo uma irreversível desestabilização do sujeito quanto a questão existencial. Ao tratar do mesmo tema – coincidentemente através da alegoria do espelho-, estes contos percorrem as tortuosas veredas da psique humana, como num deslizamento da errância do sujeito, apreendido num contraponto entre a tentativa de construção do seu ser marginalizado e a realidade do seu niilismo. Desconstruindo a metafísica ocidental, Jacques Derrida consegue, da mesma forma, trazer a psicanálise para a questão da escrita, reunindo nesse mesmo espaço os discursos filosófico e literário. Ao concluir que os lugares psíquicos se relacionam com as utilizações dos modelos de escrita, o teórico francês da Differance recorre a Freud para refletir sobre a escrita psicanalítica e a literária. Dessa forma, entre outras inferências, Derrida conclui que

Escrever é a afirmação da não-origem, da inscrição da diferença, da ausência, do suplemento e da morte. A jublilação pela conquista da palavra, participa do jogo entre prazer e dor, necessidade de manter, negando, o lugar de um Outro. (DERRIDA, 1971, p.179)

Existe, segundo Tânia Rivera (2003:48), uma relação estreita entre o espelho e a psicanálise, a qual Freud se refere como “narcisismo” e “identificação” e que Lacan rotula como “estádio do espelho”. Em contrapartida, os três contos aqui analisados lançam cada um a sua maneira, dúvidas sobre a fidedignidade da imagem especular, como mostrarei adiante.

Abrindo aqui um parêntese , devo observar que no Brasil o conto, como gênero literário, afirma-se particularmente com o advento do Romantismo. E, no Brasil como na Europa, a novidade relevante é neste século a descoberta da psicologia da personagem. Machado vive culturalmente todas as experiências intelectuais do seu tempo de transição de um Romantismo a um Realismo que, no Brasil como na Europa, caracteriza a segunda metade do século XIX. Eis então a crítica religiosa, o evolucionismo, o darwinismo, o naturalismo e o cientismo, em todas as suas possíveis valências, mobilizados em tirar das leis da experiência quotidiana uma poética, no seu caso, de tal maneira original que chegou a ser considerada “uma ilha” em relação ao novo como ao velho mundo. Uma ars scribendi peculiaríssima, que se rege no desenho das personagens, nas psicologias e numa série de pequenos acontecimentos requintadamente transfundidos na matéria literária. Tanto o homem quanto o escritor refugem do gesto trágico, elegíaco ou solene, assim como do tom enfático, possuindo assim o dom da medida e da discrição, a sua linguagem fluente e atenta, sem indulgências românticas nem ornamentações.

Apossada destas conceitualizações teóricas e inserções históricas, entrevejo no conto de Machado, a metáfora do “espelho” como uma forma de desmascaramento da sociedade e, mais especificamente, dos defensores do cientificismo positivista. Através da ironia “esse movimento ao canto da boca, cheio de mistério” (ASSIS:1959:114), o espelho acaba tendo a função que a máscara tivera na cultura popular, segundo o crítico russo Mikhail Bakhtin: ... a negação da coincidência estúpida consigo mesmo; a máscara é a expressão das transferências, das metamorfoses, das violações de fronteiras naturais, da ridicularizarão, dos apelidos. (FARACO, 1996)

O espelho machadiano, a primeira vista, expressa a crítica debochada que o autor faz a sociedade brasileira, provinciana embora que instruída, ao tentar copiar (espelhar) os modelos europeus. Sirvo-me aqui de um exemplo que demonstra a forma irônica com que Machado representa a classe burguesa brasileira e sua formação canhestra:

estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo. (ASSIS, 1984, p. 257)

Um olhar mais atento as suas entrelinhas, contudo, nos revela ranhuras psicológicas no personagem Jacobina que o levam a querer identificar-se, afirmar-se como ser humano. Entre quatro amigos, reunidos em uma casa do velho Rio, em pleno século XIX, encontra-se Jacobina, o quinto homem, que, por seu lado, recusa-se a entrar em torneios intelectuais, para os quais está evidentemente convidado nesse contexto. Instado a participar dos debates, Jacobina somente o aceita com a condição de não ser contraditado. Isto é, poderíamos dizer, de não haver resistências sobre o seu dizer, o que não deixa de ser uma espécie de olhar —sobre aquilo mesmo que conta— e especular, visto que, sem resistências (sem a interposição da imagem do outro em si mesmo) esse “olhar-dizer” acaba sendo de si para si. Jacobina parece pressentir que a imagem que o espelho guarda como real é vacilante e enganadora:

A realidade das leis físicas não permite negar que o espelho reproduziu- me textualmente, com os mesmos contornos e feições; assim devia ter sido. Mas tal não foi a minha sensação. (ASSIS, 1984, p. 269-70).

O tema do espelho, como imitação da vida, cuja origem encontra-se na Antigüidade, esteve sempre relacionado com o autoconhecimento. De fato, o espelho é um fenômeno cuja fascinação consiste em reproduzir, em duplicar os seres. Cada ser, diante do espelho, possui seu duplo, que o contempla, na medida em que é também contemplado. Este duplo é um outro ser, semelhante ao original, mas silencioso e mais misterioso. As imagens refletidas parecem oscilar entre dois pólos contrários: de um lado, o puro-falso semblante, a sombra vã, a ilusão da realidade; de outro, a aparição de um poder para além, de uma realidade incompreensível, mais forte que aquilo que o mundo oferece aos olhos. No primeiro caso, será o reflexo do mundo exterior? No segundo, será o do mundo interior? Este processo ante o espelho é essencial para descobrir a relação “eu/mundo”. Pois é diante do espelho, onde conhecemos os outros, e eles nos conhecem: no espelho cruzam-se os olhares. Estamos no reino da metafísica e da transcendência – o início dos dois contos o confirma.

Em palavras de Maria Lúcia Homem (2000). No enredo de Machado de Assis, cinco “investigadores de coisas metafísicas” ( 71) discutem ao longo da noite: trata-se de um debate de “questões de alta transcendência” (71). Inclusive o subtítulo do conto o reitera: “Esboço de uma nova teoria da alma humana”.

Acomeçar pelo título, tem-se a postura sutilmente corrosiva e implacável na representação dos desvios à norma ou da incapacidade de se estabelecer uma norma para uma sociedade estruturada em bases contraditórias. O enredo do conto é simples: um alferes da guarda nacional, ao visitar uma parenta no interior, percebe que, sem a farda, não consegue ver com nitidez sua imagem refletida no espelho.

No entanto, uma série de indeterminações enfumaçam a atmosfera do conto. A própria frase inicial instaura duas atmosferas, uma numérica e outra temporal: “Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transparência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos”. A indeterminação numérica é justificada pelo narrador em virtude do caráter silencioso de um dos personagens, como já observei. Outro aspecto que gera indefinição é que na cena inicial – os rapazes na sala – é interrompida com a inserção do relato do quinto participante, que vem a ser o alferes Jacobina. Ele começa a contar seu caso justamente “no meio da noite”, considerando a “inconsistência dos pareceres” dos amigos sobre a natureza da alma e sua opção por não discutir, mas por dar “a mais clara demonstração acerca da matéria de que se trata” (71).

Na tentativa de desvelar as entrelinhas destes textos, é preciso que se tenha uma visão panorâmica das tendências literárias que marcaram a entrada de Guimarães Rosa no cenário das letras nacionais. A partir dos anos 50, um fenômeno novo marcou a ficção brasileira: um conjunto de relatos centrados no mundo rural, mas distantes dos padrões convencionais de realismo, que se encontravam, por exemplo, no chamado romance de 30, designado como “nova narrativa épica brasileira”. São obras que fixam o “desaparecimento do interior caboclo-sertanejo, face o avanço vertiginoso da civilização racionalista, capitalista e urbana.” Alguns críticos referem-se a tais obras como integrantes de um ciclo de “realismo mágico”, devido a ocorrência de dois eventos extraordinários (e inverossímeis do ponto de vista do racionalismo urbano). Os personagens dos relatos vivem esses acontecimentos estranhos sem que isso os surpreenda. Ou seja, a sua consciência de mundo admite como real e natural o que julgamos inconcebível. O mais repesentativo dos autores do gênero é, sem dúvida, Guimarães Rosa. Dois escritores da categoria de Machado de Assis e de Guimarães Rosa escreveram, com quase um século de diferença, um conto de título idêntico: “O Espelho”. Espelho, antes de tudo diz respeito a olhar, ou mais ainda, de como nosso próprio olhar se cruza consigo próprio, voltando-se sobre si mesmo. Embora a narrativa e a abordagem de cada conto sejam distintas, podemos dizer que o tema em questão focaliza a mesma problemática e seus avatares: o sujeito dividido em busca de uma identidade. Poderíamos dizer que o que Machado recrimina na sociedade de seu tempo é o mesmo que o narrador de “O Espelho”, de Guimarães Rosa procura fazer consigo mesmo. Postado diante do espelho, o personagem de Rosa procura reeducar seu olhar, apagando as imagens do seu rosto, símbolo da sua diferença externa. A progressão desses exercícios lhe permitem, daí a algum tempo, conhecer sua fisionomia mais pura, a interior, que revela a imagem da sua essência.

Sendo assim, necessitava eu transverberar o embuço, a travisagem daquela máscara, a fito de devassar o núcleo daquela nebulosa – a minha vera forma. (ROSA, 1981, p. 68) Rosa afirma ser impossível mirar ao mesmo tempo o objeto e sua imagem refletida. Como ele assevera, no hiato entre uma olhada e outra, o tempo corre: O tempo é o mágico de todas as traições (63).

Dialogando com as obras destes dois clássicos da literatura nacional, o conto Expelho, do escritor afro-americano Márcio Barbosa, embora que tingido com as cores sombrias da opressão racial e seus corolários, também remete a questão da identidade, do ser aprisionado entre dois mundos, o uno e o diverso. No conto de Barbosa uma menina negra sente- se assim dividida. Sonha em ser modelo, mas o irmão logo a adverte de que não existem modelos pretas. Sempre que é acordada do seu sonho, a personagem de Barbosa corre ao espelho para ali enxergar a estonteante loura de azuis que a TV lhe ensinara a idolatrar como padrão de beleza.

Colara por sobre a lâmina refletora a foto da moça, para que ao tentar ver a sua própria imagem logo mergulhasse no devaneio de que possuía todos os requesitos para ser uma modelo. Como o Narciso da lenda, que se apaixona perdidamente pela sua própria figura até consumir-se, a heroína de Barbosa consome-se na tentativa de transferir para o espelho o seu alter ego, a garota cuja palidez aprendera a amar.

Nota-se mais uma vez a questão do espelho como personagem arteira e capciosa. Rivera asegura que a magia ou des-magia do expelo parte, no conto, de uma conjuração da visão (48). O próprio rosa adverte que “os olhos, por enquanto, são a porta do engano; divide deles, dos seus, não de mim” (p.65).

Ao ouvir da vizinha elogios sobre a sua beleza e graciosidade – não tem o cabelo tão ruim. O nariz é bonitinho... - (BARBOSA, 1993, p. 71). O narrador nos diz que a menina rí porque lhe parece ter sido elogiada, mas logo que se vê sozinha, como se reverberando as palavras de Rosa sobre o encantamento daquele lume trapaçeiro, ela corre até ele e, como confidencia o narrador, enfiou as unhas nos cristalinos olhos azuis, arrancou os louros cabelos que terminavam Numa franja, rasgou a boca com tanta força que chegou a doer. A imagen daquela mulher branca como a neve se fez em pedaços. E o seu prróprio rosto preto, luminoso, surcado por gotas que rolavam sobre suas faces, surgiu por alguns segundos no espelho. Ela mesma, logo emseguida estilhaçando-se, rompendo-se, transformando-se em cacos, caindo sobre o móvel. (p.72)

Segundo Tânia Rivera (49), o eu se vê como distinto do Outro mas pode, eventualmente, rever essa posição, sendo assaltado por uma “inquietante estranheza”, revelando uma multiplicidade inerente ao seu próprio funcionamento. A isto a psicanálise chama de “clivagem”, enquanto na literatura ela é conhecida como o “duplo”. Apoio-me na leitura que fiz do ensaio “O Femenino Corpo da Negrura” de Leda Maria Martins , para dalí tentar extrair a essência de clivagem ou de duplcidade: Capturado nessas miragens produzidas na e pela linguagem literária, esculpido como letra e forma na materialidade dos significantes textuais, o corpo da mulher negra, naturalmente narrado, torna-se uma concha de onde ecoam vozes narrtivas que tecem a personagem feminina a revelia de seu próprio desejo...Encobertas por esse véu simultáneamente narcísico e racialista, essas figurações habitam...ficções de exclusão que tendem a apagar a diferença. (MARTINS, 1996, p.112) O “apagamento da diferença” é solucionado de certa forma pelo

autor/narrador, através da quebra do espelho pela personagem. A alegoria da desmaterialização da figura clivada – ao mesmo tempo branca e negra – evidenciada no crescendo dos verbos “estilhaçar”, “romper”, “transformar” e por fim “cair”, desemboca no conceito freudiano de “ab-reação” . Segundo o psicanalista alemão, ele é o ato de expansão de experiências reprimidas, através da fala ou da ação, descarregando-se assim o indivíduo de suas influências inconscientes. A reação de uma pessoa ferida por um trauma se expressa em forma de vingança em diferentes nuances de significação, desde a autodefesa até a catarse emocional. (CUNHA:1978:1) Desta forma, a vingança da personagem contra a imagem dupla do espelho parece lhe restituir os predicados de que ela tanto necessita para transformar o seu sonho de ser modelo em realidade. O irmão lhe assegura que vai haver modelos negras na TV: _ Então vai ter você! (73).

O viés crítico adotado por Márcio Barbosa aponta para um futuro otimista da questão racial: O mundo nada pode quando queremos verdadeiramente alguma coisa! O que consegue destruir o desejo se ele é puro? (73). A virulência da discriminação racial em todos os quadrantes da terra, entretanto, aponta para uma indeterminação sobre a questão e parece dizer que ainda há uma longa trajetória a ser percorrida. Os textos aqui abordados referendam, portanto, três modos diferentes de abordagem do tema da identidade individual, que passeia entre a inclusão e a exclusão social e vagueia por certos paroxismos de insanidade sem, contudo atingir o final do caminho. E no meio dessa estrada sem fim, perdido entre incertezas e elucubrações , o ser humano marginalizado procura, desesperadamente pelo seu alter-ego, escondido quem sabe em algum lugar do tempo ou do espaço, entre o céu e a terra, talvez até imerso na profundezas da fonte de água cristalina onde o Narciso mítico vem mirar- se. Por enquanto, ele ainda continua submerso ou encantado. Do mesmo modo que a sociedade dominante, Narciso ainda se consome de paixão pela sua própria imagem; continua achando “feio o que não é espelho”.

Referências:

ASSIS, Machado de. “O Espelho”, Contos, São Paulo, Ed. Moderna, 1984 BARBOSA, Márcio. “ expelo” In: Cadernos Negros: Contos. 16, 1993.

BERND Zilá. Literatura Negra. In: JOBIM, José Luís. Ed. Rio de Janeiro: Imago, 1992.

CUNHA, Jurema Alcides. Org. e Trad. Diccionario de Termos de Psicanálise de Freud. Porto Alegre: Ed. Globo, 1978.

DERRIDA, Jacques. Des Tours de Babel. In: GRAHAN, Joseph. Ed. Difference in Translation. London: Cornell, 1971.

FARACO, Carlos Alberto et Alii. Org. Diálogos com Bakhtin. Curitiba: Ed da UFPR,1996.

HOMEM, Maria Lúcia. “Reflexos de Espelhos”, in Estados Gerais de Psicoanálise de São Paulo. Sorbone: Paris, 2000.

KRISTEVA, Júlia. Estrangeiros Para Nós Mesmos Tr. Aria CarlotaCarvalho Gomes. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

MARTINS, Leda Maria. A Cena em Sombras. São Paulo: Perspectiva, 1995.

RIVERA, Tânia. “O Outro ou o Outro: Guimarâes Rosa e a Transferencia”. In: Psyché.ol. 7, n.,12, São Paulo: Universidade São Marcos, 2003.

_____ Guimarães Rosa e a Psicanálise: Ensayos sobre Imagen e Escrita. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Ed., 2005.

ROSA, Guimarães. “O Espelho”, Primeiras Estórias, Rio de Janeiro, Liv. José Olympio Ed., 1981.

TODOROV. Tzvetan . Nós e os Outros. Vol. 1. Tr. Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.

VELOSO, Caetano. Sampa. In: Muito Dentro da Estrela Azulada. Phonogram, 1978. 6349382 .

1 Doutora em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais/Universidade da Georgia em Athens, EUA (2002), na área de Literatura Comparada; Mestrado em Literatura Anglo- americana pela UFPB (1992) e especialização em Língua Inglesa pela FURNe (1980). Professora aposentada da UFPB desde 2005. Atualmente é professora do quadro efetivo da Universidade Estadual da Paraíba. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Comparada , literatura norte-americana, literatura inglesa e literatura afro-brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: letras, literaturas de língua inglesa, alteridade, estudos interculturais, literatura afro- brasileira literatura afro-americana e estudos semióticos.

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