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Resenhas de O
LIVRO DE ZENÓBIA,
de Maria Esther
Maciel Sérgio Medeiros/Dirce Waltrick do
Amarante
__________________________________________
Belo Horizonte,
05/06/2004 Indagação existencial
Carlos Herculano Lopes Escritora experimentada em
livros, como Dos Haveres do Corpo , com o qual fez sua estréia na
poesia em 1985, e com os ensaios As
vertigens da lucidez: poesia e crítica em Octávio Paz , de 1995,
e A Lição do Fogo , de 1998, entre outros, Maria
Esther Maciel vem construindo uma obra sólida, com a qual tem
conquistado o respeito dos seus leitores e da crítica especializada. Nascida
em Patos de Minas, mas vivendo em Belo Horizonte há muitos anos, onde é
professora de Teoria da Literatura na UFMG, se faltava a ela escrever ficção,
essa lacuna foi plenamente preenchida agora, com o esperado lançamento de O
Livro de Zenóbia , que há muito tempo ela vinha escrevendo. Mas
que estranho livro é este, cujo gênero nem a própria autora, quando indagada,
consegue definir qual é? "Tentei misturar em um
mesmo texto poesia, prosa e aforismo”, confessa a escritora, que, dando vida
a uma fascinante personagem de nome Zenóbia, ao redor da qual giram todas as
tramas e histórias deste belo livro, construiu uma prosa de primeira, digna
de figurar entre o que de melhor está sendo escrito hoje no País. Com textos
curtos e carregados de emoção, nos quais as palavras se encaixam na medida
certa, Maria Esther Maciel, com um olhar às vezes perplexo, às vezes curioso,
vai aos poucos - neste que talvez possa ser chamado de um romance em
movimento, ou até mesmo desmontável - Ievando os seus leitores a tentar
encontrar as chaves desse intrincado universo, que com maestria ela conseguiu
construir. Cabe a cada um de nós, se é que isto seja possível, tentar
desvendá-lo, ou pelo menos chegar até suas portas. Mas não será tarefa
fácil. Ou como disse o escritor e crítico Nelson de Oliveira: "Ah,
Zenóbia, Zenóbia. Tua delicadeza no manuseio da nossa vã filosofia move
prédios e comove montanhas. Tenho medo de que você faça com os ossos dos seus
leitores o mesmo que fez com os meus." Mas vale a pena correr o risco,
já que deste Livro de Zenóbia ninguém, com certeza, sairá impune. FOLHA DE SÃO PAULO
Ilustrada, 10/07/2004 RODAPÉ Um reencantamento do mundoMANUEL DA COSTA PINTO "Cada coleção é um teatro da memória, uma
dramatização e uma "mise-en-scène" de passados pessoais e
coletivos, de uma infância relembrada e da lembrança após a morte. Ela
garante a presença dessas lembranças por meio dos objetos que as evocam. É
mais do que uma presença simbólica: é uma transubstanciação." O Livro de Zenóbia Jornal do Brasil / Data:7/8/2004 Romance? Diário? Ou bela colcha de retalhos?
Marcelo Moutinho Zenóbia gosta de flores e
plantas de raízes drásticas, de peixes perplexos, receitas criativas, cidades
raras, palavras inventadas. Zenóbia tem filhos e se lembra dos que nem
nasceram. Adora suas tias, amigas, ex-namorados - um deles, Belmiro,
"queria todas as dores que não sentia para sobre elas escrever poemas
tristes". Em companhia da mãe, Zenóbia plana em vôos implícitos, dividindo
duas "quase-solidões". Mas a fascinante personagem criada pela
poeta e ensaísta Maria
Esther Maciel não se dá a conhecer no todo; apenas por meio de
anotações, aforismos, pequenos comentários, listas pessoais. Como definir O
livro de Zenóbia? Diário? Caderno de registros? Álbum de família?
Conjunto de recortes? Tarefa vã. Melhor sorvê-lo. A narrativa elaborada por
Maria Esther Maciel não se inscreve no convencional dispositivo da
representação, não anseia por verossimilhança, como destaca Lúcia
Castello Branco no posfácio. Insere-se, sim, na perspectiva do
romance pós-moderno, com suas ramificações, sua não-linearidade, suas
microabordagens, sua fluidez permanente, seus jogos de montar, expedientes
que vêm sendo trabalhados com maior ou menor talento por relevante parcela do
que se pode denominar hoje de "nova literatura brasileira". Oblíqua, como quis Clarice
Lispector, é a vida de Zenóbia, esta filha de Zeus e da memória,
cujos rabiscos marcam o "desencontro leve entre as coisas (...) e entre
seres que se perdem uns aos outros, entre palavras que quase não dizem mais
nada". Assim como em Água
Viva, romance citado na epígrafe, esse "leve
desencontro" é, para ela, "a única forma de suportar a vida em
cheio". A escritura de Clarice, aliás,
permeia toda a obra, que contém ecos também de autores como Manoel
de Barros e Italo
Calvino - este, principalmente se lembramos da estrutura de As
cidades invisíveis. Pois O livro de Zenóbia (novela?
romance? coletânea de contos?) assemelha-se a uma colcha de retalhos urdida
por partos e mortes sucessivas, aromas e súbitas iluminações, flores e
pessoas, a quem observa e com quem convive no decorrer de toda a existência,
e que no livro ganham uma segunda voz, a da narradora. É esta quem, por
vezes, confessa que a obsessiva busca pela "palavra" capaz de
exprimir torna-se infrutífera: "Era para ter aprendido que a imperfeição
é nossa porção de paraíso possível e que há sempre um poema que não chega à
palavra, por mais que delire", sublinha em certa passagem. A
"palavra" que aqui falta é capaz, contudo, de ajudar a purgar o
horror da imagem do corpo já decomposto do pai. "Não, ela não deseja
dizer que aquele que ora foi um corpo agora é um cadáver que já não se dá a
ver senão com palavra", e então escreve metáforas "para velar a
realidade das larvas, os reveses das vísceras e das cartilagens. Falsas
paisagens da alma, do nada inumerável". A paixão pela
"palavra" não se refere meramente ao aspecto poético que esta possa
encerrar. Longe disso. Zenóbia interessa-se por plantas de "climas
ríspidos" e nomes científicos - Alpinia sesilis, Ascanea sativa, Rosa
canina -, que cultiva. As belas ilustrações de Elvira Vigna, baseadas em
desenhos de plantas americanas feitos por botânicos ingleses do século 17,
captam bem o traço exótico que o olhar deles lhes dispensou. E espelham um
estranhamento que é também de Zenóbia. Ela se vê atraída pelo
"esquisito", pelo "difícil", assinala a narradora. Seu
gato, por exemplo, chamava-se Finnicius. Os (inusuais?) apreços da personagem
aparecem listados no fim do livro, ao lado de seus contos, de suas cidades
preferidas e de seus livros de cabeceira - entre eles, não por acaso, três de
Clarice: A
paixão segundo G.H., Laços
de família e o já citado Água viva. Também estão no
romance suas receitas culinárias - salada de melancia com hortelã e queijo de
cabra, sopa de cenoura com maçã ao açafrão, pamonha com erva-doce -, listas
de temperos, ervas de cheiro e aves raras, notas biográficas sobre a
protagonista e até mesmo uma breve fortuna crítica a respeito do próprio
livro. Foi com as aves migratórias, aliás,
que Zenóbia aprendeu a "inventar seu espaço" particular. Se espaço
não há, ela o imagina; assim como se não há palavra, ela a cria, sempre
liricamente. Pois "é a lírica, e não a crônica, que define seu pacto com
a vida e o sonho" - substantivos cujas fronteiras no livro mostram-se
quase invisíveis -, embora o "trágico constitua seu pathos, seu idioma
subterrâneo". "Não é na dor que reluz o mundano?", indaga a
narradora. Talvez, sim. E possivelmente dela Zenóbia retire sua delicadeza
tão pouco óbvia, crendo firme e serenamente, como intuiu no funeral de um
amigo, que "toda perda oculta uma controversa beleza". ___________________________________________ DIÁRIO CATARINENSE caderno de cultura
- Florianópolis, 07 de agosto de 2004. Uma coleção de cidades raras
FABRÍCIO CARPINEJAR/ Jornalista
e poeta, autor de Cinco Marias e Caixa de Sapatos, entre outros livros Maria Esther
Maciel lança O Livro de Zenóbia, pequena ficção sobre a delicadeza de guardar
a memória familiar Guardar é diferente de
esconder, consiste em proteger e zelar um bem da corrosão temporal para
melhor partilhar. Esconder já acentua um egoísmo, a recusa de disponibilizar
algo ao mundo. O Livro de Zenóbia (Lamparina, 157 páginas), estréia na ficção
da poeta e ensaísta mineira Maria Esther Maciel, guarda, emoldurando recortes
e depoimentos de uma vida. Uma vida mais dada para fora do que para dentro da
escrita. Uma vida mais falada do que letra, mais ouvido do que boca, mais
feita do que se ouviu do que aquilo que teria acontecido. Em breves
capítulos, a fábula retrata o percurso de Zenóbia, personagem nascida na
Fazenda Palmyra, em Patos de Minas (MG), em 1922. Bióloga de profissão e
escritora nas horas vagas, teria legado contos, poemas e romances inéditos,
conforme revela uma nota ao final da obra. Os dados objetivos também pouco
acrescentam. O que a autora faz é iluminar e não explicar. São assobios
litúrgicos a mostrar os interesses, as manias, as crenças de uma mulher
recolhida em seu interior e na família. Não tem nada de assombroso, nenhuma
briga, ação ou crise. O enredo poderia ser resumido simplesmente como a
narração do que se passa no estômago, no coração e no pulmão de um corpo
feminino. Fica-se em contato com os pesadelos, lembranças inacabadas, sensações,
com o refinado artesanato de sua sensibilidade. E é a falta de acontecimento
que gera uma tensão misteriosa, uma hesitação, com a cesura mágica dos
parágrafos, tal segredo se revelando aos poucos. Prevalece um encantamento do
círculo corriqueiro, de permitir o mundo correr sem interferir no curso.
"O esquecimento é
mesmo o único perdão? - perguntou Zenóbia à sua mãe, quando esta lhe contou o
caso triste de uma irmã. Era sempre assim nessas manhãs possíveis: as duas
falavam dos abismos da casa e dos senões do dia, sem resíduos de aflição. Ou
cogitavam sobre as coisas que lhe poderiam advir a qualquer hora, ou não.
Eram seus instantes de afinidade sem dissídio, de afeto sem ficção. Cada uma
com seu vôo implícito, sua quase solidão." _______________________________________________
Claudio
Daniel
O Livro de Zenóbia, de
Maria Esther Maciel, é uma obra insólita que escapa às classificações
habituais da crítica literária. Romance, novela ou prosa poética, esta
estranha narrativa se desenvolve de maneira não-linear, como as seqüências
melódicas de uma peça de jazz, ou como a combinação imprevista de nuances
numa pintura. A saga doméstica de Zenóbia é contada a partir de mínimas
recordações, que formam uma espécie de colcha de retalhos, iludindo o leitor
com sua aparente simplicidade. Somos apresentados a sua família, seus livros,
flores e receitas favoritas, a seus pensamentos e emoções, em pequenos
capítulos ou fragmentos que nada têm em comum com as técnicas de construção
do realismo. As imagens são recortadas, objetos de uso comum são associados a
emoções ou estados de espírito, em linhas concisas, de alta precisão e beleza
plástica (como, por exemplo, nesta passagem: “Foi em novembro que ele soube
que iria morrer em poucos anos. Mas durou apenas até o primeiro outono,
deixando para Zenóbia um ramo de folhas secas, um anjo indeciso de gesso e um
livro laranja, quase vermelho”). Os movimentos são raros neste filme mental
que recorda, por vezes, a delicadeza expressiva de obras do cinema asiático,
como O cheiro da papaya verde, do
diretor tailandês Tran Anh Hung.
Não há uma história linear a ser contada, com início, meio e fim;
existe apenas o riocorrente fluindo, multiplicado em incontáveis episódios
fractais. O tempo ficcional não evolui em linha
reta, mas se expande em espiral, com avanços e recuos que recordam flashbacks; o espaço é o branco da
página, povoado por palavras que fundam seus próprios territórios verbais,
reinados do cetro poético. Cativando o leitor por sua capacidade de
metamorfose, o Livro de Zenóbia vai aos poucos se revelando
como aquilo que não é: nem romance social, nem psicológico, nem diário
sentimental ou confissão, mas uma possível metáfora da literatura como a arte
da representação do imaginário, criação de mundos verbais com sua própria
lógica de espanto, com sua íntima crueldade, seu lirismo e seu discreto
humor. Ao mesmo tempo, o livro de Maria Esther Maciel sinaliza a crise dos
gêneros estanques e aponta para o diálogo com outras formas artísticas, e em
especial com o cinema (a autora tem se dedicado ao tema, publicando notáveis
estudos sobre o inglês Peter Greenaway, diretor de O Livro de Cabeceira). Essa arte refinada de fabulação abre novos
caminhos criativos para a autora (que publicou o volume de poemas Triz e coletâneas de ensaios) e vem se
somar ao reduzido elenco de prosadores que cultivam a alquimia do verbo, o meticuloso arranjo de mandalas verbais
(autores como Wilson Bueno, Evandro Ferreira e agora Maria Esther Maciel).
Este lançamento da Lamparina Editora é assim muito oportuno, pois coloca em
circulação um livro que merece ser lido com o coração e o cérebro. Claudio Daniel, poeta, tradutor e ensaísta, publicou o livro de
poemas A Sombra do Leopardo
(Azougue, 2001), entre outros títulos. É um dos editores de Zunái, Revista de Poesia e Debates (www.officinadopensamento.com.br/zunai).
______________________________________________ Belo Horizonte, MG, Quinta-Feira 24/06/2004 Coluna
de Ricardo Teixeira de Salles
Pois
bem! Zenóbia nos fala inicialmente de suas idades. Todas idades da brandura
no desencadear do tempo. Todas, também, marcando fortemente de lirismo e
candura sua existência. Ah, os olhos 'ilágrimes de Zenóbia'! Ela nos devolve
a alegria da festa da linguagem, frente a um mundo desencantado pela ação
predatória do homem contra a ordem social. Zenóbia nos redime da violência
implacável e cruel que se instalou ostensivamente, nas grandes cidades
brasileiras. A palavra absoluta é aquela que se identifica com a intenção do
amor ao próximo. Esta é a palavra de Zenóbia, com sua profunda dicção
poética: 'Ele era desses que queriam tornar possíveis no agora todas as
quimeras'. O que nos propicia, do princípio ao fim da leitura, nesse livro de
prosa, uma grande emoção resultante da sensibilidade de sua construção
poética, como traço marcante do sujeito humano.
Diante
desse livro é mister assumirmos muita humildade para escutarmos (lermos)
Zenóbia, pois assim estaremos agindo em favor de nós mesmos, para o
enfrentamento e superação de nossas desavenças. Em favor de nossos obtusos
desencontros, principalmente com a gente mesmo: nossas tantas mortes,
desvendadas por Zenóbia, pelo cantar de um pequeno-grande instante e que são
as nossas vidas. As vidas em que tantas vezes morremos, para muito mais vezes
renascermos. E, finalmente, podermos descobrir que 'toda perda oculta uma
controversa beleza' e, dela, nos fortalecermos, para a empreitada dos
caminhos. As palavras são claridades, sim, para nos iluminar de paixão.
Especialmente pela vida. Nossa e a dos outros. Sem que isto implique em
'nenhum desatino em seu olhar', dela Zenóbia, ou nosso, do leitor. Afinal,
(...) 'qual o bem que não se pode esperar do destino?', nos ensina essa
incrível heroína da simplicidade e pureza. Forçoso, ainda, transcrever as palavras do
professor da UERJ, e também psicanalista, Joel Birman, em recente ensaio
sobre o livro do citado Calasso: ' ... a linguagem agora remete apenas para
si mesma de maneira infinita, entreabrindo-se e sendo direcionada pela
musicalidade das palavras a partir das sílabas, as temáticas da literatura
absoluta ecoam pelas frestas da escrita, evocando traços que são tecidos
pelos acordes dos sentidos oferecidos generosamente pela linguagem'. ___________________________________________ DIÁRIO CATARINENSE Escritora
mineira Maria Esther Maciel explora os inventários do mundo em dois novos
livros SÉRGIO MEDEIROS E DIRCE
WALTRICK DO AMARANTE * A ensaísta e prosadora Maria Esther Maciel lançou recentemente, pela
Editora Lamparina, do Rio de Janeiro, dois novos livros que revelam a inquietação
e a consistência do seu trabalho nas duas áreas de sua atuação. Em A Memória
das Coisas (154 páginas), cujo subtítulo é Ensaios de literatura, cinema e
artes plásticas, constatamos, já no primeiro ensaio, o que dá título ao
volume, uma amostra do evidente prazer de enumerar que certamente é uma das
marcas registradas desses textos - "Buscava sua matéria-prima no
cotidiano mais imediato, nos redutos marginalizados da pobreza, no agora de
sua própria experiência: sapatos, canecas, pentes, garrafas, latas,
ferramentas, talheres, embalagens de produtos descartáveis, papelão,
cobertores puídos, madeira arrancada das caixas de feira e dos cabos de
vassouras, linha desfiada dos uniformes dos internos, botões, estatuetas de
santos, brinquedos, enfim, tudo o que a sociedade jogou fora, tudo o que
perdeu, esqueceu ou desprezou." O trecho citado refere-se ao artista
sergipano Arthur Bispo do Rosário, que viveu quase meio século de sua vida
internado num hospital psiquiátrico e que nos legou obras construídas com objetos
do cotidiano, fazendo um cuidadoso registro de sua passagem pela terra,
segundo o próprio artista. Cinco perguntas para Maria Esther Maciel: Pergunta - Você publicou recentemente dois
livros: um de ensaios, A Memória das Coisas, e outro de ficção, O Livro de
Zenóbia. No primeiro, você discute alguns nomes centrais da modernidade e da
pós-modernidade, como Jorge Luis Borges, Carlos Drummond de Andrade, Haroldo
de Campos e Peter Greenaway; no segundo, você mergulha no universo, por assim
dizer, neo-regional, marginal, de uma personagem que optou pela periferia.
Como você explicaria essas duas tendências aparentemente opostas? * __________________________________________ PENSAR – Correio Braziliense (31/07/2004) / Estado de Minas (07/08/2004) Professora
de literatura da UFMG, escritora e especialista na obra de Peter Greenaway,
Maria Esther Maciel lança livros de ficção e ensaios SÉRGIO
DE SÁ Zenóbia não é personagem do
filme Alta
Fidelidade mas adora listas. De
"peixes perplexos", de "cidades raras", de "ervas
daninhas", de "livros de cabeceira". A criadora de Zenóbia, Maria
Esther Maciel, garante não ser muito boa em ordenar
coisas. "Listas são limitadas, excludentes e
insuficientes". Ainda assim, arrisca dizer que os cinco artistas que
mais admira são Leonardo da Vinci, Vermeer,
Arthur Bispo do Rosário, Peter Greenaway e Keith Jarrett. Mas poderiam ser também Paul Klee, J.S. Bach,
M.C. Escher, Lygia Clark e Élida Tessler. Isso, sem
incluir os escritores. É bem provável que Greenaway
ficasse em primeiro lugar numa classificação
imaginária. Do contrário, Maria Esther não teria feito
pós-doutorado em Londres sobre o diretor de A Barriga do Arquiteto e O
Livro de Cabeceira. Do contrário,
também não teria organizado livro de textos sobre o
cineasta, O
Cinema Enciclopédico de Peter Greenaway,
e tampouco teria dedicado vários ensaios a ele em
A Memória das
Coisas, ambos publicados há pouco. Além desses dois títulos, a
lista das obras de Maria Esther Maciel, professora da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e poeta de
mão-cheia, acaba de ganhar a prosa tão enxuta quanto
impactante de O Livro de Zenóbia, aquela que
gosta de elencar esquisitices. Sobre ela, sobre saberes
múltiplos e, em especial, sobre Greenaway, gira o papo que
se lê a seguir. Três livros de uma tacada.
Organização, ficção, ensaística. E a inevitável visibilidade midiática. É
muita coisa de uma vez só para uma mineira? Maria Esther Maciel – Dizem que os mineiros trabalham em surdina. Vim elaborando esses
livros ao longo dos últimos três anos, sem alarde. O
primeiro a ficar pronto foi O Cinema Enciclopédico de
Peter Greenaway, que permaneceu na editora por mais
de um ano. Fechei A Memória das Coisas em agosto do ano passado, e O
Livro de Zenóbia, iniciado há dois anos, só
ganhou impulso a partir de janeiro. Por
coincidência, os três saíram simultaneamente, o que deu margem para se pensar
que preparei os três de uma vez só,
em ritmo voraz. Mas, não. Foi tudo construído aos
poucos, de acordo com as demandas internas e externas.
Se, por um lado, publicar os três juntos trouxe um certo
desconforto, por outro, creio que isso acabou por ser
interessante, pois acho que um livro completa, de certa
forma, o outro. Eles compõem uma tríade coerente com as
minhas inquietações dos últimos anos. Sei que agora
entrarei em um momento de elaboração silenciosa do que
possivelmente virá (ou não) nos próximos anos. Zenóbia parece personagem de um
romance clássico. Tem força descomunal, mas é
apresentada ao leitor em fragmentos. A diluição do
narrador é proposital? MEM – Sempre considerei que o maior
desafio para um escritor que se aventura na
escrita de um romance é construir suas personagens, dar
a elas não apenas um nome, um rosto, uma identidade
civil, mas também uma vida que, por mais ficcional
que seja, possa trazer uma espécie de realidade
intrínseca. Os autores clássicos se esmeraram nesse trabalho e
chegaram a criar personagens maiores do que a própria trama
que as envolve. Isso sempre me fascinou. Por
outro lado, não sou muito afeita ao modelo realista
de narrativa, pautado nos princípios da sucessividade
temporal. Eu queria construir uma personagem
convincente, mas que fosse sendo constituída através de
traços, reminiscências, imagens, sensações do narrador e
de outras personagens. Zenóbia, ao contrário das
personagens clássicas, não se apresenta inteira, completa,
bastante: ela vai surgindo aos fragmentos, no ritmo
esgarçado da memória dos que conviveram com ela, dos
que souberam (ou imaginaram) algo de sua vida. Se
tem alguma força, ela se deve à soma de seus gestos,
pensamentos, palavras, atitudes, desejos. Seu cotidiano
é feito de miudezas, de coisas banais. E ela busca
extrair disso pequenas epifanias e assombros. Há uma clara vontade de
recuperação de lirismo, não? Como se a realidade estivesse esgotada
em vários sentidos, principalmente como norte da literatura brasileira... MEM - Ando meio cansada do realismo
exacerbado que tomou conta da literatura
brasileira contemporânea. E avessa ao formalismo asséptico,
desvitalizado, que ainda predomina em boa parte da poesia
que se faz hoje no Brasil. Em O Livro de Zenóbia
tentei, sim, recuperar um certo lirismo, mas que não
exclui, necessariamente, o traço irônico, a dimensão
trágica e o humor sutil. Tendo cada vez mais ao exercício de
uma escrita livre de coerções temáticas e formais, busco me
desvencilhar da tirania da metalinguagem e da
intertextualidade explícita - práticas já exauridas,
debilitadas - e buscar outras possibilidades estéticas para o
meu trabalho. Abrir-me às impurezas da experiência, à
força do trágico e ao êxtase do sublime. Não renegar o
prosaico nem sucumbir ao realismo. Apostar na
delicadeza como um antídoto contra a truculência do mundo,
da realidade. Jorge Luis Borges é de fato a
melhor conexão da literatura com o cinema de Peter Greenaway? MEM – Costumo dizer que, para quem
assiste a um filme como O Cozinheiro, o Ladrão,
sua Mulher e o Amante, ou O Livro de Cabeceira,
sem um prévio conhecimento de outros trabalhos de Peter
Greenaway, é quase impossível aceitar uma associação entre ele
e Borges. Onde estariam, no escritor argentino,
a escatologia, o erotismo explícito, o transbordamento
barroco, o delírio visual? Mas se atentarmos para certas
estratégias ficcionais desses e outros filmes de
Greenaway, veremos que as afinidades são muitas: o
apreço pelos embustes autorais (sobretudo nos
pseudodocumentários do diretor), o olhar enciclopédico sobre o
mundo, o exercício das taxonomias insólitas, o gosto pelo
artifício e pelas simetrias, a profusão de referências
eruditas, a concepção do universo como uma biblioteca de
babel. Talvez o filme de Greenaway mais borgiano seja A
Última Tempestade. Trato disso com detalhes em um
dos ensaios do livro A Memória das Coisas. Mas além de Borges, outros escritores são referências
importantes para o cinema greenawayno, como James Joyce,
Lewis Carroll, Italo Calvino, Georges Perec, Dante e
Shakespeare. Mas menos sob a perspectiva dos temas e
dos enredos do que sob a perspectiva da linguagem e dos
procedimentos poéticos e ficcionais. O que você diria para convencer
alguém de que vale a pena ver e conhecer Greenaway? MEM – Greenaway é um dos poucos
cineastas contemporâneos que ainda ousam na
experimentação de novas formas e linguagens, sem que
isso signifique uma recusa do passado. Ele leva o
cinema a transbordar de seus próprios limites, a
expandir-se para além da tela. Sua erudição criativa
possibilita-lhe trazer para um mesmo topos o legado cultural de
diferentes tradições – entre elas, a do renascimento e a do barrroco
–, as experimentações da vanguarda, as inovações
tecnológicas e as referências culturais do
presente. Transita, com desenvoltura, em vários campos do saber, sejam
eles os da literatura e das artes em geral, sejam os
da culinária, da arquitetura, da moda, da
zoologia e da anatomia. E não se furta a explorar o estranho,
o escatológico e o insólito. Além disso, não faz concessões
aos imperativos da indústria cinematográfica e assume uma
postura extremamente irônica perante o culto
contemporâneo do chamado "politicamente
correto". É ainda um crítico dos sistemas de organização e classificação
do mundo e do conhecimento. Um artista completo, que
reedita, no contexto do século XXI, a intrigante e
instigante figura do artista/ intelectual transdisciplinar, de
feição renascentista. O intelectual não pode mais
ficar parado no mundo contemporâneo? MEM – Vivemos, hoje, sob o signo da
multiplicidade, da confluência entre as artes e os
campos disciplinares. Cabe ao intelectual contemporâneo
estar atento a isso. A especialização e a fixidez do
conhecimento já não condizem com as demandas do nosso tempo.
O movimento, o trânsito, a abertura à
alteridade são as linhas de força que nos definem. Greenaway é
diretor de ópera, escritor, pintor, curador. De alguma maneira,
ele reedita essa figura do artista
renascentista. Algo que tem a ver também com a idéia de Arte
Total, de Wagner. Ele tenta reconstituir essa figura para
mostrar que o cinema tem que se abrir para essas outras
linguagens, que as artes e os campos de saber estão aí
também para serem mesclados, conjugados. Além disso, aposta
na idéia de que uma das formas de se revitalizar
o cinema é buscar os recursos que as outras artes
podem oferecer. Qual filme dele é seu preferido
e por quê? MEM – É difícil dizer qual é o meu
preferido. Talvez seja O Livro de Cabeceira, por ser o mais poético. Nele,
erotismo e escrita se entrelaçam de forma
magnífica. A tela se transforma em várias ao mesmo
tempo, graças aos inventivos experimentos tecnológicos usados
ao longo de todo o filme. Sucessão e
simultaneidade se mesclam na narrativa. E o mais interessante
é que a obra literária que lhe serve de referência não é um
livro com trama e enredo, mas o diário de uma poeta
japonesa do século X, Sei Shonagon, cheio de listas e
apontamentos sobre coisas da natureza e trivialidades da
corte. Greenaway inventa um enredo para o filme e busca
no livro de Shonagon a atmosfera, a linguagem, as
listas e as imagens. Compõe um filme de grande poder de
sedução visual, que inverte os procedimentos tradicionais da
adaptação. Greenaway é um escritor legível? MEM – Por incrível que pareça, não é
um escritor barroco ou experimental. Seus textos são
límpidos e escorreitos. A maioria é de narrativas
curtas, que trazem histórias prosaicas, mas o tempo
todo assaltadas pelo insólito, pelo nonsense. Têm
humor e ironia. Inteiramente legíveis e digeríveis. O mesmo
se pode dizer de seus ensaios. ___________________________________________ JORNAL
O TEMPO Belo
Horizonte, 26 de fevereiro de 2005. LUCIDEZ E VERTIGEM NA TEIA DE ZENÓBIA Carlos Roberto
da Silva* O
livro de Zenóbia (Lamparina editora, 2004), de Maria Esther
Maciel, se propõe a narrar a história de uma mulher chamada Zenóbia, que
nasceu na fazenda Palmyra, nos arredores de Patos de Minas, em 1922, bióloga
por profissão e escritora por vocação. E o faz, não por vias previsíveis, mas
pela via da transversalidade. Ao fatiar (é esse mesmo o termo) como numa
ressonância magnética, a realidade ficcional da personagem, Maria Esther
permite, em mise-en-âbime, uma iluminação que perfura sutilmente a
superficialidade e, como agulha ou flash, mergulha para extrair da
memória, não mais de Zenóbia, mas da própria humanidade, as coisas, fatos,
pessoas, sensações, emoções, perfumes, cores, sabores e formatos que nos
salvam da corrosão do tempo e mantêm, como num álbum de retratos, o
imortal soluço de vida. Assim, a obra se assemelha à fotografia, pois
congela o movimento e, para lembrar Baudelaire, eterniza o contingencial do
dia-a-dia de Zenóbia. Essa sugestão de trânsito por manifestações
artísticas diferentes se solidifica no processo de ilustração em que o
desenho catalográfico de orquídeas separa cada crônica-foto-poema do livro
para, paradoxalmente, ser a ponte entre a biologia e a escrita literária e,
ao mesmo tempo, o elemento que,
no crisol da estética, funde vida e realidade, realidade e sonho; ou como
disse a própria autora, em outro livro, para transformar lucidez em vertigem,
instalando com rigor a realidade do delírio. Foi a mesma Zenóbia, que tanto
nos inquieta, que disse que “a lírica e não a crônica, define seu pacto com a
vida e o sonho. Mas o trágico é o seu pathos, o seu idioma
subterrâneo.” Não bastasse, essa experimentação formal, esse trabalho de
elaboração do fazer literário encontra ressonância na escolha do modo de
dizer tudo isso. Se “Zenóbia pensa duas vezes antes de dizer a si mesma”, a
autora elaborou e re-elaborou sua tessitura antes de dizer ao leitor. Por
isso, Maria Esther Maciel mescla, alterna, funde e subverte gêneros
consagrados da literatura. O que era para ser a crônica de uma existência se
torna o poema de vida de Zenóbia – a linguagem é a sua maior comprovação.
Todos os recursos da poesia preenchem um espaço criado por ela no ato de
narrar. São rimas, ritmos, imagens, jogos sonoros que povoam a obra e provam
a habilidade da autora em lidar com os recursos da língua, colocando a
linguagem em plano de destaque. Se isso não consolida a ruptura, Maria Esther
ainda transforma em arte literária receitas culinárias, isso mesmo, extrai a
poesia de receitas de comida e bebida, e vai além, num processo taxonômico
que inclui listas de coisas como ervas daninhas, peixes perplexos, aves
raras, livros de cabeceira e outras. Maria Esther faz da vida, não só a sua e nem
mesmo só a de Zenóbia, mas da mulher, um exercício literário para
transcendê-lo e chegar à reflexão acerca da própria existência humana. São as
máximas e os aforismos que nos conduzem pelos caminhos da lucidez poético-filosófica
da autora. São frestas aproveitadas da memória que permitem colar os
fragmentos da vida contemporânea em que nós, como “aves migratórias (que)
inventam o seu próprio espaço”, podemos inventar também o nosso doloroso
espaço nesse processo descontínuo e migratório dos saberes. Desses saberes
tão ambíguos em que nascer e morrer se conjugam, sonhos e pesadelos se
entretecem, a crueldade é uma forma de amor e o silêncio, uma forma de dizer. Dessa forma, no dizer consciente de Maria Esther
Maciel, “a experiência e a memória têm como registro a exterioridade sensível
de tudo que se define e consome, como se só as coisas pudessem perdurar para
além de nosso esquecimento e nossa precariedade.” Por isso, O Livro de
Zenóbia passa a ser o curador de um compósito feito de listas, sonhos,
delírios, poesia, saberes, sensações e emoções, todos carreados da memória ou
extirpados das vivências para tecerem, coisa a coisa, a nossa vulnerabilidade
de seres racionais. Creio que Maria Esther se lança na ficção com a
mesma lucidez e intensidade da ensaísta e tece em suave som de roca um eco
infinito de seu lirismo. Mnemonicamente, em voz divina, escreve um longo
caminho. __________________________________________ Sabrina Sedlmayer
A primeira vez que li Zenóbia - na primavera de 2003, achei-a muito
engraçada. De início conheci quatro dos seus sonhos (curiosamente os únicos
em primeira pessoa), um pouco da sua linhagem, da sua torta genealogia,
algumas das suas mortes e seu afeto desmedido por bichos e plantas. Havia,
naquela escrita, humor, uma
essência de oficina e um rigor extremo. Quando li Zenóbia de novo, achei que a
sua graça não era assim tão horizontal e a sua leveza não era assim tão
sustentável. Os seus olhos – ávidos, óbvios, sóbrios, sólidos, estóicos -
eram, na verdade, ilágrimes, e pareciam ser milenarmente mais velhos que todo o resto do corpo. Não se
esquivavam em ponto de fuga como o seu sorriso, não eram reclusos como seus
cabelos, nem miúdos como seu nariz, mas eram capazes de velar a culpa e se
assombrarem, a um só tempo, com o sofrimento e com as delícias de um prato de
comida. Da
terceira vez que li Zenóbia, os
seus textos já haviam se tornado livro. Lançado pela editora Lamparina, no
outono de 2004, de autoria de Maria Esther Maciel, a sua vida em obra
desembocava, obliquamente, bem do seu jeito, na conhecida experiência
literária moderna, capaz de guardar tanto o inacabamento quanto a
fragmentação. E era o livro, como
tanto queriam Mallarmé, Flaubert, Cesário, Pessoa e Borges. Mas
se O livro de Zenóbia
assemelha-se, no título, ao
projeto de escrita moderna que tentava articular o inarticulável, o mundo na
literatura, desenhar pela escrita a experiência ordinária, dele escapa,
entretanto, pela incomensurável ternura. Zenóbia é dadivosa, e isso é muito.
É capaz de reverter a crueldade em amor, descobrir malícia sem mal, inventar
parentes, adotar madrinhas, encontrar no ontem as coisas que ama, e,
principalmente, criar metáforas para esconder a realidade das larvas. Se à primeira vista há, nessa
alquimia, algo que já vimos em demasia na produção cultural pós-moderna, seja
no mundo açucarado da fadinha parisiense, Amèlie Poulain, ou até mesmo antes
nas desgastadas heroínas latinas do realismo fantástico, como a protagonista
de “Como água para chocolate”, que responde à aspereza do mundo com receitas
culinárias milagrosas e afrodisíacas,
Zenóbia diverge dessas Polianas contemporâneas não só pela maneira de
ver as coisas, por estar ancorada em uma experiência estética do estranho e
do difícil mas, principalmente, por acreditar na poética do inventário. Aí,
sim, se afasta do gênero dos pequenos milagres cotidianos, e passa a integrar
a linhagem dos falsários, dos
enciclopedistas absurdados, daqueles que desconfiaram do caminho reto entre
dois pontos, dos que carregam uma cicatriz na testa, onde vivem, entre
outros, Nietzsche, Cioran e Kierkegaard. O desassossego de Zenóbia vira
literatura ao falar da textura, cor, fragrância e tamanho das orquídeas. Ou
quando lista os peixes perplexos, as cidades raras e os pássaros em perigo,
quando diz dos nomes infinitos. Zenóbia
podia, facilmente, se agregar ao coro dos que pediram dobrada à moda do Porto
e o prato veio servido frio, como disse Álvaro de Campos: “Mas, se pedi amor, porque é que me
trouxeram/ Dobrada à moda do Porto fria?/ Não é prato que se coma frio./ Mas
trouxeram-mo frio./ Não me queixei, mas estava frio./ Nunca se pode comer
frio, mas veio frio.” Ela não fala do
desamor, principalmente o farpante e cruel desafeto quase sempre vindo das
mulheres? Mas ela recusa a lamúria e a litania e não paralisa o desafeto.
Prefere mostrar que comida é só outro nome dado ao amor, ou mais ainda: que comida é só um outro nome que às vezes se dá à poesia. Espero continuar a ler Zenóbia e sentir, todas às vezes, os céus se
misturando com a terra. Minha Teresa! Imaginar por quê Zenóbia não gosta de
bordados. Das linhas de aranhas que legião de mulheres (ou homens como Bispo
ou Leonilson, que tanto se
assemelham a ela) já nos falaram, tempos antes, visto que o ponto de certo
bordado, às vezes, é só outro nome que se dá à poesia. . * |
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