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Resenhas de O LIVRO DOS NOMES, de Maria Esther
Maciel Ana
Lúcia Trevisan (Revista
Carta Capital) Fabrício
Carpinejar (Estado
de São Paulo) João Paulo (O Estado de Minas) Lázaro
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Regis do Nascimento Silva (Assis Notícias) NOTAS SOBRE O
LIVRO: Jornal
Folha de São Paulo – Ilustrada Jornal
O Estado de São Paulo - Cultura DIÁRIO DO NORDESTE /
DIÁRIO CATARINENSE Fortaleza, 29/02/2008
/ Florianópolis, 12/03/2008 O nome e sua deriva
Manoel Ricardo de Lima Em seu novo livro, a escritora mineira Maria Esther
Maciel enreda o leitor em torno de uma mitologia mínima dos homens sem mito
Montaigne,
em seus Ensaios, no capítulo 66, intitulado Dos Nomes, comenta que é muito
útil ter um nome bonito e fácil de pronunciar e reter na memória. Lembra,
ainda, que Sócrates considerava que dar belos nomes aos filhos é um cuidado
que os pais não devem esquecer. O fato é que um nome parece impor um
presságio, um destino, uma deriva, tanto que Montaigne cita Juvenal quando
este diz que os homens têm mais sede de renome que de virtude. Mas um nome é,
também, o que se desvia dele como sentido, como afasia, como o que está para
servir como vestígio e como possibilidade de chamamento. Um nome tem a ver,
também, com acontecimento, com testemunho, com desejo. Como força desejante é
o nome que, de certa forma, como limite e borda, aproxima os homens de Deus.
Derrida diz, na perspectiva de uma teologia negativa, que em toda assinatura
humana ou divina é preciso o nome. Assim, o nome é aquilo que rende ao outro
o imponderável do sentido, os nossos abismos. POR
MANOEL RICARDO DE LIMA | Escritor
e professor de literatura. Autor de Falas Inacabadas (com Elida Tessler) e As
Mãos, entre outros livros.
Rio de Janeiro, 08/03/2008 A fome
do nome
José Castello A palavra não é um adorno, ou um jogo com que nos
distraímos da vida. A retórica a embrutece, os lugares comuns a enlameiam, a conversa
fiada a debilita. Indiferente a esses usos medíocres, a palavra se conserva
ferozmente atada ao real, lhe molda a força e lhe confere destino. Alguns
não suportam seus nomes, e chegam a ir a um cartório para alterá-los. Em um
tabelião, o poeta Vinicius livrou-se de um longo nome, que o asfixiava, e
adotou o breve Vinicius de Moraes. Quantas pessoas sofrem por causa de
apelidos cruéis? Nomes são forças que alimentam ou, ao contrário, mutilam. Em
algum lugar, encontro uma definição da escritora George Elliot que diz o que
não consigo dizer: “A língua não passa de luz rompida por sobre as
profundezas do inarticulado”. O livro dos nomes (Companhia das Letras), de
Maria Esther Maciel, se ocupa desta fome do nome, que nunca se sacia. Aturdidos
pelo caráter instável da vida, seus personagens se agarram, em desespero, às
palavras. Em uma existência que se expande e se dispersa, eles balbuciam seus
nomes à espera de um caminho. Nomes, sobrenomes, apelidos são marcas, mesmo
quando vivemos para negá-los, ou para deformá-los. Penso em meu falecido pai,
José. Muito do que sou, José também, deriva desse nome, surgiu contra ele, em
luta para modificá-lo, ou para superá-lo. O nome José nos uniu, mas também
nos separou. E, no entanto, ele se perpetua em mim. Palavras
ignoram as leis naturais e os ciclos biológicos. Maria Esther Maciel
relembra, a propósito, uma idéia do sul-africano J. M. Coetzee: “Quando
a morte corta todos os laços, permanece o nome”. Nas lápides das
sepulturas, nas páginas roídas dos diários, entre os cupins dos arquivos
públicos, na memória fraca dos velhos, os mortos se reduzem, sempre, a nomes.
Nomes que, sem a chance de escolhêlos, eles se viram obrigados a usar, mas
que foram incapazes de honrar. O
livro de Maria Esther encena a busca de uma ordem, uma ordem qualquer, no
grande feixe das palavras. Simula a postura dos filólogos, ou dos aplicados
copistas que, na luta para arrancar dos nomes alguma disciplina, nunca chegam
a vencer. Também O livro dos nomes
não chega a ter um fim. Divide-se em 26 capítulos, dispostos em ordem
alfabética, cada um deles dedicado a um nome próprio, de Antônio, e depois
Beatriz, e Catarina, até Xavier, em seguida Yeda e, enfim, Zenóbia. A
etimologia e seus recursos (e também ilusões) servem a Maria Esther como
freios. Universo selvagem, a literatura exige um conjunto de travas, ou não
fica de pé. Embrenha-se
Maria Esther, assim, no labirinto dos sentidos. O que, afinal, com seu
caráter irregular e confuso, carregam os nomes? Que destinos nos impõem?
Podemos deles escapar? É com delicadeza, e certa cautela fingida, que a
escritora avança. Antonio seria “o que se opõe”. Danilo, seguindo
uma pista deixada pelo filósofo Soren Kierkegaard, “o que guarda
zelosamente aquilo que lhe foi entregue”. Jerônimo, leitor aplicado do
“Diário de um sedutor”, do mesmo Kierkegaard, sugere, entre
outras acepções, a “visão da beleza”. Toda Rita, diz a precária
razão etimológica, “tem medo de morrer sem ter vivido”. Já
Ulisses carrega um nome complexo, que tanto pode significar “o
irritado”, como “o odiado por Zeus”. Vanessa, aquela que é
“volúvel como uma borboleta”, sintetiza o caráter da língua. A
língua como Borges a viu: um labirinto, do qual o próprio Teseu está banido. Inferno
dos nomes: persegui-los leva ao incompleto e ao atordoante. Maria Esther
recorda um verso alheio: “cada forma difunde seu silêncio”. Seus
breves relatos ora confirmam, ora desmentem a sina das palavras. A língua é
um terreno minado. “Pronunciar devagar a palavra Maria soa quase como
uma prece”, está dito no capítulo dedicado a Maria Alice. Lembro de
Vilém Flusser, o filósofo tcheco, para quem a prece se situa uma camada acima
da poesia; mais que poesia (ou sendo ainda poesia), ela lança uma
“conversação com o indizível”. Quem reza — como o poeta
— se perde no denso nevoeiro da língua. Só que o poema nada espera
desse murmúrio, enquanto o crente, pobre crente, sim. Nomes
iludem quem os enuncia. “Para Silvia, a vida é mais pesada que o peso
de tudo”. Em contraste com a vida, nomes não passam de plumas. O livro
deMaria Esther Maciel é, assim, uma dança na qual os personagens trazem
sapatos cheios de pedras. Pedras do real. Personagens reaparecerem em
capítulos que não lhes pertencem. Suas histórias se interrompem de repente.
Coisas não se explicam. Nós, falantes, como o suave Jerônimo, vivemos
“em estado de desencontro com o mundo”. Inutilidade
da língua? Mas como descartar o único vínculo que temos com o real? Quando se
irritava comigo, meu pai dizia: “Não sei como você pode se chamar José!”
Para ele, nomes eram garantias. Mas mesmo os nomes próprios não passam de
construções poéticas, com que os pais tentam capturar o futuro dos filhos. A
vida, porém, ignora esse esforço. Crescer é desviar-se. A palavra, Maria
Esther, não designa, eleva. De uma amiga, Angela Bernardes, me chega uma
idéia do filósofo Michel Déguy: “A responsabilidade poética é de
super-humanizar o homem”. Não é transmitir, nem é significar —
mas só acrescentar humanidade ao bicho que somos. Reflito
sobre a frase expedida por Angela que, sem ela saber disso, me chegou através
de outra amiga, Hena Lemgruber. Palavras passadas de mão em mão, que
dispensam o remetente. A quem pertencem os nomes? Nem mesmo àqueles que, nas
certidões oficiais e nas assinaturas protocolares, as ostentam. É ainda Vilém
Flusser quem me lembra que, seguindo a etimologia do alemão (língua que
desconheço), a palavra poesia (Dichtung) remete às idéias de adensamento, de
cerração e de calefação. Não damos conta da vida, que nos satura. Quanto mais
avançamos, mais o mundo se fecha. Que outra coisa nos resta, senão o
aconchego e o calor das palavras? Palavras
aliviam uma fome que não se mata. E é só porque essa fome não cessa que
continuamos a falar e a escrever. É só pela fome interminável de um nome que
a vida prossegue.
(Coluna de José
Castello) _______________________________________________ Belo Horizonte, 04/03/2008
Literatura - Humanidade com todas as letras - 04/03/08
João Paulo O
livro dos nomes (Companhia das Letras), que Maria Esther Maciel lança terça
(dia 04), em Belo Horizonte, é um belo exemplo do que pode a inteligência
aliada à sensibilidade. Quem desconhece a carreira acadêmica da autora,
professora de teoria da literatura na UFMG, com vários livros publicados,
entre eles ensaios sobre o poeta Octavio Paz e o cineasta Peter Greenaway,
além de volume de poesias e a prosa de ficção de O livro de Zenóbia, pode
simplesmente se encantar com o novo romance. Escrito com leveza e estilo
trabalhado como um bordado, o romance é um inventário de retratos humanos,
todos muito críveis, próximos e cheios de vida. ___________________________________________ Belo Horizonte, 04/03/2008
Alécio Cunha Personagens
que são a síntese do mundo e batizam fragmentos e capítulos de um romance sui
generis. Antônio, Beatriz, Catarina, Eugênia, Fausto, Geraldo, Jerônimo,
Plínio, Zenóbia... Cobaias de surpreendente experiência narrativa. «O Livro
dos Nomes», mais recente obra da escritora mineira Maria Esther Maciel, será
autografado às 18 horas de hoje, na Biblioteca Pública Estadual, em Belo Horizonte,
sob a chancela da editora paulista Companhia das Letras. Aos 44
anos, a autora, nascida em Patos de Minas, professora da Faculdade de Letras
da UFMG, aposta em história aparentemente convencional. Um comerciário casa-se
e descobre, tardiamente, que não ama a mulher. Com ela, tem três filhos, além
de caso amoroso com uma agregada. De repente, dezenas de personas entram em
cena, desencadeando narrativa cheia de nomes e, claro, histórias. A obra
poderia ter como subtítulo «o livro da vida». A diferença está na forma
empregada pela autora na elaboração da narrativa. «Sempre gostei muito de
listas. Quis fazer um romance em que não houvesse personagem principal.
Acabei fazendo uma paródia dos dicionários de nomes», frisa Maria Esther. As
elipses dos textos e certa subversão de conceitos taxonômicos são
características dos capítulos. Mesmo assim, não podem ser lidos
separadamente. Um pouco da história de cada nome pode ser revelado no nome
seguinte. Assim, bem devagar, a autora lapida narrativa elaborada, que deve
ser lida como inteligente quebra-cabeças envolvendo os leitores em sedutora
teia. Maria
Esther lembra que «O Livro dos Nomes» mantém diálogo especial com seu
trabalho anterior, «O Livro de Zenóbia», publicado há três anos pela pequena
editora carioca Lamparina. Zenóbia, aliás, encerra o abecedário ficcional da
autora neste novo trabalho. «Ela não é mais a protagonista. O novo livro é
menos lírico que o anterior, há uma preocupação maior com a narrativa, que se
aproxima mais do prosaico e do romanesco», atesta a autora. Não há,
entretanto, uma recusa absoluta ao extrato lírico, que aparece nas
entrelinhas e margens do romance, cujos nomes são sinônimo constante de vida. A
questão das classificações e a obsessão por listas integram o rol de
predileções estéticas da ficcionista mineira. Ela é apaixonada pelos filmes
do cineasta galês Peter Greenaway («O Contrato do Amor», «O Cozinheiro, o
Ladrão, a Mulher e o Amante», «O Bebê Santo de Macon»), sobre quem organizou
o seminário «O Cinema Enciclopédico de Peter Greenaway», depois
metamorfoseado em livro homônimo. Em «O Livro dos Nomes», a autora reconhece
a força de Greenaway: «Sim, ele está presente». Maria
Esther Maciel não esconde a satisfação de ter seu livro publicado pela
editora paulista Companhia das Letras, uma das mais importantes do país,
capaz de dar ampla visibilidade ao trabalho da autora de livros como a
reunião de poemas «Triz» e o ensaio «A Vertigem da Lucidez», em que ela
estuda a obra do mexicano e Nobel Octavio Paz. «Estou muito feliz e fiquei
surpresa. Mandei o livro para outras editoras e também para o escritor Milton
Hatoum, que o indicou para publicação na Companhia das Letras. Eles me
ligaram um mês depois de enviar o livro». A
«mãozinha» de Milton Hatoum foi providencial. «Ele gostou do livro, a editora
também», resume. Não se
assustem se «O Livro dos Nomes» constar, em 2009, das listas de prêmios como
Jabuti e Portugal Telecom, os maiores do Brasil. Não se trata de mero
futurismo. A obra tem cacife para tanto. __________________________________________ Brasília, 23/04/2008 A palavra móvel
Sérgio de Sá O texto ficcional de Maria
Esther Maciel se parece com Maria Esther Maciel: delicadeza e erudição. Em O livro dos nomes (Companhia das
Letras), ela monta um dicionário peculiar. Aos verbetes dos tais nomes do
título, apresentados em ordem alfabética (Antônio, Beatriz, Catarina...),
juntam-se quatro pequenos relatos de um só parágrafo cada um. A estrutura é
fixa. O alcance literário, longo. Vitrine – 16/02/2007 – Folha de São Paulo
Coluna de Lançamentos – 02/03/2008 – Estado de São
Paulo Nomes que revelam aspectos insuspeitados A escritora mineira Maria Esther Maciel compõe uma rede
de relações singulares a partir de 26 nomes e seus significados, que se fazem
conhecer em ordem alfabética. A narrativa elíptica e fragmentada oferece a
possibilidade a que cada personagem, entre parentes, empregados, patrões,
amantes, tenha seu momento de se transformar de coadjuvante em protagonista.
Assim se revelam aspectos insuspeitados. Autora de O Livro de Zenóbia, Maria
Esther faz uma paródia e subverte os dicionários de nomes, provocando os leitores
a participarem de um quebra-cabeça, um jogo de descoberta e construção. O
início pode estar em qualquer personagem, que surge de parágrafos densos e
concisos. O Livro dos Nomes, Maria Esther Maciel, Companhia das
Letras, 170 págs., R$ 35 Maria Esther dá
novos significados a nomes
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