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 Resenhas de O LIVRO DOS NOMES, de Maria Esther Maciel

 

 

 

 

Alécio Cunha (Hoje em Dia)

 

Ana Lúcia Trevisan (Revista Carta Capital)

 

Fabrício Carpinejar (Estado de São Paulo)

 

João Paulo (O Estado de Minas)

 

José Castello (O Globo)

 

Lázaro Barreto (Jornal Magazine)

 

Leandro de Oliveira (Odisséia Literária)

 

Letícia de Souza (Correio Braziliense)

 

Letícia Malard (Suplemento Literário de MG e Cronópios)

 

Lívio Soares de Medeiros (Marrecos Paturebas)

 

Luiz Paulo Faccioli (Jornal Rascunho)

 

Manoel Ricardo de Lima (Diário do Nordeste e Diário Catarinense)

 

Rodrigo Guimarães (Cronópios)

 

Sérgio de Sá (Correio Braziliense)

 

Vicentônio Regis do Nascimento Silva (Assis Notícias)

 

 

 

          NOTAS SOBRE O LIVRO:

 

Jornal Folha de São Paulo – Ilustrada

Jornal O Estado de São Paulo - Cultura

 

 

 

 

 

          DIÁRIO DO NORDESTE / DIÁRIO CATARINENSE

         Fortaleza, 29/02/2008              /   Florianópolis, 12/03/2008

       

          O nome e sua deriva

 

                                            Manoel Ricardo de Lima

 

 

Em seu novo livro, a escritora mineira Maria Esther Maciel enreda o leitor em torno de uma mitologia mínima dos homens sem mito

 

Montaigne, em seus Ensaios, no capítulo 66, intitulado Dos Nomes, comenta que é muito útil ter um nome bonito e fácil de pronunciar e reter na memória. Lembra, ainda, que Sócrates considerava que dar belos nomes aos filhos é um cuidado que os pais não devem esquecer. O fato é que um nome parece impor um presságio, um destino, uma deriva, tanto que Montaigne cita Juvenal quando este diz que os homens têm mais sede de renome que de virtude. Mas um nome é, também, o que se desvia dele como sentido, como afasia, como o que está para servir como vestígio e como possibilidade de chamamento. Um nome tem a ver, também, com acontecimento, com testemunho, com desejo. Como força desejante é o nome que, de certa forma, como limite e borda, aproxima os homens de Deus. Derrida diz, na perspectiva de uma teologia negativa, que em toda assinatura humana ou divina é preciso o nome. Assim, o nome é aquilo que rende ao outro o imponderável do sentido, os nossos abismos.

O jogo parece mais complicado quando imaginamos, descabidos, que um suposto nome parece não colar na fisionomia de alguém. E não sabemos o porquê. E há os casos mais sérios de homonímia, quando nomes supostamente iguais registram a insuficiência de suas invenções de caráter. Montaigne, por exemplo, elabora uma pequena lista dos nomes iguais que a história conservou: três Sócrates, cinco Platões, oito Aristóteles, sete Xenofontes, 20 Demétrios, 20 Teodoros, e se pergunta acerca daqueles outros tantos ignorados pela história. E há, também, as transferências de certos carmas através do nome, porque não sabemos o que damos ao outro quando lhe damos um nome. No hinduísmo e no budismo, o carma é aquela lei que afirma o caráter à causalidade moral, quando uma ação gera uma reação que retorna com a mesma qualidade e intensidade a quem a realizou, como aperfeiçoamento (a mocsa) ou forma regressiva (o renascimento). O nome pode ser, enfim, simplesmente, um grande problema sem fim.

Na pauta de uma coleção desvairada de nomes, para onde eles significam ou deixam de significar, Maria Esther Maciel (escritora, professora da UFMG, pesquisadora debruçada sobre os nós cegos da coleção, das séries, dos bestiários, e aí, tanto faz se a partir de Borges, Arthur Bispo do Rosário, Wilson Bueno ou Peter Greenaway) publicou recentemente, pela Cia das Letras, a encantadora narrativa intitulada O Livro dos Nomes. Neste livro ,Maria Esther parece repetir a pergunta de Derrida: o que se entende sob o nome de NOME? Não havendo resposta cabível que possa desanuviar o abismo do nome, a opção narrativa é a construção de uma tessitura amalgamada de nomes num abecedário de Antônio a Zenóbia (que já é um nome de um livro anterior de Maria Esther: O livro de Zenóbia), passando por Beatriz, Catarina, Geraldo, Hildegarda, Lídia, Maria Alice, Plínio, Tenório, Ulisses, Xavier, etc. A questão passa a ser, então, ampliar o abismo para tentar tocar naquilo que um nome não cabe, não comporta, não diz, não é.

Os nomes estão divididos como se anunciassem os capítulos de uma história cruzada entre todos eles, alguns são títulos destes capítulos e tornam a aparecer nos capítulos indicados por outros nomes. Como exemplo da brincadeira de roda que Maria Esther arma há Sílvia, quase louca, que é mãe de Vanessa (que gosta de listas), de Eugênia (que queria ser poeta e apaixonou-se por um homem casado, Jerônimo, o insone de espírito livre) e de Ulisses, um melancólico, e casada com Antônio, que abre o livro e morrerá três anos depois; cotidianos que parecem se confundir com o de Maria Alice, casada com José Fernandes, o Jafé (que não é título de capítulo e que se mata), e que, por sua vez, é o dono de Xavier, o cão, que padece em gemido e uivo sussurrado o suicídio de seu dono (a meu ver, uma das passagens mais bonitas de todo o livro). Todos títulos de capítulos que vão e vêm em redemoinho de ventos e tensões. Mas há também Murilo, um nome solto no meio das imprecisões, motorista, moreno e de olhos trêmulos, com quem Sílvia teve um affaire de feira antes de casar; assim também como os nomes soltos dos pais de Jerônimo, Eusébio e Adelaide, entre tantos outros.

A trama provoca uma delícia de leitura, porque ela tende a enredar o leitor numa mitologia mínima dos homens sem mito; são gestos desfeitos do que um nome pode impor ou sugerir. Todos os nomes carregam um subtítulo, como o caso de Plínio, um dono de padaria, órfão, adotado por um tio de mesmo nome (um carma?) e que ao casar com Vanessa, filha de Sílvia e Antônio, vendeu a casa e doou os livros que herdara, e ainda envenenou seus gatos: Plínio ou As águas turvas. Depois, há Vanessa ou O diz-que-diz, Rita ou Os olhos que já não estão aqui, Lídia ou Dos amores fingidos etc. Todos os nomes ganham seu próprio arquivo por vir em quatro partes de capítulo, os seus presentes pretéritos são montados como se este número quatro - invariável e fixo - indicasse não mais a pergunta aberta do tanto que pode um nome, mas o quanto há de desmesura numa totalidade. Ao mesmo tempo, antecedendo o texto, os nomes recebem uma mais que imprecisa definição, que vai de um étimo possível até uma ficção colada na deriva que cada nome pode propor. Maria Alice, por exemplo, toma como primeiro empréstimo o nome Maria, que é também o primeiro nome de Maria Esther, nome que pronunciado devagar "soa quase como uma prece", diz ela. Diz ainda que é um nome que traz força implícita, "que perdura para lá dos ossos e dos dias", e que na Vulgata aparece como "mar de amargura". Depois Alice, de étimo controverso, feminino de Alex, variação de Elisa e Elisabete, anagrama de Célia, "que é celeste". "Alices adoram a terra, seus cismos e crateras."

Maria Esther nos convida para uma dança encantadora com os nomes de sua coleção falhada, debilitada, desdobrada e, por isso tudo, muito potente. E faz o convite a leitores abertos, generosos, fazedores de suas próprias coleções também falhadas, leitores que entendem - não como clareza, mas como sombra - o quanto um nome não diz, o quanto um nome não é. Para não fechar este bonito O Livro dos Nomes numa leitura de clave funcionalista, idiotizada numa certa postura crítica que insiste em adjetivos como fraco ou forte, ou insiste na pergunta primária "de qual a vantagem disso", Maria Esther Maciel abre o projeto de sua narrativa para nossas incertezas; como sua personagem Jerônimo, para "mostrar que uma infinidade de finitos não é igual ao infinito", ou como está na pergunta que vem no bilhete de Walter para Beatriz: "Mas não é a palavra um corpo vazio?" Enfim, ler o nome do outro, de fato, não é pra todo mundo.

 

POR MANOEL RICARDO DE LIMA | Escritor e professor de literatura. Autor de Falas Inacabadas (com Elida Tessler) e As Mãos, entre outros livros.

 

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       O GLOBO – Prosa & Verso

        Rio de Janeiro, 08/03/2008

       

 

                   A fome do nome

 

                                              José Castello

 

A palavra não é um adorno, ou um jogo com que nos distraímos da vida. A retórica a embrutece, os lugares comuns a enlameiam, a conversa fiada a debilita. Indiferente a esses usos medíocres, a palavra se conserva ferozmente atada ao real, lhe molda a força e lhe confere destino.

 

Alguns não suportam seus nomes, e chegam a ir a um cartório para alterá-los. Em um tabelião, o poeta Vinicius livrou-se de um longo nome, que o asfixiava, e adotou o breve Vinicius de Moraes. Quantas pessoas sofrem por causa de apelidos cruéis? Nomes são forças que alimentam ou, ao contrário, mutilam. Em algum lugar, encontro uma definição da escritora George Elliot que diz o que não consigo dizer: “A língua não passa de luz rompida por sobre as profundezas do inarticulado”.

 

O livro dos nomes (Companhia das Letras), de Maria Esther Maciel, se ocupa desta fome do nome, que nunca se sacia. Aturdidos pelo caráter instável da vida, seus personagens se agarram, em desespero, às palavras. Em uma existência que se expande e se dispersa, eles balbuciam seus nomes à espera de um caminho. Nomes, sobrenomes, apelidos são marcas, mesmo quando vivemos para negá-los, ou para deformá-los. Penso em meu falecido pai, José. Muito do que sou, José também, deriva desse nome, surgiu contra ele, em luta para modificá-lo, ou para superá-lo. O nome José nos uniu, mas também nos separou. E, no entanto, ele se perpetua em mim.

Palavras ignoram as leis naturais e os ciclos biológicos. Maria Esther Maciel relembra, a propósito, uma idéia do sul-africano J. M. Coetzee: “Quando a morte corta todos os laços, permanece o nome”. Nas lápides das sepulturas, nas páginas roídas dos diários, entre os cupins dos arquivos públicos, na memória fraca dos velhos, os mortos se reduzem, sempre, a nomes. Nomes que, sem a chance de escolhêlos, eles se viram obrigados a usar, mas que foram incapazes de honrar.

 

O livro de Maria Esther encena a busca de uma ordem, uma ordem qualquer, no grande feixe das palavras. Simula a postura dos filólogos, ou dos aplicados copistas que, na luta para arrancar dos nomes alguma disciplina, nunca chegam a vencer. Também O livro dos nomes não chega a ter um fim. Divide-se em 26 capítulos, dispostos em ordem alfabética, cada um deles dedicado a um nome próprio, de Antônio, e depois Beatriz, e Catarina, até Xavier, em seguida Yeda e, enfim, Zenóbia. A etimologia e seus recursos (e também ilusões) servem a Maria Esther como freios. Universo selvagem, a literatura exige um conjunto de travas, ou não fica de pé.

 

Embrenha-se Maria Esther, assim, no labirinto dos sentidos. O que, afinal, com seu caráter irregular e confuso, carregam os nomes? Que destinos nos impõem? Podemos deles escapar? É com delicadeza, e certa cautela fingida, que a escritora avança. Antonio seria “o que se opõe”. Danilo, seguindo uma pista deixada pelo filósofo Soren Kierkegaard, “o que guarda zelosamente aquilo que lhe foi entregue”. Jerônimo, leitor aplicado do “Diário de um sedutor”, do mesmo Kierkegaard, sugere, entre outras acepções, a “visão da beleza”. Toda Rita, diz a precária razão etimológica, “tem medo de morrer sem ter vivido”. Já Ulisses carrega um nome complexo, que tanto pode significar “o irritado”, como “o odiado por Zeus”. Vanessa, aquela que é “volúvel como uma borboleta”, sintetiza o caráter da língua. A língua como Borges a viu: um labirinto, do qual o próprio Teseu está banido.

 

Inferno dos nomes: persegui-los leva ao incompleto e ao atordoante. Maria Esther recorda um verso alheio: “cada forma difunde seu silêncio”. Seus breves relatos ora confirmam, ora desmentem a sina das palavras. A língua é um terreno minado. “Pronunciar devagar a palavra Maria soa quase como uma prece”, está dito no capítulo dedicado a Maria Alice. Lembro de Vilém Flusser, o filósofo tcheco, para quem a prece se situa uma camada acima da poesia; mais que poesia (ou sendo ainda poesia), ela lança uma “conversação com o indizível”. Quem reza — como o poeta — se perde no denso nevoeiro da língua. Só que o poema nada espera desse murmúrio, enquanto o crente, pobre crente, sim.

 

Nomes iludem quem os enuncia. “Para Silvia, a vida é mais pesada que o peso de tudo”. Em contraste com a vida, nomes não passam de plumas. O livro deMaria Esther Maciel é, assim, uma dança na qual os personagens trazem sapatos cheios de pedras. Pedras do real. Personagens reaparecerem em capítulos que não lhes pertencem. Suas histórias se interrompem de repente. Coisas não se explicam. Nós, falantes, como o suave Jerônimo, vivemos “em estado de desencontro com o mundo”.

 

Inutilidade da língua? Mas como descartar o único vínculo que temos com o real? Quando se irritava comigo, meu pai dizia: “Não sei como você pode se chamar José!” Para ele, nomes eram garantias. Mas mesmo os nomes próprios não passam de construções poéticas, com que os pais tentam capturar o futuro dos filhos. A vida, porém, ignora esse esforço. Crescer é desviar-se. A palavra, Maria Esther, não designa, eleva. De uma amiga, Angela Bernardes, me chega uma idéia do filósofo Michel Déguy: “A responsabilidade poética é de super-humanizar o homem”. Não é transmitir, nem é significar — mas só acrescentar humanidade ao bicho que somos.

 

Reflito sobre a frase expedida por Angela que, sem ela saber disso, me chegou através de outra amiga, Hena Lemgruber. Palavras passadas de mão em mão, que dispensam o remetente. A quem pertencem os nomes? Nem mesmo àqueles que, nas certidões oficiais e nas assinaturas protocolares, as ostentam. É ainda Vilém Flusser quem me lembra que, seguindo a etimologia do alemão (língua que desconheço), a palavra poesia (Dichtung) remete às idéias de adensamento, de cerração e de calefação. Não damos conta da vida, que nos satura. Quanto mais avançamos, mais o mundo se fecha. Que outra coisa nos resta, senão o aconchego e o calor das palavras?

 

Palavras aliviam uma fome que não se mata. E é só porque essa fome não cessa que continuamos a falar e a escrever. É só pela fome interminável de um nome que a vida prossegue.

                                                           (Coluna de José Castello)

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        Jornal O Estado de Minas

             Belo Horizonte, 04/03/2008

     

       Literatura - Humanidade com todas as letras - 04/03/08

 

                                                                              João Paulo

O livro dos nomes (Companhia das Letras), que Maria Esther Maciel lança terça (dia 04), em Belo Horizonte, é um belo exemplo do que pode a inteligência aliada à sensibilidade. Quem desconhece a carreira acadêmica da autora, professora de teoria da literatura na UFMG, com vários livros publicados, entre eles ensaios sobre o poeta Octavio Paz e o cineasta Peter Greenaway, além de volume de poesias e a prosa de ficção de O livro de Zenóbia, pode simplesmente se encantar com o novo romance. Escrito com leveza e estilo trabalhado como um bordado, o romance é um inventário de retratos humanos, todos muito críveis, próximos e cheios de vida.

O livro é dividido em 26 capítulos, cada um dedicado a um personagem, ordenados alfabeticamente, de Antônio a Zenóbia. Os perfis são, por sua vez, divididos em cinco pequenas partes: a primeira dedicada à etimologia (que mescla fontes reais e fictícias) de cada nome, seguidos de quatro pequenos textos que por vezes confirmam o destino inscrito no nome e, na maioria das vezes, mostram como a vida não se deixa prender por chaves de qualquer natureza. Os personagens vão sendo assim apresentados e, à medida que a leitura segue seu curso, eles vão se relacionando. São ligados por laços de parentesco, amizade, desejo e destino.

Com essa estrutura ao mesmo tempo rígida e fugidia, se entretecem histórias e o romance vai se constituindo num fluxo aparentemente aleatório, mas que guarda um ritmo próprio que vai levando a descobertas e conquistando ao final, uma completude que não se furta até mesmo a uma delicada surpresa. A leitura por vezes parece romper com a ordem indicada pelo alfabeto, fazendo com que as histórias sejam buscadas a partir de outras indicações, se tornando um livro sem fim, como um labirinto das paixões humanas.

Retratos de vida

Maria Esther Maciel embaralha três tradições literárias em seu romance. Há a inspiração no estilo dos retratos, exercitado por autores como Borges, Schwob e Cioran, que procuram compor, a partir de um destino humano singular, a descrição de uma inspiração de alma universal. Os homens, mulheres e um cachorro descritos por Maria Esther Maciel comungam, sem qualquer ostentação, dessa vocação para o exemplar, que desperta no leitor a sensação de identidade ou reconhecimento. A segunda linha literária exercitada por ela é a dos romances enciclopédicos, armados a partir de princípios de organização que imitam o método da ciência e da arte classificatória. O abecedário de Maria Esther tem parentesco mais uma vez com Borges e ainda com Georges Perec, Ítalo Calvino e Milroad Pavich. Por fim, há um diálogo irônico com os livros de auto-ajuda, em que se esmeram para capturar a vida, quando a romancista insiste que ela sempre escapa pela força do desejo e artimanhas do futuro que espreita com indiferença.

A romancista, no entanto, não acusa suas referências teóricas. O que mais encanta em O livro dos nomes é exatamente o senso de humanidade, a tessitura do estilo, a delicadeza de alma da narradora. Sem julgamentos, com um método feito de compreensão e argúcia afetiva, ele descreve, em poucos parágrafos, vidas tão completas quanto possível. Mesmo as existências que pareceram não valer a pena são inteiras em sua verdade. É essa ética humana que dirige as narrativas. Por meio dela, o leitor toma conhecimento – e ensaia uma cumplicidade circunstancial – com pessoas como Antônio, que se casou com a mulher errada, deu mais que recebeu e “acha que viver é especializar-se no erro”; ou Nise, “mestra na arte da mentira”, com talento para forjar verdades como se fossem sinceras; e ainda Zenóbia, que, aos 85 anos, “mantém a lucidez com leituras e taças de vinhos”. E que escreve um livro, que terá 26 capítulos, ordenados alfabeticamente
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         JORNAL HOJE EM DIA

          Belo Horizonte, 04/03/2008

                


                  
"O Livro de Maria"

                                                   Alécio Cunha

 

 

Personagens que são a síntese do mundo e batizam fragmentos e capítulos de um romance sui generis. Antônio, Beatriz, Catarina, Eugênia, Fausto, Geraldo, Jerônimo, Plínio, Zenóbia... Cobaias de surpreendente experiência narrativa. «O Livro dos Nomes», mais recente obra da escritora mineira Maria Esther Maciel, será autografado às 18 horas de hoje, na Biblioteca Pública Estadual, em Belo Horizonte, sob a chancela da editora paulista Companhia das Letras.

Aos 44 anos, a autora, nascida em Patos de Minas, professora da Faculdade de Letras da UFMG, aposta em história aparentemente convencional. Um comerciário casa-se e descobre, tardiamente, que não ama a mulher. Com ela, tem três filhos, além de caso amoroso com uma agregada. De repente, dezenas de personas entram em cena, desencadeando narrativa cheia de nomes e, claro, histórias.

A obra poderia ter como subtítulo «o livro da vida». A diferença está na forma empregada pela autora na elaboração da narrativa. «Sempre gostei muito de listas. Quis fazer um romance em que não houvesse personagem principal. Acabei fazendo uma paródia dos dicionários de nomes», frisa Maria Esther.

As elipses dos textos e certa subversão de conceitos taxonômicos são características dos capítulos. Mesmo assim, não podem ser lidos separadamente. Um pouco da história de cada nome pode ser revelado no nome seguinte. Assim, bem devagar, a autora lapida narrativa elaborada, que deve ser lida como inteligente quebra-cabeças envolvendo os leitores em sedutora teia.

Maria Esther lembra que «O Livro dos Nomes» mantém diálogo especial com seu trabalho anterior, «O Livro de Zenóbia», publicado há três anos pela pequena editora carioca Lamparina. Zenóbia, aliás, encerra o abecedário ficcional da autora neste novo trabalho. «Ela não é mais a protagonista. O novo livro é menos lírico que o anterior, há uma preocupação maior com a narrativa, que se aproxima mais do prosaico e do romanesco», atesta a autora. Não há, entretanto, uma recusa absoluta ao extrato lírico, que aparece nas entrelinhas e margens do romance, cujos nomes são sinônimo constante de vida.

A questão das classificações e a obsessão por listas integram o rol de predileções estéticas da ficcionista mineira. Ela é apaixonada pelos filmes do cineasta galês Peter Greenaway («O Contrato do Amor», «O Cozinheiro, o Ladrão, a Mulher e o Amante», «O Bebê Santo de Macon»), sobre quem organizou o seminário «O Cinema Enciclopédico de Peter Greenaway», depois metamorfoseado em livro homônimo. Em «O Livro dos Nomes», a autora reconhece a força de Greenaway: «Sim, ele está presente».

Maria Esther Maciel não esconde a satisfação de ter seu livro publicado pela editora paulista Companhia das Letras, uma das mais importantes do país, capaz de dar ampla visibilidade ao trabalho da autora de livros como a reunião de poemas «Triz» e o ensaio «A Vertigem da Lucidez», em que ela estuda a obra do mexicano e Nobel Octavio Paz. «Estou muito feliz e fiquei surpresa. Mandei o livro para outras editoras e também para o escritor Milton Hatoum, que o indicou para publicação na Companhia das Letras. Eles me ligaram um mês depois de enviar o livro».

A «mãozinha» de Milton Hatoum foi providencial. «Ele gostou do livro, a editora também», resume.

Não se assustem se «O Livro dos Nomes» constar, em 2009, das listas de prêmios como Jabuti e Portugal Telecom, os maiores do Brasil. Não se trata de mero futurismo. A obra tem cacife para tanto.

 

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PENSAR – Correio Braziliense

Brasília, 23/04/2008

               A palavra móvel

                                                 Sérgio de Sá  

 

 

O texto ficcional de Maria Esther Maciel se parece com Maria Esther Maciel: delicadeza e erudição. Em O livro dos nomes (Companhia das Letras), ela monta um dicionário peculiar. Aos verbetes dos tais nomes do título, apresentados em ordem alfabética (Antônio, Beatriz, Catarina...), juntam-se quatro pequenos relatos de um só parágrafo cada um. A estrutura é fixa. O alcance literário, longo.

São contos que, lidos na seqüência, compõem um romance em mosaico. As histórias se cruzam. Personagens invadem vidas de outras personagens. A nomeação aparentemente precisa sempre esconde surpresas. A conjunção "ou" desestabiliza qualquer certeza. E o desejo pela escrita percorre as biografias: o fio, a entrelinha que aponta a expressão do impossível, a luta contra a vulgaridade de ligar obrigatoriamente o nome à pessoa.

A pena da autora não poderia ser mais direta. Extrai poesia da contenção. Se existe algo chamado prosa poética, Maria Esther Maciel a tem. O livro dos nomes também serve ao "feminino", no que isso tem de prisão e liberdade. É possível vê-la numa corrente que inclui, por exemplo, Adriana Lisboa e vários momentos de Ana Miranda. Quem se encantou pelo livro foi Milton Hatoum, devidamente creditado.

Esther é professora de literatura comparada na Universidade Federal de Minas Gerais. Tem particular interesse pelas relações entre o cinema e a literatura. Estudou a fundo os filmes de Peter Greenaway e os poemas e ensaios de Octavio Paz. Em sua primeira obra de ficção, O livro de Zenóbia (Lamparina), anunciava, a partir de um nome, o interesse por desfazer a palavra, por esparramar sentidos em torno do conceito de identidade.

 

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Vitrine – 16/02/2007 – Folha de São Paulo

FICÇÃO

Contos


O Livro dos Nomes
MARIA ESTHER MACIEL
Editora:
Companhia das Letras; Quanto: R$ 35 (176 págs.)
SOBRE A AUTORA: Escritora, poeta e ensaísta mineira, nasceu em 1963 em Patos de Minas. Fez pós-doutorado em cinema na Universidade de Londres e atualmente é professora de teoria da literatura e literatura comparada na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).


TEMA: Contos em que cada um dos 26 capítulos apresenta um novo personagem, com nomes listados em ordem alfabética, como Fausto, Hildegarda, Plínio, Ulisses e Vanessa.


POR QUE LER: Maciel brinca com o formato dos dicionários de nomes, ora revelando ora inventando etimologias, de modo bastante criativo.

 

 

 

Coluna de Lançamentos – 02/03/2008 – Estado de São Paulo

 

          Nomes que revelam aspectos insuspeitados

 

A escritora mineira Maria Esther Maciel compõe uma rede de relações singulares a partir de 26 nomes e seus significados, que se fazem conhecer em ordem alfabética. A narrativa elíptica e fragmentada oferece a possibilidade a que cada personagem, entre parentes, empregados, patrões, amantes, tenha seu momento de se transformar de coadjuvante em protagonista. Assim se revelam aspectos insuspeitados. Autora de O Livro de Zenóbia, Maria Esther faz uma paródia e subverte os dicionários de nomes, provocando os leitores a participarem de um quebra-cabeça, um jogo de descoberta e construção. O início pode estar em qualquer personagem, que surge de parágrafos densos e concisos.

 

O Livro dos Nomes, Maria Esther Maciel, Companhia das Letras, 170 págs., R$ 35

 

 

Jornal O Tempo

 

Maria Esther dá novos significados a nomes

                                                      
JÚLIO ASSIS


A escritora e professora de teoria da literatura e literatura comparada na UFMG, Maria Esther Maciel, estréia na editora Companhia das Letras com "O Livro dos Nomes", que ela autografa hoje na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa. A ficha bibliográfica define o volume como de "contos brasileiros", mas a leitura da obra indica a fruição de um romance. "É um livro de caráter meio híbrido, com narrativas que podem ser lidas separadamente, como contos, mas há uma inter-relação entre elas que apontam no conjunto para um romance", define a própria Maria Esther.

São 26 narrativas, cada uma referente a um nome de pessoa, apresentando inicialmente o que esse nome representa etimologicamente, acompanhado de uma história com esse personagem, dividida em quatro partes praticamente do mesmo tamanho. E quase sempre o que está dito na etimologia não coincide com a personalidade do personagem. "Foi um livro muito pensado, com um rigor quase matemático, mas esse tratamento do enredo vem indicar que a vida é mais forte que as convenções", diz a escritora.

Embora a obra não tenha caráter regionalista, as histórias se passam no interior de Minas, na região do Alto Paranaíba, e tem como eixo a cidade de Patos de Minas, terra natal de Maria Esther. "É uma região que aparece muito pouco na literatura", justifica ela. O livro tem um agradecimento da autora ao escritor Milton Hatoum que leu os originais e sugeriu que ela enviasse para as grandes editoras, sendo que a Companhia das Letras acatou primeiro o trabalho.

 

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