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MÔNADAS NÔMADES

 

(Texto para a orelha do livro Nômada, de Rodrigo Garcia Lopes. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.)

 

 

                           Maria Esther Maciel

 

 

 

Há livros que trazem em suas páginas uma geografia. Constroem-se como superfície de planuras, relevos, extensões, densidades, variações climáticas e vegetações propícias ao solo que os constitui. Inventam territórios de papel.

 

Nômada, de Rodrigo Garcia Lopes, faz do deserto a sua paisagem. E, mais que uma paisagem, uma experiência – da linguagem e do poeta no agora do mundo. Isso, porque o deserto que os poemas do livro configuram não é apenas o lugar ermo onde nada tem lugar, o espaço do erro e da errância, com suas linhas de fuga, miragens e margens sem rio, mas também o cenário dos conflitos/dissídios de nosso tempo. É, simultaneamente, um espaço imaginário, “lugar do onde, do ontem, do quando”, e uma arena em que se discute, por vias transversas, as turbulências/contingências da realidade (ou “hiper-realidade”, no dizer do  autor).

 

Daí que o movimento seja, nesse livro, o próprio habitat da linguagem. Nômade, esta vai criando caminhos à medida que os percorre, experimentando formas e formatos diversos, de acordo com as modulações/acidentes do trajeto. É nesse sentido que a poesia de Nômada se aproxima tanto da música quanto do cinema. Seus trânsitos se evidenciam por blocos rítmicos – sem ponto de origem, sempre no meio da linha ou da página – e por imagens em movimento.Travellings, closes, avanços, recuos, velocidades e lentidões marcam sua temporalidade, seu devir. Isso se vê sobretudo na seção intitulada “Fragmentos em movimento”, na qual cada poema/fração é uma espécie de fotograma, uma mônada (um aleph?), que concentra em sua singularidade a potência do conjunto, ao mesmo tempo em que se interliga aos outros fragmentos. Aliás, todo o livro se estrutura como uma totalidade aberta, uma montagem rítmica e visual.

 

Outro traço dessa escrita  são seus desvios do verso para a prosa. Por conceber a poesia como um exercício de liberdade no plano da linguagem, o poeta explora os deslocamentos, contrações e expansões dos poemas na página, chegando mesmo a tangenciar, em certos momentos, uma espécie de “grau zero do gênero”, através do qual o texto, recusando os limites de um formato textual, faz-se precisamente da ausência deles. Tudo isso, sem prescindir do rigor e tampouco se furtar ao improviso (no sentido jazzístico) no manejo das palavras.

 

         Por essas e outras potencialidades é que Nômada consegue eternizar “o fugaz no grão da linguagem”, confirmando seu autor como um dos poetas mais instigantes/intrigantes do presente.

 

 

        

                                  
 
 

 

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