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AS VERTIGENS DA LUCIDEZ – poesia e crítica em Octavio
Paz de Maria
Esther Maciel (São Paulo: Editora Experimento, 1995)
Resenhas ________________________________________________
ESTADO DE MINAS, 29/11/1995: A LIÇÃO DE OCTAVIO PAZ
Eneida Maria de Souza
Torna-se cada vez
mais atraente a leitura de trabalhos desta natureza, na medida em que a
figura do escritor não se mostra apenas como o autor que se esconde nos
bastidores do texto, mas aquele que se empenha em apontar caminhos e discutir
posições. O exercício crítico, por sua vez, se enriquece e se liberta das
amarras de uma leitura tímida e fechada no âmbito da literatura, ao ressaltar
as relações do escritor com os princípios que norteiam a estética
contemporânea e o lugar ocupado pela poesia na história pessoal e intelectual
de seus autores. Investida da
função de delinear o perfil do escritor-crítico, Maria Esther Maciel nos
oferece um trabalho de fôlego sobre a formação de linhagens literárias em
torno da “tradição da ruptura”, tão bem conceituada e representada por Paz e
através da qual é possível delimitar uma das mais importantes vertentes
estéticas processadas no século XX. Ao compor a sua
reflexão teórica sobre os paradoxos da Modernidade, centrados no jogo entre
vertigem e lucidez, o livro de Esther elucida, com extremo rigor, conceitos
retirados da prática teórico-poética de Octavio Paz, tais como os de
tradição, ruptura, autoria, pós-moderno e analogia. De forma sensível e
inteligente, esses conceitos são construídos a partir dos traços metafóricos
presentes nos textos analisados, o que configura a tendência igualmente analógica
do discurso atual da crítica literária. De outras
qualidades se reveste As vertigens da lucidez, destacando-se, entre
elas, a séria pesquisa sobre a obra do autor, o que torna o livro referência
obrigatória para quem se interessa não só pelo escritor como pela relação
entre os conceitos de espaço e de tempo na Modernidade. Ao congregar a
poética vertiginosa e geométrica do artista plástico Escher à lucidez e ao
abismo do texto de Paz (a temporalização do espaço e a espacialização do
tempo), o estudo de Maria Esther se pauta pelo “ritmo zigue-zague” entre os
trabalhos do poeta e do artista, estabelecendo um “diálogo silencioso” entre
eles. O mérito da
utilização do mecanismo comparativo através do princípio de analogia entre as
poética de ambos autores rompe com o conceito fechado de fontes e influências
e abre a leitura crítica para a liberdade associativa do leitor. Desvinculando-se
de jargões teóricos e de gratuidades interpretativas, As vertigens da lucidez
marca um importante momento da história não só da crítica
latino-americana como da rica produção ensaística produzida nas universidades
mineiras. O leitor irá se deparar com a escrita elegante e criativa da
autora, que , por não se prender ao ranços acadêmicos ou aos delírios de
linguagem, sabe dosar as vertigens com lúcida paixão crítica. _______________________________________ Lúcia Helena
Os primeiros paradoxos de Paz (México, 1914) se inscrevem na própria conjunção entre vida e poesia: avô liberal, pai zapatista, em 1937 o estudante Octavio Paz abandona a família e a universidade, transferindo-se para Yucatán com o propósito de fundar uma escola para camponeses da região. A este jovem Paz, engajado nas utopias da modernidade, corresponde um outro, desconfiado das teorias revolucionárias, que chegou a gerar polêmicas por um esteticismo tido algumas vezes como exacerbado. Este sedutor intelectual, que por vias oblíquas enlaça autobiografia intelectual e produção estético-cultural, é o objeto da análise de Maria Esther Maciel em seu livro As vertigens da lucidez (São Paulo: Experimento, 1996), originalmente tese de doutoramento apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais, no início de 1995, em Belo Horizonte. Num texto inteligente e liberto da cantilena acadêmica que acompanha o rigor das teses não escritas para um maior público, o trabalho de Maria Esther Maciel constitui uma contribuição indispensável aos leitores (infelizmente sempre ainda muito poucos) interessados não só em saber algo mais sobre o exercício da crítica e da poesia do escritor mexicano, mas também inquietos por uma discussão consistente e rica dos percalços de um intelectual latino-americano em sua trajetória entre o nacional e o internacional, entre o periférico e a ânsia de abrir-se a espaços mais amplos de interlocução. Examinando o entendimento da modernidade na obra de Paz, e o privilégio que ele concede a uma compreensão da poesia que tem seu fundamento na analogia, num jogo simultâneo de afinidades e oposições entre os signos, Maria Esther Maciel investiga também, e de forma arrojada, a relação paradoxal, no texto de Paz, entre o impulso de um texto que sempre se volta para si mesmo, num exercício de questionamento da linguagem pela linguagem, e o de um crítico voltado a pensar a historicidade de sua cultura, do que resulta uma escrita híbrida que tenta suplementar os contrários e promover o encontro do sujeito com a “otredad”. Na impossibilidade de comentar todo o trabalho de Maria Esther, minucioso e perfeccionista, creio que o mais fascinante dessa pesquisa, não domesticada academicamente, repito, é a cena de fulgor que ela prepara com cuidado: o encontro da escrita de Paz com a gravura de Escher, tecido numa espécie de vozes em espiral. Nesse mosaico de vozes em dispersão orquestrada, tanto o trabalho de Escher quanto o de Paz merecem um tratamento duplo e simultâneo: de um lado, Maria Esther problematiza que na obra dos dois artistas o real é captado em sua metamorfose e a arte em sua busca de tematizar a ilusão da referencialidade de que se alimenta, e que está contida em todo o trabalho artístico, que convive, por vezes dramaticamente, com o dilema de ser e não ser uma inscrição do homem na história dos homens. Por outro, discute-se a linguagem altamente cifrada e conceitual daqueles trabalhos artísticos, que operacionalizam um jogo entramado de elementos em delírio “pensante”. Desse confronto crítico que focaliza diversidades, analogias e contrapontos, emerge um gravurista magnífico, cujo trabalho se enlaça com a sempre fascinante reflexão paradoxal de Octavio Paz . Pondo em intercomunicação a arte visual e a arte das imagens por palavras, Maria Esther Maciel “desenha” um belo livro. O livro de uma mineira que também encontra a otredad das suas minas. Superando a tradição do diz-que-diz cultural, Maria Esther deve ter-se cansado de “trabalhar em silêncio” e veio, creio eu, para ficar. _________________________________________
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