Apresentação

O XIII Congresso Internacional IAWIS/AIERTI tem por foco o conceito de Sedimentação, articulado a reflexões sobre o Texto e a Imagem. Esse termo, em seu sentido literal e metafórico, pretende abranger questões históricas, teóricas e temáticas que atravessam as produções culturais, literárias e artísticas, considerando as tensões, articulações, oscilações que entrelaçam a palavra e a imagem.

A escolha da temática decorre não apenas de sua pertinência para os estudos do Texto e da Imagem, mas está estreitamente relacionada com o espaço geográfico que acolherá o evento. A Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (https://ufmg.br/) está situada na cidade de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, célebre por sua fecunda tradição histórica e artística. Como seu nome indica, essa região é conhecida por suas minas de ouro, jazidas de minérios e pedras preciosas, cuja exploração permitiu a construção de um grande número de cidades no contexto do Brasil colônia, tais como Ouro Preto e Diamantina, cidades onde se encontram as obras mais representativas do chamado barroco mineiro, seja a arquitetura, a escultura ou a pintura. Por outro lado, o extrativismo mineral tem deixado marcas traumáticas nesse território. Os recentes rompimentos de barragens em Mariana (2015) e em Brumadinho (2019), causadores de centenas de mortes e responsáveis pela contaminação de terras e rios da região, representam as maiores tragédias ambientais do país.

Próximo à cultura barroca das cidades históricas foi construída, no final do século19, a atual capital do estado, Belo Horizonte. Com o crescimento da população e a expansão urbana acelerada e muitas vezes caótica, a cidade exibe hoje o contraste de estilos os mais ecléticos com a mundialmente conhecida arquitetura modernista de Oscar Niemeyer, por exemplo, de modo que aquele que visita ou caminha pelas ruas tem, com frequência, a impressão de atravessar diferentes temporalidades.

Destaca-se ainda a coexistência de diferentes momentos históricos e um prolífico leque cultural assim que nos aproximamos da periferia da grande capital: do Instituto Inhotim, possivelmente o maior museu de arte contemporânea do mundo ao ar livre, à pré-história do sítio arqueológico de Lagoa Santa, onde o paleontólogo dinamarquês Peter Lund fez suas pesquisas no século19; sem esquecer os  grupos indígenas de diferentes etnias, tais como os Krenak, os Xacriabás e os Maxacalis, que vivem e resistem em aldeias em Minas Gerais.

Os estratos temporais que se observa nessa única região de um país de dimensões continentais espelha o gigantesco palimpsesto que constitui a cultura brasileira, caracterizada pela mestiçagem, mas também pelo racismo estrutural advindo de um longo processo de escravização de povos de origem africana, por movimentos constantes de deglutição crítica do passado para fazer surgir o novo. Esse quadro espacial específico, marcado por sua riqueza geológica, vetor de modernização e de destruição, nos parece oportuno para refletir sobre a ideia de sedimentação de maneira mais ampla, como processo dinâmico, fluxo e refluxo, como entrelaçamento de tempos,  sempre sob a perspectiva da palavra e da imagem. No momento histórico atual, em que as noções de tempo e de espaço se encontram "telescopadas", para retomar um termo de W. Benjamin, e em que a ubiquidade se tornou virtualmente possível, quando se torna necessário abrir seu "compasso na dimensão do planeta", como diz M. Butor, como as manifestações culturais, artísticas e literárias percebem e traduzem o tempo em sua dimensão impura e anacrônica?

Essa indagação inicial indica as possíveis direções a serem exploradas:

  • Arqueologia da palavra e da imagem: do ideograma às novas tecnologias; da pré-história à era digital; do ut pictura poesis à intermidialidade;
  • Travessias espaçotemporais: trânsitos entre o Velho e o Novo Mundo, relatos de viagem do passado e do presente; utopias, heterotopias, distopias;
  • Palimpsestos, jazidas, húmus: representações e metáforas da escavação, do arquivo e da memória;
  • "Tupi, or not tupi that is the question" (O. de Andrade): deglutição crítica, antropofagia, apropriação, colagem, mestiçagem;
  • Escrita e imagem na perspectiva ecocrítica: ·a ecocrítica intermidial; modernização e destruição da paisagem natural; relações entre espécies; ecofeminismo;
  • Decolonização da literatura e a relação palavra-imagem: crítica decolonial; literatura e arte de povos originários e afrodescendentes.

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