Grito de angústia
 
À memória de meu pai
 
Dê-me a mão.
Meu coração pode mover o mundo
com uma pulsação...
Eu tenho dentro em mim anseio e glória
que roubaram a meus pais.
Meu coração pode mover o mundo,
porque é o mesmo coração dos congos,
bantos e outros desgraçados,
é o mesmo.
 
É o mesmo coração dos que são cinzas
e dormem debaixo da Capela dos Enforcados...
é o coração da mucama
e do moleque;
e eu sei muitas canções de ninar gente branca,
sei histórias,
todas feitas à sombra das palmeiras,
ou nas margens do Nilo...
 
Eu conheço um grito de angústia,
trovejante,
que deve estarrecer todas as minhas amantes
que tenho decerto...
 
Eu conheço um grito de angústia,
e eu posso escrever este grito de angústia,
e eu posso berrar este grito de angústia,
quer ouvir?
"Sou um negro, Senhor, sou um... negro!"

                       (15 poemas negros, p. 51-52)