Incursões sobre a pele

É preciso não carregar
a pele como um fardo.
[Guerreiro Ramos]

Eu, por mim, sinto a pele
Como um terno
Um hábito fraterno
Um costume propício,
E não um vício. 

Eu, por mim, sinto a pele
Nem fardo, nem farda
Apenas embalagem
Feita para viagem

Sinto a pele
Como um fato
Da cor do Homem
Da História
Da Luta e da Vitória.

Mas um outro Brasil
O dos bancos e usinas,
Cujo avô partiu
Um dia lá do Porto
Para violar-lhe a avó
Na foz do Rio Volta,
Esse Brasil cafuso
De mãe mameluca
Se mira na Lagoa da Tijuca
E vê a parda pele
Alva como açúcar.

(Poétnica, p. 28)