ECLIPSE

Olho no espelho
E não me vejo
Não sou eu
Quem lá está 

Senhores
Onde estão os meus tambores
Onde estão meus orixás
Onde Olorum
Onde o meu modo de viver
Onde as minhas asas negras e belas
Com que costumava voar 

Olho no espelho
E não me vejo
Não sou eu
Quem lá está 

Senhores
Quero de volta
Os meus tambores
Quero de volta 

Os meus orixás
Quero de volta
Meu Pai Olorum
Em seu esplendor sem par
Quero de volta
O meu modo de viver
Quero de volta
As minhas asas negras e belas
Com que costumava voar 

Olho no espelho
E não me vejo
Não sou eu
Quem lá está 

Séculos de destruição
Sobre os ombros cansados
Estou eu a carregar
Confuso sem norte sem rumo
Perdido de mim mesmo
Aqui neste lado do mar
Um dia no entanto senhores
Eu hei de me reencontrar.
(Quilombo, p. 65-66)