Estória no Telespelho

Falemos de nós agora
Contemos nos dedos o que fomos nós
Lembra da inocência!
Pra onde foram aqueles meninos danados?
Nossas fantasias ficaram nas calças Curtas
Nos pés descalços, na bola de capotão
Éramos perfeitos atores, às vezes
Representando uma realidade que víamos
Com a consciência lambusada de doces
E auto-rejeição
Lembra dos planos!
Pra onde foram aqueles rapazes e garotas?
Nossas fantasias ficaram nas esquinas
Nas idas ao cinema, nos papos de madrugada
Éramos personagens inexpressivos, às vezes
Vivendo uma realidade que víamos
Com a consciência incrustada de chicletes
E pastas de alisar cabelo

Lembra das decepções!
Onde estão os nossos velhos amigos agora?
Nossas fantasias estão na cabeça
No dia-a-dia, nas visões de futuro
Somos protagonistas vulneráveis
A espera de um perfil

(“Estória no telespelho”, p. 37.)