Zagaia (trechos)
O moleque é Zagaia
Filho de presidiário
Ardida fera ligeira
Criada sem horário
Aprendiz da Lua Cheia
Veneno de Serpentário
Pai sempre na carrocinha
Zagaia rua e casa
Neblina e madrugada
No vidão ganhando asa
Amigo dos viajantes
Descalços pisando brasa
É bom lembrar o óbvio
Senão fica esquecido
Trocentos anos de senzala
Negro chicote sentido
Hoje em morros crianças
Rosto preto ou curtido
Filhote no subúrbio
Mulato, pardo ou preto
Sobra futuro capenga
Dia-a-dia de espeto
De ancestral Moçambique
Angola, Jejê ou Queto
Cabra vindo do Nordeste
De pele pouco mais clara
Também sofre do Quebranto
Pois justiça é joia rara
Fugindo da amargura
Com tristeza se depara
No bairro onde ficaram
Predomina a pindaíba
Guetos quentes sempre cheios
De irmãos da Paraíba
Moeda forte por ali
É malícia e catimba
(Zagaia, 2007.)