Thaíse Santana

Negras esperanças


você beija minha boca
você diz juras de amor
no meu pé do ouvido
você abala os meus sentidos
arrepia o coração
sua mão preta macia
passeia nos meus labirintos
segue seus instintos
esquece a razão
você suga meus seios
sedentos por suas carícias
você diz que são perfeitos
assim acesos
nas suas mãos
você morde os meus mamilos
mastiga o meu juízo
a sua língua
desce até o meu umbigo
os seus dedos vão além
curiosos percorrem linhas
curvas e retas
se guiam por mapas
mas se perdem
nas cartografias do meu corpo-água
seus olhos descobrem ilhas secretas
encontram frestas
você me penetra
fazemos festa
eu suspiro eu grito eu calo
o seu falo me preenche
você me acende
me faz mulher
quando saciado
goza o desejo
há tempos guardado
nas profundidades do meu ser
muito além do prazer
reacendemos o fogo
refazemos nossa aliança
e você planta no meu ventre
a semente de nossas negras esperanças.


(Dentro da casa o vazio, 2024)