O PALHAÇO NO PÁTIO

Sorria no meio do pátio da escola. 

Um sorriso aliviado de quem chega ao fim. 

Rodava com os braços abertos como quem deseja abraçar o vento (ou o vento que deseja ser abraçado). 

Uma mistura de coisa e gente rodopiava na sua cabeça. Não eram rostos, era um borrão que ria. 

A mesma sensação de sempre, mas estava cansado de fugir de um fim que julgava certo. 

A platéia ria inocente, se divertindo com a cena - é só mais uma: 

Como da vez que fora pra aula todo sujo; que apareceu com a cabeça raspada; que mijou nas calças; que chorou na frente dos amigos porque não tinha pai; que fora pego fumando; que xingou a servente; que tirou as calças no meio da sala; que queimou as carteiras; que explodiu a privada do banheiro; que sumiu da escola por quinze dias; que roubou a carteira da professora; que jurou de morte o aluno da 5ª E que lhe chamou de preto sujo... 

O palhaço mostra a arma para todos verem dos fogem. 

Põe a arma na cabeça - todos gritam. 

Atira - morre só. 

(Helton Fesan; Cadernos Negros vol.30; p.109)