A caixa de surpresa (trecho)

O menino procurou em gavetas. Mexeu. Remexeu. Não achou nada muito interessante. Procurou no fundo do quintal. Lá onde guardava seus tesouros! Coleção de conchinhas do Mar de Itaparica. Pedras roladas do leito do Velho Chico. Botões de três gerações. Tampinhas históricas do antigo jogo de botões do avô que já partiu...

O menino não conseguiu abrir mão de nenhum daqueles objetos. Eram muito preciosos... O menino pensou, então, em ser mais previsível. Juntou flores do campo. Fez um enorme buquê. O buquê ficou lindo durante algum tempo.

Logo, logo, o menino percebeu que aquela não tinha sido uma boa ideia. O buquê ficou mal humorado. Buquê emburrado. Com saudades da planta mãe... Esse não seria um bom presente.

O menino (que se chamava Victor) catou cristal na trilha de pedras. Guardou, em vidro, o cheiro do capim gordura. Guardou, nos olhos, o azul e preto da borboleta lenta que passou... Guardou na pele, nos cabelos e na roupa o molhado, gelado de espirro de nuvens...

Victor ainda tentou alcançar um arco-íris, que se exibiu no céu como cauda de pavão, mas uma nuvem chegou primeiro e levou o arco colorido para longe...

Naquela altura da tarde, começou a colher raios de sol poente... mas, todos que restavam, brincaram de esconde-esconde atrás das montanhas oeste. Primeira estrela que vejo no céu, vem morar no meu chapéu? Estrela piscou de longe, mas não desceu do céu...

Como era difícil alcançar um presente natural sem ter que gastar moedas do porquinho de barro... Mas, Victor não pensava em desistir.

[...]

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