Água Negra

Chove muito na cidade.
No asfalto betumoso um sangue transparente,
ora de um rubro desencarnado,
ora encardido de um cinza nebuloso,
é vomitado em cólicas
por toda a parte.

 
Das paredes duras vaza um mais escuro que,
imagino,
seja a água mordendo as estruturas.

 
A água é assim:
atiçada do céu,
infinita no mar,
nômade no chão pedregoso,
presa no fundo de um poço imenso:

 
A água devora tudo
com seus dentes intangíveis.
(Água negra, p.39)

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