(Re)Existências: historicidade e militância¹
Luanda Martins Campos
Ei! Vou te contar uma história.
Eu sou do Maranhão, uma terra de lutas e de resistências que movimentam a nossa identidade.
Aqui no Maranhão, nossos movimentos significam andar, cantar, falar, fazer arte para exigir nossos direitos. Território, educação e saúde sempre fizeram parte das lutas do povo negro maranhense. E nossa ancestralidade nos acompanha em cada passo que a gente dá.
É na pungada do tambor de crioula e no urro do boi que nossas histórias giram e se encontram. A pungada é o encontro de umbigos das coreiras no tambor de crioula que reverenciam a vida em comunidade. O urro do boi é um grito de resistência que no bumba-boi do Maranhão chama todo mundo para guarnecer, para se organizar. E assim, a gente percebe que nossa luta se faz no coletivo. E que cada encontro é sagrado. É assim que a gente organiza nossas lutas todo dia. Sabia que somos herdeiras e herdeiros de grandes lutadoras e lutadores?
Somos herdeiras e herdeiros de Negro Cosme, o Cosme Bento das Chagas que no século XIX liderou uma das maiores rebeliões populares do Brasil, a Balaiada e que fez da educação uma arma contra a escravidão. Também somos guiadas e guiados pelo Axé!
Nossos corpos se movimentam, dançam e reverenciam a força dos encantados, dos orixás, das yabás e dos caboclos pelos caminhos da justiça, da liberdade e da irmandade.
E é assim que o Maranhão se movimenta!
Em cada canto dessa terra o povo negro organizado resiste e (re)existe. Entidades, organizações, gerações que se cruzam para ensinar e aprender ao mesmo tempo.
Para entender essa história de luta, você precisa conhecer as organizações e pessoas importantes nesse caminhar: como o Movimento Quilombola do Maranhão, que representa quilombolas da cidade e do interior resistindo pelos seus territórios.
Nossos corpos falam, e como falam, dançam e cantam! Conheça o Bloco Afro Akomabu, o Movimento Hip Hop Quilombo Urbano, os grupos de tambor de crioula, a capoeira e o reggae que trazem em suas linguagens as denúncias e os desejos pela liberdade.
Mulheres sempre à frente. Grupo de Mulheres Mãe Andresa, presente! Os movimentos da maternidade e da comunidade nos trouxeram até aqui: Ana Silvia Cantanhede, Mãe Andresa, Mãe Dudu, Catarina Mina, Maria Aragão e tantas outras que nos dão a mão em nossos primeiros passos na militância.
Na gira dos movimentos, a luta se faz presente e sempre retorna ao passado para beber da fonte e costurar um futuro justo.
O movimento negro já possui muitas vitórias conquistadas com empenho coletivo e respeito a quem veio antes de nós. Conquistas como a Lei 10.639/2003, o Estatuto da Igualdade Racial e a lei de Cotas são exemplos de como o movimento negro no Brasil luta desde sempre e se fortalece em quem vem chegando para somar.
Agora, até você entra na roda e faz girar esse movimento de luta. Resistir e lutar são os verbos que mantêm vivo o movimento negro no Brasil e no Maranhão. Aqui sua voz também traz história e mostra que mesmo pequeno, temos o poder da mudança.
Notas
¹Texto publicado originalmente no livro (Re)Existências: historicidade e militância (2023)
(In: (Re)Existências: historicidade e militância)