Angustia de não ser nada
Este meu eu sangrando madrugada
Vai salpicando os tempos de vermelho,
Em cada mutação em que me espelho
Vejo a angustia de não ser nada.
Ao desmanchar-se em carnes meu joelho
Sinto gosto de tardes na alvorada,
Lembro criança descalcificada
Carregando o seu tísico Aparelho.
A geração dos meus tombou falida.
Sem destino hoje vou de queda em queda
Como tudo que é triste nesta vida.
Se sou homem, não sei... sei que entre abrolhos
A existência num mar de pedra
Vendo o mundo encalhado nos meus olhos.
(As gestas Líricas da negritude, 1967, p. 19).