Morte ao passado
Eu não sei se era preciso, carregar sobre os ombros
Tantos escombros, tantos passados
Já nos bastavam a fuligem e o breu, o apelido
De nossa pele lucipotentemente ebânica.
Eu não sei se era preciso, desesperar minhas crianças
Esguedelhar, das mães, a cabeça; engomando pensa-
mentos
Arrancar as preferências e, debulhar um rosário ver-
De
De queixas maduras...
Só para hastear uma bandeira, visionária, autoritária
De essência colonial?
Eu só sei,que hoje é preciso balançar os ombros
(Como cão molhado) remover os escombros
Empunhar, do passado, a espada, lustrar o ébano
E a eles, apontar a fuligem, em reversão
Acalmar as crianças e...
Num amasí “lavar” a cabeça das mães
Mijar e cuspir no lábaro da colônia, pois
Já não temos de quem nos queixar – e nem é preciso
É só fazer a hora!
(Caxinguelê, p. 82).