Eduardo
Wesley Correia
O coração de Eduardo parou
na Avenida Carlos Gomes.
Nós, que o observávamos, comiserados,
éramos a dimensão trágica de sua existência,
contornando como uma parabólica
as razões de seu pênis circuncidado
e tão ausente de conceito.
Nós, diante do corpo jazido,
íamos dotando de sentido a morte
e esvaziando de sentido a vida.
Eduardo nos enchia de movimento místico.
Nós o queríamos apoiar nos ombros,
obrigando-o a regressar à casa:
- Levanta, meu filho, anda,
nos exima dos ardis da ciência.
Nem carece de tanta coragem ou medo,
pois que o ímpeto e o recuo
se processam é no justo lugar.
E crê em Deus Pai, Eduardo,
que nossas angústias são prolongáveis.
(In: Laboratório de incertezas, p. 53-54)
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