abraFANZINE: DA PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE À SALA DE AULA



Fernanda Ricardo Campos

Especialista em Leitura e Produção de Textos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professora do Departamento de Linguagem e Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)

Resumo

Neste artigo, apresento a utilização do fanzine como nova linguagem e ferramenta para a produção de textos, um recurso de ensino-aprendizagem em sala de aula e incentivo à livre expressão. Interessa-nos despertar os alunos para um fato óbvio e, talvez exatamente por essa razão, tão pouco explorado: o de que todos temos algo a dizer e maneiras particulares de fazê-lo. O que se aprende com os zines? Essa pesquisa foi realizada durante uma oficina com alunos do Ensino Médio no ano letivo de 2008, em uma escola da rede federal, na região de Belo Horizonte-MG. Investigo o que se aprende com o fanzine e seu uso em sala de aula. Foram descritas as condições de produções dos fanzines sob diferentes temas. As análises das condições das produções textuais obtidas apontam para a necessidade de se considerar procedimentos que propiciam a produção de texto em situações efetivas de comunicação, observando-se, entre outros fatores, os objetivos de produção e os interlocutores possíveis.

Palavras-chave: fanzine – interação – produção de textos


Introdução

Propor aos alunos a produção de textos em uma situação em que a escrita cumpra sua função social é um desafio para o educador. É importante tornar público o texto do aluno, o resultado final do processo de trabalho: comunicar, convencer, explicar, ou seja, fazer com que o texto seja lido. O teatro e o jogo de interpretação e interação (RPG), por aproximarem o aluno da tarefa de produção e deixá-lo em contato direto com o conhecimento, são gêneros importantes aliados do professor em sala de aula. É nesse contexto também que o fanzine pode ser visto como mais um instrumento que ajuda o professor a aproximar os alunos da expressão escrita.

Um fanzine é um veículo simples de ser feito, com um baixíssimo custo de produção e uma força de comunicação considerável. O aluno que aprende a produzir um fanzine aprenderá a se expressar não apenas para a comunidade escolar como um todo, mas também para a comunidade extra-escolar (amigos, família, parentes), entendendo a comunicação como divulgação direta da ideia de quem produz sem visar ao lucro, o que mantém o que está escrito no papel mais próximo da intenção do autor.

Os fanzines são uma mistura de veículo de comunicação e obra literária, possuem um caráter socialmente agregador, já que buscam a troca entre os produtores. São também um registro espontâneo da história recente, um recorte que reflete a realidade social contemporânea, uma transmissão de informações e produção de cultura.

Esta pesquisa trata da utilização do fanzine em sala de aula e tem por objetivo verificar a atuação do fanzine como nova linguagem e ferramenta para a produção de textos, como um recurso de ensino-aprendizagem em sala de aula, que pode fortemente atuar como incentivo à livre expressão. A hipótese inicial é de que a forma desse objeto, tão contaminado de rua e de vida, pode despertar os alunos para um fato óbvio (e, talvez exatamente por essa razão, tão pouco explorado): o de que todos temos algo a dizer e maneiras particulares de fazê-lo. Trata-se de como dois universos podem colaborar mutuamente num ambiente de ensino e aprendizagem envolvendo zines.(1) O universo do zineiro e o universo do professor, ambos lidam com a linguagem e têm algo a ser transmitido. Enquanto o professor, por meio de um cronograma pré-estabelecido e dividido em áreas, busca repassar conhecimentos da cultura humana, o zineiro, fruto mais que vivo (pois parte de descobertas empíricas) dessa mesma cultura, espontaneamente organiza seu conteúdo, seu método e seu público. E, fato bastante relevante, não é preparado nem remunerado para isso. É um amador, faz isso por prazer. Porém, é possível afirmar que ambos convergem – pelo menos em teoria – para objetivos similares como o de desvendar mundos e despertar a curiosidade e o espírito crítico de sua audiência.

Um fanzine é diferente de uma revista tradicional justamente porque seu realizador não se preocupa com o mercado editorial nem com o lucro que pode obter. É uma forma de expressão livre, feita em função dos direcionamentos dados pelo grupo de editores. Publicação independente e livre, o fanzine pode ser reproduzido e também dar origem a outros fanzines. No caso da escola, o fanzine pode ser uma produção interessantíssima, realizada como criação coletiva de professores e alunos, a partir de um tema de conteúdo escolar. Pode também assumir o papel de um veículo de comunicação entre os diversos segmentos que compõem a escola. Para a área de Língua Portuguesa, visando à produção de textos, o trabalho com fanzines pode trazer inúmeros benefícios. Um deles é o de demonstrar o caráter abrangente, criativo e prático da língua – atributos que nem sempre ficam claros nas aulas expositivas sobre os temas mais comuns da disciplina. O fanzine pode contribuir para formar alunos crítico-criativos, pois põe à prova o fato de que todos podem e devem escrever, e têm o que dizer sobre fatos e situações que os rodeiam.

Hoje em dia, com o advento da Internet e dos meios eletrônicos, existem os chamados “fanzines eletrônicos”, ou e-zines cuja característica é trazer para a linguagem do computador os temas e assuntos tratados outrora nos fanzines impressos, o que também é uma maneira interessante de utilização dos meios de comunicação em sala de aula. É possível, por exemplo, criar um fanzine e um e-zine, no formato de blog, para dar mais sustentação e abrangência ao projeto.

O enfoque desta pesquisa justifica-se na medida em que se tem necessidade de refletir sobre como os alunos tornam-se usuários da escrita à medida em que o mundo escrito começa a fazer parte de sua vida de fato. A arte e a comunicação possuem um caráter decisivo nas perspectivas de mudanças de hábitos já estabelecidos, além de expandir novas visões, reflexões e identidades. Atuam também como facilitadoras em busca de novos caminhos, aproximando e compartilhando experiências. Diante disso, pretendo investigar: o que se aprende com os zines? O que move um professor da escola formal na decisão de fazer uma atividade envolvendo zines na sala de aula? A vontade de buscar outros caminhos para atingir seus objetivos? Certa curiosidade quanto ao imprevisível? Ou perguntas sobre o que os alunos realmente têm a dizer?


Referencial teórico

Tendo como objetivo apresentar o quadro de referência que orientou esse trabalho, é necessário definirmos mediação, interação e produção de texto.

Nesse constexto, é importante tornar público o texto do aluno, o resultado final do processo de trabalho e, para isso acontecer, é importante a relação professor-aluno. Segundo Vygotsky, o conhecimento não pode ser visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, como no construtivismo, mas como uma mediação feita por vários sujeitos. Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que ele vai internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que lhe permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano individual e interno - relações intrapessoais.

Assim, a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica desencadeia um processo de ensino-aprendizagem. Portanto, é papel do docente provocar avanços nos alunos e isso se torna possível com sua interferência no aprendizado, incentivando o desenvolvimento mental que pode se realizar por esses meios. Existem pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificados por Vygotsky: um real, já adquirido ou formado, que determina o que o aprendiz é capaz de fazer por si próprio, e um potencial, que mostra sua capacidade de aprender com outra pessoa.

Vygotsky também destaca as contribuições da cultura, da interação social, e a dimensão histórica do desenvolvimento mental, sustentando que a inteligência é construída a partir das relações do homem com o meio.

A interação permeia toda a experiência humana, provoca transformações nos sujeitos na medida em que, entre as diversas interações vivenciadas num determinado contexto, umas permitem a apreensão de conceitos e outras possibilitam a reconstrução desses conceitos pelos sujeitos. Dentre essas experiências, podemos encontrar a manifestação da linguagem, que foi concebida como interação verbal por Bakhtin.

Para Bakhtin, as organizações do pensamento e da linguagem estão estreitamente ligadas. O autor defende que o centro organizador e formador da expressão não se encontra no interior do sujeito, mas no exterior. Ele propõe que “a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor.” Tem-se, portanto, em Bakhtin(2), a defesa de uma concepção de linguagem como interação verbal. Isso pode ser muito útil, quando se trata de compreender os processos linguísticos desenvolvidos na e pela escola.

A interação texto-aluno-professor permite, por meio dos diálogos e da construção dos sentidos do texto, identificar a situação de comunicação verbal e reconhecer o gênero textual empregado. Se o objetivo, na sala de aula, é construir o conhecimento, por parte de aluno e professor e por meio do texto, é importante haver um conteúdo que vai determinar a ação do professor e do aluno. Nesse sentido, a produção do fanzine é uma atividade que pode desencadear várias formas de interação, possibilitando aos alunos, a partir da escrita e do professor, interagirem a partir de diferentes lugares sociais e em diferentes espaços de produção.

Para Geraldi(3), “produzir implica alguém que produza”. O autor afirma que a produção de textos deve ser vista como a devolução da palavra ao sujeito, desde que seja devolvida e permitida ao aluno a possibilidade de se posicionar, de argumentar, de trazer para a sala de aula seu saber, de poder ser ouvido e ouvir - nesse contexto, surge o espaço para o diálogo.


Mas, infelizmente, ainda encontramos na sala de aula propostas de redação que servem somente como sugestão para o exercício da escrita, em que o aluno apenas escreve textos para a escola. Ele é orientado a escrever um texto com base em um tema, uma imagem, um passeio real ou imaginário apenas para mostrar o que sabe . E o professor avalia o texto focando critérios como criatividade, concordância, pontuação e ortografia. Isso revela que o aluno não escreve com intenção definida, não idealiza um possível leitor - ele escreve apenas para a avaliação do professor.


Um dos princípios para a verdadeira produção textual é o entendimento do ato de escrever como uma prática social, o que pressupõe a diferença entre escrever como grafar e escrever como produzir texto e construir significados sócio-compartilhados. O segundo é que a produção textual seja uma prática social, sendo necessário ter uma visão mais rica do ato de escrever. Assim, escrever não pressupõe apenas a produção do texto, mas que o aluno saiba quem são seus interlocutores, tenha clareza da situação comunicativa: quem escreve, com que intenção, qual seria o gênero textual mais adequado, o que se deve dizer, quem vai ler o texto, onde ele será publicado. Dessa forma, autor e leitor podem atingir seus objetivos de trocas simbólicas, pois quem produz algo produz para alguém: o discurso só se realiza por meio da interação ou do diálogo no sentido mais abrangente do termo. Segundo Magalhães(4), logo que o fanzine se tornou espaço de reflexão e troca de ideias, de informação e participação, ampliaram-se "as possibilidades de liberdade de expressão".


Dionísio(5) afirma que o texto resulta de uma situação comunicacional que deve levar em consideração o emissor, o receptor, a instituição social em que se dá essa interação, seu conteúdo temático e o gênero em foco. Para a autora,


uma consequência didática decorrente desses estudos é a de que não se deve enfocar o ensino da produção (e da leitura também) de texto como um procedimento único e global, válido para qualquer texto, mas como um conjunto de aprendizagens específicas, pois os estudos aplicados mostram que muitas das dificuldades dos alunos são específicas de um determinado gênero textual.


Ao lado disso, a proposta de produção textual, na perspectiva da interação, vem ganhando, cada vez mais, adesão no âmbito educacional.

É o que se pode constatar nos PCNS:

A linguagem, por realizar-se na interação verbal dos interlocutores, não pode ser compreendida sem que se considere o seu vínculo com a situação concreta de produção. É no interior do funcionamento da linguagem que é possível compreender o modo desse funcionamento. Produzindo linguagem, aprende-se linguagem.(6)

Assim, nesta pesquisa, à luz da diretriz oferecida pelos PCNS (Brasil, 1997) e sob a fundamentação teórica apresentada, procurei investigar o trabalho com o fanzine, vinculando-o à sala de aula e levando os sujeitos, professor e aluno, à reflexão sobre seu uso de acordo com suas intenções comunicativas, com as posições sociais ocupadas por locutor e interlocutor e segundo os recursos linguísticos disponíveis.

O que significa "fanzine"?

O termo "fanzine" vem da junção das palavras "fanatic" e "magazine": "revista de fanático" ou "revista de fã". É uma publicação de caráter experimental ou amador, na qual se aborda algum assunto de que se é fã (normalmente quadrinhos), visando fazer amizade com leitores aficionados da arte ou do tema em questão. Diferentemente do que acontece em revistas e informativos convencionais, nos fanzines o autor é totalmente livre para expressar pensamentos e gostos sem restrição, não necessitando seguir uma periodicidade, um formato, um assunto do momento ou uma qualidade editorial superior – e certamente garantindo a satisfação de quem o produz ou lê. A tiragem do fanzine costuma ser pequena e raramente o lucro é visado.

O fanzine se oficializou crescendo à margem dos meios de comunicação impressa. Os jornais e as revistas, na maioria das vezes, estão a serviço de um poder ou de uma instituição, ao contrário do fanzine que está a serviço de seu editor (produtor). Por suas histórias, os fanzineiros eram tidos como punks, roqueiros, rebeldes, no sentido pejorativo das palavras, o que caracterizava essa publicação como marginal.

O fanzine vive e sobrevive da camaradagem. Por isso, normalmente, ele é artesanal, com desenhos à mão, colagens, montagens, gravuras, xerox, grampeados em casa etc. Há também aqueles que são editados em computador e reproduzidos em gráfica. Uma terceira maneira, simples e econômica, de se produzir um fanzine é via Internet - trata-se do fanzine virtual ou e-zine.

Para ilustrar o que digo, reproduzo a seguir a capa de um fanzine sobre eleição:



O fanzine é um estímulo ao uso da criatividade e à produção autônoma, vindo a ser não só um “curinga” na sala de aula, mas uma forma de trabalhar qualquer disciplina de forma reflexiva, consciente e divertida. Diferentemente de algumas tecnologias como um jornal diagramado no computador e depois impresso, para o qual os alunos necessitam de preparo prévio, o zine pode ser aplicado até em turmas semi-analfabetas ou em processo de letramento, de diferentes idades e classes sociais. O fanzine agrega, envolve pela simplicidade, pelo rompimento da relação burocrática entre o estudante e o papel, entre o produtor e suas expressões. O fanzine surge como uma ferramenta de baixo custo e que comporta uma infinidade de temas.

Por esses motivos, propus uma intervenção que se resumiu na aplicação de uma oficina de produção textual no Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET –, em Belo Horizonte. A escola promove anualmente o Festival de Arte e Cultura, semana em que são realizadas diversas atividades de caráter educativo e de entretenimento, abertas ao público externo e inteiramente gratuitas. Como parte prática deste projeto, realizei nesse Festival uma oficina de produção textual cujo foco foi a elaboração de fanzines, com o objetivo de estimular nos participantes a crítica, a criatividade, a propagação livre de opiniões, bem como levar os resultados à comunidade e trazer aos alunos um retorno dessa interação.

Acredito que a produção de obras literárias marginais ou mídias alternativas não deve ser valorizada apenas em termos de seu produto final, mas principalmente pelos processos de produção de seus objetos: debates, seminários, conversas etc.

Porque usar o fanzine

Nos últimos anos, é crescente o número de atividades propostas por professores envolvendo zines nas escolas públicas e particulares, e aí dois trunfos dos zines se configuram. O primeiro é o uso recorrente da linguagem informal, fato que ajuda a quebrar a cerimônia para com a escrita tão presente em aprendizes. Como informa Magalhães,

o fanzine por vezes serve de inspiração ao meio empresarial, que nele encontra elementos de renovação estética. Enquanto manifestação espontânea e democrática de grupos, muitas vezes formados por jovens, o fanzine faz ainda a legitimação das linguagens populares, nem sempre percebidas pelos círculos oficiais.(7)

A fala cotidiana, com suas gírias e expressões populares típicas do local e de grupos, é registrada em zines e constitui um tipo de tesouro linguístico que, devido à espontaneidade com a qual ocorre, dificilmente será encontrada na linguagem utilizada pelas mídias maiores ou social e mercadologicamente estabelecidas. A situação se torna ainda mais complexa quando o idealismo e a criatividade no uso da língua (flertando muitas vezes com as mesmas armas da linguagem publicitária), fazem-se de forma característica no meio underground e acabam sendo muitas vezes captados pelo mercado.

Outro trunfo é a possibilidade de brincar com a linguagem visual, seja através do leque de opções na manipulação do texto (recortado e colado, desenhado, manuscrito, datilografado) ou das imagens (desenhos, fotos, imagens alteradas, scaneadas, recortes etc.). Tal vantagem parece cair como uma luva para as novas gerações.

É bem provável que, numa sala de aula, um zineiro jamais se revele a seus professores. Mesmo que seja um aluno que se diferencie dos outros, é provável que permaneça anônimo. Tais aprendizes acabam desenvolvendo uma construção artística/comunicativa para si, através de zines, capaz de proporcionar-lhes vivências que a escola não alcança. Os zines são feitos para passar de mão em mão, não para serem corrigidos ou arquivados como trabalhos escritos na escola no decorrer do ano letivo. A prova contínua à qual todo zineiro se submete espontaneamente é expor-se ao mundo exterior, já que, mesmo escolhendo seus leitores, sabe que o zine será lido por desconhecidos e irá passear por outras mãos.

Poucos professores parecem perceber – ou levar em conta – que muito do que é disciplinado e vem dos alunos na verdade é a faísca do entusiasmo que eles necessitam para criar uma habilidade de adaptação a diversas realidades. E dentre outras coisas que os professores não sabem – mesmo quando usam os zines em sala – é que os originais formam um álbum de invenção pessoal relacionado à realidade coletiva do autor e que neles é possível acompanhar mudanças na maneira de pensar e expressar de quem o faz.

O que é produzido usando a linguagem dentro da escola deve servir a algum propósito, deve ir além da caneta vermelha da correção, da gaveta, da nota lançada no diário, extrapolando os muros da escola. Enquanto docente, é preciso conhecer e fazer uso das concepções acerca do uso interativo e funcional da língua. E o zine pode ser uma porta para os estudantes aprenderem a manusear a linguagem e expressarem o que querem de acordo com seus receptores e objetivos.

O fanzine na sala de aula

Nesta seção, apresento o percurso das aulas da oficina para a produção do fanzine e explico como foram realizadas as ações.

Dentro do Festival de Arte e Cultura do CEFET-MG, que foi aberto aos alunos da instituição e à comunidade, o fanzine foi trabalhado como oficina de produção textual. Todos os alunos faziam Ensino Médio. A oficina aconteceu em dois encontros, cada um com duração de três horas, durante a semana do Festival e se deu no horário matutino, das 9h às 12h, nos dias 18 e 19 de setembro de 2008.

As etapas da oficina foram explicadas a partir de uma contextualização do fanzine e sua história e da apresentação de alguns exemplares de diversos zineiros. Logo depois, houve discussão de temas como arte e política, em seguida, a redação dos textos, a execução de colagens e a confecção dos zines. Durante todo o trabalho, os participantes foram estimulados a refletir, falar, trocar impressões a respeito dos temas propostos por eles: padrões, mídia, rede, eleições, arte.

Como sistema de avaliação pedagógica da proposta, houve controle de cronograma e orientação teórico-metodológica escolhida desde o início. O aspecto norteador do projeto foi seguir estratégias que resultassem na prática em comunidades bem como o estímulo à livre disseminação das ideias. Ou seja, enquanto a escola cumprisse com seu papel de formadora de cidadãos engajados em questões de seu espaço de vida, o projeto seria bem sucedido. O intuito foi trabalhar algo prazeroso e de serventia pública ao mesmo tempo.

A produção textual é uma atividade variada e multifacetada. Cada enunciador tem uma maneira única de enunciar. É a busca da originalidade que o leva a descobertas linguísticas que são incorporadas em novos textos. À medida que o locutor vai desenvolvendo suas ideias, elas ganham forma e corpo e passam a ter vida própria. É da exploração das peculiaridades da linguagem, seja ela gráfica ou imagética, que um novo fanzine nasce.

O zine é estabelecido como produto da interação da vontade/escolha do locutor dentro de um texto/microcosmo imaginativo-linguístico, através de um processo de busca constante de expressão, inquietação e modificação de padrões. Cada um, ao fazer seu fanzine, teve sua maneira própria de criar um sistema que foi produto dessa busca e das consequentes descobertas que foram incorporadas a seu estilo.

Como os fanzines são uma forma experimental de publicação, o editor-aluno pôde testar de tudo, publicou o que desejou e amadureceu nesse tipo de trabalho. Esse amadurecimento veio da disponibilidade do autor para a elaboração e o tratamento do fanzine.Como podemos perceber no exempls a seguir sobre como foi criar o fanzine:



Considerações finais

Com a publicação do fanzine, é possível para o professor desenvolver a capacidade dos educandos de pesquisar informações relevantes, levantar um olhar crítico sobre o cotidiano ou os conteúdos programáticos das diversas disciplinas, produzir um material de comunicação que expresse suas idéias, incorporar a ideia de unir desenhos, outras imagens e escritos enfatizando a relação entre eles e destacando as soluções mais criativas. Além disso, permite trabalhar em grupo, exercitando a socialização de ideias, discutindo preferências estéticas de cada um quanto às formas de organizar imagens e textos, visto que o fanzine não se limita a um padrão como as outras publicações.

O trabalho com fanzine nos permite, como educadores, transitar por diferentes caminhos, utilizando representações que comunicam significados, construindo e reconstruindo saberes que potencializam o poder de intervir como sujeitos pensantes no meio sócio-cultural.

Os benefícios do uso dos zines no contexto escolar são vários. A troca de saberes e descobertas em grupo resulta na criação de laços afetivos e na valorização de aspectos do cotidiano comum, os quais são importantes na criação de identidades. Numa oficina, o contínuo exercício da alteridade pode refinar a habilidade para relações humanas fora daquele contexto. Trata-se também de uma possível nova forma de avaliação, já que a produção de zines pode mapear dificuldades na escrita em vários níveis. Eles podem ser aplicados como exercícios de leitura, escrita, oralidade e de saber ouvir o outro. O incrível potencial interdisciplinar dos zines compreende a familiaridade com novas tecnologias digitais, o registro histórico espontâneo da língua e do contexto social e o estreitamento dos laços entre pais/amigos/escola, já que cria situações reais de comunicação. E o mais importante: o aluno se faz ouvir, escreve para alguém com uma finalidade específica, por necessidade de dizer algo.

Todavia, é importante lembrar que o fanzine não pode ser levado à sala de aula tão somente como técnica, mas como complemento e/ou produção do trabalho pedagógico. Que os educadores (de todos os níveis e saberes) percebam a importância desempenhada por esse impresso na construção de valores estéticos, éticos e morais no exercício da cidadania! As revoluções causadas pelos zines são internas, silenciosas, porém marcantes para todos os envolvidos: produtor e leitor.

Assim, dentro dos limites desta pesquisa, espero ter colaborado para uma compreensão mais ampla do uso do fanzine em sala de aula. E, consequentemente, espero que as reflexões compartilhadas contribuam para a elaboração de outras propostas de produção textual, sendo um convite à experimentação.

Abstract

The object of this research is the use of the fanzine as a new language and as a new tool for the text production. It is a teaching-learning resource in the classroom and an incentive to free expression. The interest for this theme came up because of the necessity to find out new ways to work the text composition in classroom. We are interested on showing to the students an obvious fact and, maybe exactly for this reason, so little exploited: the one that everybody has something to say and particular ways to do it. What is learned with “zines”? What motivates a teacher from formal school to make a decision of doing an activity that involves “zines” in the classroom? Is the will to search another ways to reach the teacher’s goals, and a certain curiosity about the unpredictable and about what the students really want to say? Then, I have chosen to use the interactionist theory of language teaching, based on the Applied Linguistics approach. This research have been done during an workshop with high school students in 2008, in a public (federal) school in the region of Belo Horizonte-MG. I investigate what is learned with the fanzine and its use in the classroom. It was described the conditions of production of the fanzines about different themes. The analysis the conditions of production results shows the necessity to consider procedures that make possible the text production in effective situations of communication. It was observed, among another factors: the importance of the debates that supported the fanzine production, and also the time that the students had to product, to think and to make the fanzine, inside and outside of the classroom.

Key-words: fanzine - interaction - text production