NÃO ESPEREM 
 
Não esperem de mim 
Um novo poema de protesto 
De súbito virão outros versos 
Que nada dirão de crianças descalças e mortas 
Cheirando cola em cada esquina 
Nem esperem que cite em rima 
Os pobres babacas em espasmos, ataques 
Que se sujam na própria merda 
Depois de fumar crack 
 
Não vou vomitar meu nojo 
Pelo idiota pink da esquina 
Que devora com olhos de invasor 
A bunda da negra menina 
Quero mesmo é toma um porre 
De poesia, de rum, de gim 
Para mostrar que o libertário 
Mentiroso e poeta 
Decidiu chegar ao fim 

(Cadernos Negros v. 23)