M A T A
Diante da tua presença
Sinto-me tragado inteiro, de forma intensa
Qual curumim buscando teto
Se a noite chega, densa
Sou todo intento
Buscando em ti minha negra
A toca, a taba, a oca
Descanso da caça, da lida, da roça
Suado, mergulho em teu riacho
Brinco em tua calma água
Bebo teu vinho de cachos
Desde a palma
Em uma contínua sede, sugo tua seiva
De negra clorofila trocada do verde
Na intimidade de tuas redes
Enrosco-me em teus cipós, nós e ramas
Donde antes do sono tecemos tramas
Daí me transformo em vento
E adentro tuas arestas
Atrevido em tuas frestas, sem drama ou atalhos
Caminhos nunca falhos, copas, folhas, galhos
Até o completo mergulho no mais doce igarapé
Onde bicho, carrapicho
Eternizo-me,
Moco, broto, solto, semente, caipora
Lenda
Animal dentro das fendas
Grotas e segredos
Curando-me de todos os medos
Invasor, sou teu grileiro
E somos juntos no escuro
Sobretudo
Oxigênio e Futuro
(Cadernos Negros v. 23)