Identidade 

  

Houve um tempo em que 
constava de sua carteira 
o dado cor 

na minha: pardaescuracabeloscarapinhados. 

  

Diante de espelho, me pergunto 
que faço com estes lábios grossos, 
este nariz achatado? 
Que faço com esta memória 
de tantos grilhões, 

destas crenças me lambendo as entranhas? 

  

Será que não é demais ter o direito 
de ser negro? 
Causa espanto? 

Pardaescura é o aspecto que vocês deram 
à nossa história. 

  

Morra de susto! Sou, vou sempre ser: NEGRO! 
ENE, É, GÊ, ERRE, Ô. 
Aqui, Ô! 

 

(Atabaques, 1983.)