A pesquisa sobre a produção literária de Rogério Andrade Barbosa:

da temática africana e afro-brasileira a outros temas

José Carlos Debus*

 

O livro A produção literária de Rogério Andrade Barbosa: da temática africana e afro-brasileira a outros temas é resultado de uma ampla pesquisa sobre a produção literária para a infância e juventude do escritor carioca, nascido em Minas Gerais, Rogério Andrade Barbosa, empreendida pelos membros do Literalise - Grupo de Pesquisa em Literatura Infantil e Juvenil e Práticas de mediação Literária do Centro de Ciências da Educação, da Universidade Federal de Santa Catarina, durante os anos de 2015 a  2017. A pesquisa fez um mapeamento, a leitura e a resenha de toda a produção do escritor, na qual se destaca a temática africana e afro-brasileira. O livro está dividido em cinco capítulos.

O primeiro capítulo, “Dos contos de lá e de cá, muitas histórias para contar: a pesquisa sobre a produção literária de Rogério Andrade Barbosa” enfatiza como a temática africana na literatura infantil e juvenil surge com força e ganha notoriedade a partir a lei 10.639 de 9 de janeiro de 2003 e torna-se um movimento literário dentro do mercado editorial brasileiro bastante significativo. Vários escritores aparecem nesse cenário e se destacam em todo o território nacional. Um deles é Rogério Andrade Barbosa que já reunia uma produção literária para a infância e juventude com a temática africana e afro-brasileira desde os anos de 1980. Época em que o escritor viajou pelo continente africano como voluntário em projetos das Nações Unidas.

Nas últimas três décadas, sua produção literária totalizou mais de 85 títulos. Esse capítulo do livro também aponta que Barbosa também trabalha de forma efetiva em vários programas de incentivo a leitura com realizações de palestras e organização de oficinas de leitura literária destacando sempre a temática africana e afro-brasileira e contribuindo de forma significativa com sua escrita e suas ações para a valorização e compreensão sobre a diversidade étnico-racial, cumprindo um importante papel de valorização da identidade, da história e da cultura da população afro-brasileira.

O segundo capítulo, “Um professor brasileiro na Guiné-Bissau: entre o ensinar e o aprender”, traz um pouco da trajetória de Barbosa em território africano e como essa experiência marcou e construiu sua vida de escritor para crianças. Boa parte dessa experiência está registrada no livro La-le-li-lo-luta: um professor brasileiro na Guiné-Bissau, onde o escritor faz uma narrativa sobre suas vivências com outros jovens voluntários do projeto patrocinado pelas Nações Unidas e também com um país que ressurgia após longos anos de lutas pela independência e de guerras civis. As autoras destacam que essa narrativa traz um discurso claro, simples e rico em detalhes que mostram uma experiência assinalada por muitas descobertas. E foram essas experiências e lembranças que o jovem professor trouxe daquele pequeno país na costa africana do atlântico que marcou significativamente sua obra.

No terceiro capítulo as autoras trazem uma entrevista com Rogério Andrade Barbosa e na primeira pergunta indagam por sua formação em Letras e a Pós-graduação em Literatura Infantil Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro e de que modo essa formação contribuiu para a sua escrita literária. O escritor responde que a graduação e a pós-graduação ajudaram a nortear o seu caminho pelo mundo da escrita e possibilitaram o aprofundamento de algumas leituras. Em seguida a autoras perguntam sobre o livro que mais se destacou em sua produção. O escritor afirma que foi o seu primeiro título Bichos da África 1: lendas e fábulas. E que continua a ser o seu livro mais vendido, ultrapassando a tiragem de um milhão de exemplares. Com traduções para o inglês, o alemão e o espanhol.

O roteiro da entrevista segue com a abordagem sobre a sua imersão na temática dos contos populares da África e do Brasil. Barbosa diz que isso começou a partir de sua experiência como professor na Guiné-Bissau, a qual permitiu que aprofundasse pesquisas, viagens e recolhas dos contos populares. As entrevistadoras prosseguem questionando o escritor sobre a importância da literatura africana e afro-brasileira para a formação de leitores e para a perspectiva da superação das discriminações, dos preconceitos e do racismo. Aqui o escritor reforça a ideia de que o livro tem de ser como um espelho, onde o leitor se reconheça; com personagens e ilustrações que abordem nossa diversidade étnica e crítica a imagem dos negros nos livros. Que, segundo ele, foi durante muito tempo inteiramente estereotipado.

O quarto capítulo traz um levantamento da produção de Rogério Andrade Barbosa com ênfase n´“Os livros de temática africana e afro-brasileira”, elencando 63 títulos e suas respectivas resenhas, começando com os quatro livros da coleção Bichos da África, composto por releituras dos contos tradicionais africanos que são transmitidos oralmente e cujas histórias são contadas por sábio griot; passando pelo livro Ndule Ndule: assim brincam as crianças africanas, uma história sobre o universo das brincadeiras das crianças desse continente; e segue com o livro Mandiba, O menino africano cuja história reflete a vida de Nelson Mandela desde sua infância na aldeia de Muezo no interior da África do Sul até o momento em que ele foi libertado da prisão em 1990.

O capítulo continua com as resenhas de várias outras lendas e contos africanas recontados pelo escritor carioca e nos mostra que como este também explorou e recontou lendas e costumes provenientes de comunidades remanescentes de quilombolas no Brasil. Podemos ver isso no livro Rio acima Mar abaixo que retrata aspectos da cultura popular da região do Amapá. A obra de Rogério Andrade Barbosa também faz uma incursão pelo continente americano com o livro Lendas e Fábulas da Nossa América que trazem, como toda fábula, um conteúdo de cunho moral e dão vozes aos animais. Trata-se de relatos pertencentes das tradições orais de países como a Argentina, o Brasil, a Bolívia, a Costa Rica, a Guatemala, o México e os Estados Unidos.

O quinto capítulo reune a produção literária de Barbosa, 22 títulos com resenhas, que explora outras temáticas. Como as fantasias que habitam o interior da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis) cheias de bruxas e bernúncias que amedrontam as crianças até os dias de hoje e que são recontadas no livro O Boi-de-Mamão; ou a história da infância de Ernesto Che Guevara contada por Barbosa no livro O menino que sonhava transformar o mundo, onde este retrata uma criança fragilizada por problemas de saúde que se transformou em um grande revolucionário. O restante dos livros reunidos neste capítulo abordam temáticas que vão desde o carnaval de Olinda com o livro O Tesouro de Olinda; passando pela história do Rio de Janeiro com o livro A Carta do pirata Francês; até a temática da cultura chinesa com o livro A viagem de Shaozu, que apresenta elementos históricos, culturais e sociais da imigração chinesa no Brasil.

Por certo, a leitura deste livro colabora para a ampliação do repertório literário do/a leitor/a, seja criança ou adulto/a, em particular no que diz respeito a temática africana e afro-brasileira.

 

Referência

DEBUS, Eliane; BERNARDES, Tatiana V.M.; SILVEIRA, Rosileke K. da; PEREIRA, Arlete, de C. (Org.). A produção literária de Rogério Andrade Barbosa: da temática africana e afro-brasileira a outros temas. Tubarão: Copiart, 2018. 256 p.

 

* José Carlos Debus é Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina e Professor da UNIESC, em Florianópolis.

 

Texto para download