Melancolia e memória em O outro pé da sereia de Mia Couto:
uma análise das epígrafes do Barbeiro de Vila Longe

 

Eni Alves Rodrigues

Inspirado pela feitura fragmentada dos ensaios de Walter Benjamin, este artigo se apresentará em apontamentos, nos quais cada epígrafe de autoria do Barbeiro de Vila Longe (personagem Arcanjo Mistura) será citada e intitulará um trecho da discussão do romance O outro pé da sereia. Nestas discussões será feito um entrecruzamento da análise literária do romance e dos textos teóricos selecionados para este artigo.

Para iniciar a leitura que foi feita de O outro pé da sereia, queremos dizer que o romance explora, em paralelo, eventos históricos acontecidos em diferentes fases da história de Moçambique. Podemos dizer que esta obra de Mia Couto contém fortes traços da estética realista, ainda que não se detenha nos pressupostos do realismo tradicional. A forma estética se aproxima do realismo, pois o texto relata cenas da História moçambicana, mas segundo Garuba (2014), a estética que permeia o romance é a do realismo animista, conforme podemos ver no trecho seguinte: “a lógica do pensamento animista fornece uma abertura para se pensar em outras histórias da modernidade, além da trajetória linear e teleológica da narrativa histórica convencional” (GARUBA, 2014, p.10).

Durante a narrativa, o autor do romance procura destacar aspectos da realidade moçambicana pós-independência, assumindo também detalhes de uma História que se deu no século XVI. Trata-se, portanto de uma forma estética que encena a realidade como outras formas estéticas já o fizeram na literatura, mas não se trata dos realismos já retratados e sim de outro realismo: o animista.

O livro é composto por duas histórias que se entrelaçam. Em uma delas é contada uma história que se dá na época atual, pois ocorre em 2002, tendo como personagens mais destacados Mwadia Malunga e seu marido, Zero Madzero, que vivem em um lugar isolado chamado Antigamente. Nessa região, cai um objeto estranho do céu e Zero Madzero opta por enterrá-lo no quintal de sua casa, dizendo que era uma estrela. Todavia, porque o objeto não pode ser identificado, eles decidem “transladar”1 o objeto para uma floresta nas imediações de onde moravam. Na floresta encontram uma imagem de Nossa Senhora abandonada, juntamente com um baú e um esqueleto. Os objetos encontrados aumentam a estranheza que domina o casal e decidem procurar o feiticeiro Lázaro Vivo para orientá-los sobre o que fazer com a “santa” encontrada. O feiticeiro aconselha o casal a levar a imagem para Vila Longe, onde Mwadia morara antes do casamento. Ela parte para Vila Longe, no percurso e na nova cidade, desenrolam-se muitas histórias em diferentes cenas narrativas.

Em Vila Longe, Mwadia se depara com situações que fazem o leitor entrar em contato com aspectos das culturas da África, resgatadas pelo romance com a liberdade criativa do escritor. Por exemplo, o padrasto de Mwadia sempre troca de nome, acreditando que assim viveria mais e esqueceria o seu passado. Há também uma parede de fotografias que é dedicada aos mortos, costume verdadeiro de alguns povos moçambicanos.

O enredo trata do relacionamento com o passado, a dicotomia entre o lembrar e o esquecer, as memórias que podem ou devem ser resgatadas na História e, estes, serão os pontos privilegiados neste artigo. Neste sentido foi feita a escolha pelas falas do personagem Arcanjo Mistura, o Barbeiro de Vila Longe. Personagem descrito pelo narrador da seguinte maneira:

No centro da única praça, Arcanjo Mistura há tempos que se exerce como Barbeiro. De tanto tesourar, já tem o polegar calejado. O polegar e a alma. Arcanjo Mistura — Mestre Arcanjo, como lhe chamam — é um homem desiludido, amargado com o rumo político do país, inconformado com aquilo que chama o «prateleirar» da Revolução.

Quem chega logo se pergunta: o que faz ali uma pessoa de tanta cultura? E como é que alguém de tanto saber se pode ocupar como Barbeiro? De facto, Arcanjo Mistura foi deportado pela polícia colonial portuguesa para aquela região, há mais de quarenta anos. O Barbeiro assegura que já não se lembra de onde veio. Acabei ficando natural de Longe, admite Arcanjo. Mentira. Como todos os outros da vila, o homem esquece para ter passado e mente para ter futuro. (COUTO, 2006, p.81, grifo nosso).

O personagem Barbeiro de Vila longe, “o nosso barbeiro é um filósofo” (COUTO, 2006, p. 98), é o principal “autor” das epígrafes dos capítulos do romance que nortearão a análise literária que pretendemos fazer. O artigo será estruturado pela citação numerada das epígrafes do referido personagem, na ordem em que elas aparecem no romance, para em seguida tecer apontamentos sobre as reflexões sobre memória, melancolia, o ato narrativo e outras discussões literárias correlacionadas a estas. O outro pé da sereia, assim como outras obras do autor Mia Couto, é permeado de epígrafes, um recurso de intertextualidade. Na conceituação de epígrafe, pode-se dizer que são trechos de obras lidas pelo autor ou podem ser citação de um documento ficcionalizado na obra, etc. Nesse caso, de um modo atípico, o livro traz, na maioria das epígrafes, as falas de um personagem, dizeres que guiam o leitor para uma ideia que pode se confirmar ou não na leitura do capítulo.

1. Em todo o mundo é assim: morrem as pessoas, fica a História. Aqui, é o inverso: morre apenas a História, os mortos não se vão.

Barbeiro de Vila Longe. (COUTO, 2006, p.10)

No romance O outro pé da sereia, o Barbeiro é o único a recusar participação no teatro histórico organizado para os visitantes afrodescendentes. Pela fala do narrador, parece que casal afrodescendente, o americano e sua esposa brasileira, foi ao continente africano em busca de informações sobre os seus antepassados africanos. Percebendo na viagem de Benjamin Southman, uma forma de ganhar dinheiro, o tio de Mwadia, pretenso empresário, decide juntamente com alguns “homens da comissão de recepção” (COUTO, 2006, p. 147) ao estrangeiro recriar a África “com que o estrangeiro sempre havia sonhado” (COUTO, 2006, p. 150). O intento de Casuarino Malunga, o tio de Mwadia, é dificultado pela recusa de Arcanjo Mistura, o Barbeiro de Vila Longe, que não concorda com o plano de Casuarino, pois considera a estratégia deplorável, conforme podemos ver no trecho seguinte, em que se evidencia a sua recusa em participar da encenação proposta aos estrangeiros:

Lá fora, a umas centenas de metros da casa de Lázaro, o Barbeiro começava a exibir sinais de inquietação. Ele ficara para trás, recusando a participar da cerimónia do adivinho.

Para sermos africanos não temos que passar por isto, disse com desdém. Vivo sem dúvidas nem dívidas, reiterou à despedida. (COUTO, 2006, p. 277).

Para este personagem não era preciso mascarar a História do povo moçambicano, já que a colonização criara uma visão vitimizada, exótica e mítica da África que era preciso desconstruir. Nesse sentido Walter Benjamin² (2017) vem nos dizer da necessidade de narrar a história a contrapelo. Em romances que ficionalizam histórias reais, isso pode ser percebido, pois na Literatura, aqueles que foram silenciados pela verdade única do curso da História podem ter voz, e mesmo sendo ficção, o passado emite outros sentidos, que deixam rastros de dúvida em um passado glorioso, contado pelos vencedores.

O passado traz consigo um índice misterioso, que o impele à redenção. Pois não somos tocados por um sopro do ar que foi respirado antes? Não existem, nas vozes que escutamos, ecos de vozes que emudeceram? (BENJAMIN², 2017, p.1)

A história da África, nesse caso a de Moçambique, quase sempre é contada por outro, por visões externas e a literatura africana contribui com aspectos socioculturais e históricos que permite aos leitores uma imersão em outros modos de ver a vida, como foi possível observar na primeira epígrafe do Barbeiro de Vila Longe.

O romance desconstrói a lógica de pensamento ocidental que se pauta, principalmente, pelo racionalismo e pelo pensamento antitético de vários aspectos da realidade: vida e morte, antes e depois, aqui e lá. Em O outro pé da sereia, a morte é referenciada de um modo animista, ou seja, como uma cosmovisão africana de continuum da vida. No enredo vida e morte estão entrelaçadas, espaços se entrecruzam, além de duas histórias encaixadas dentro da mesma narrativa. Nesse sentido, temos um narrador que recolhe cacos, “narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos e leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história” (BENJAMIN1, 1994, p.1). Assim vemos uma narrativa em busca da desconstrução da história oficial, procurando distanciamento de uma postura unilateral dos fatos.

No teatro armado, vê-se uma encenação de mentiras que produz muitas verdades individuais a seus atores. Neste cenário, para seduzir os americanos que chegam ao continente africano em busca de uma “África profunda”, Mwadia parece estar possuída, por um espírito. No entanto, quase todas as informações que ela revela receber do espírito são obtidas através da leitura dos manuscritos encontrados no baú que outrora pertencera a D. Gonçalo e que fora encontrado juntamente com a imagem da santa, em Antigamente. Ao lê-los, ela não só aprendia como também ia assumindo-se como leitora da história do seu país.

Nesses últimos dias, Mwadia fechava-se no sótão e espreitava a velha documentação colonial. Agora, ela sabia: um livro é uma canoa. Esse era o barco que lhe faltava em Antigamente. Tivesse livros e ela faria a travessia para o outro lado do mundo, para o outro lado de si mesma. (COUTO, 2006, p. 238).

Podemos ver no excerto anterior, a importância do conhecimento da história oficial para depois ressignificá-la. O espaço moçambicano ficcionalizado na narrativa é um ambiente de pouca presença da leitura e da educação formal e quem as tem, como a personagem Mwadia é imbuída de uma responsabilidade fundamental para o crescimento da nação. Uma responsabilidade de narrar que vá além da tradição de contar a história dos vencedores e precisa, de certo modo

agarrar a essas asperezas, a essas arestas que lhe oferecem tantas escoras ou pontos de apoio na sua luta contra o fluxo nivelador da história oficial que, justamente, deixa escapar ‘esses lugares nos quais a tradição/transmissão se interrompe. (GAGNEBIN, 2011.p.100).

Se temos uma história que se quer única, o presente precisa ser reinventado, pois o luto pelos momentos de horror nunca termina, a dor e a melancolia passam a ser uma constante da vida dos sobreviventes e dos vencidos.

2. Eis a nossa sina: esquecer para ter passado, mentir para ter destino.

Barbeiro de Vila Longe (COUTO, 2006, p.64)

Nesta segunda epígrafe de O outro pé da sereia, vemos a discussão sobre manipulação do passado na tentativa de esquecimento e, no enredo, temos uma mentira encenada: Mwadia que diz está incorporando espíritos, mas está lendo os manuscritos. Neste embate entre mentir e “verdadear” a história traumática vivenciada, como é o caso da colonização e das guerras civil e da independência moçambicana. Seligmann-Silva (2008) vai nos dizer das dificuldades de narrar o trauma, quando afirma que diante das indizibilidades testemunhais fica difícil narrar o ocorrido. Afirma ainda que a literatura presta um nobre serviço à narração de situações violentas, pois segundo ele:

A imaginação é chamada como arma que deve vir em auxílio do simbólico para enfrentar o buraco negro do real do trauma. O trauma encontra na imaginação um meio para sua narração. A literatura é chamada diante do trauma para prestar-lhe serviço. (SELIGMANN-SILVA, 2008, p.70).

Nesse sentido, as literaturas africanas de língua portuguesa elaboram, em muitas de suas narrativas, a ficcionalização dos momentos traumáticos da História dos países colonizados por Portugal. No romance analisado, vemos uma preocupação em mostrar os dois lados dos fatos históricos, por exemplo, vemos personagens moçambicanos que estão em posição de vítimas do colonialismo ou que estão lucrando com esta situação. Também sobre a escravidão dos negros, o romance nos leva a refletir, pois, na história havia uma nau com um baú cheio de mercadorias no porão, que sabemos serem escravos e bens materiais. Nesta ironia, vemos como a escravidão negra foi traumática para História, pois seres humanos foram tratados como bens materiais. Sabemos do engendramento científico e religioso que foi arquitetado para que se considerasse normal a escravatura de africanos negros, e no romance podemos perceber que a igreja considerava os negros como seres inferiores aos brancos, como podemos ver no trecho seguinte:

[...] nós lhe outorgamos pelos presentes documentos, com a nossa autoridade apostólica, pela livre permissão de invadir, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e qualquer outro incrédulo ou inimigo de Cristo, onde quer que seja, como também reduzir essas pessoas à escravidão perpétua. (Carta do Papa Nicolau V ao Rei de Portugal, 1452. In: COUTO, 2006, p.196).

Assim, endossados pela Igreja, os portugueses se sentiam livres para capturar os negros para escravidão, e ainda pensavam estar contribuindo com o “salvamento” de almas.

Como o Barbeiro de Vila longe nos disse é preciso esquecer o passado para recomeçar, fala que concatema com a crença da cerimônia do esquecimento. Em determinada parte do romance, o processo de esquecimento das tradições e da memória fortalecido pela escravatura e pela colonização é revivido pela remissão à árvore do esquecimento, “arvore das voltas”, sendo retomados, por via metafórica, os processos desenvolvidos pelos mercadores de escravos para apagar a memória dos que eram encaminhados para o trabalho forçado.

Não havia em toda a redondeza um exemplar maior de mulambe (embondeiro). A árvore era conhecida, desde há séculos, como a “árvore das voltas”: quem rodasse três vezes em seu redor perdia a memória. Deixaria de saber de onde veio, quem eram seus antepassados. Tudo se tornaria recente, sem raiz, sem amarras. Quem não tem passado não pode ser responsabilizado. O que se perde em amnésia, ganha-se em amnistia. (COUTO, 2006, p.276).

O simbolismo desta árvore mítica é revisitado pela narrativa para aludir ao fato de os mercadores de escravos quererem comercializar apenas a força de trabalho dos escravizados. Os escravagistas não queriam que os negros levassem sua cultura, história, nem a vivência e as experiências que marcavam o lugar que eles ocupavam em diferentes tradições religiosas, familiares e de trabalho. Com uma estratégia narrativa de grande efeito, o narrador mostra que moradores de Vila Longe, em 2002, revivem inconscientemente o poder da árvore Mulambe de impedir que as mazelas do passado de sofrimento voltem a atingi-los. Esse ritual, no romance, faz parte do processo de lembrar e esquecer que foi assumido pelo afro-americano Benjamin Southman, ao girar em torno do grande tronco do embondeiro. As voltas dadas em torno da árvore serviriam agora para que as lembranças de “passados muito pesados” (COUTO, 2006, p. 277) viessem à tona e para que as dores vividas, pelos antepassados do afro-americano pudessem ser apaziguadas pelos descendentes que ficaram em África. É o que diz Lázaro Vivo a Southman, durante o ritual das voltas em torno do grande embondeiro:

Se um familiar saiu daqui, Benjamin, não foram só os antepassados que o levaram. Quem fez esse crime com os seus antepassados foram os nossos antepassados. Entende, agora, a razão desta árvore? (COUTO 2006, p. 277)

Arcanjo Mistura sabe que a História oficial é seletiva, que conta partes selecionadas de acordo com interesses vários. Sobre estes acordos históricos, BENJAMIN¹ (1994) nos diz que:

Existe um acordo secreto entre as gerações passadas e a nossa. Então, fomos esperados sobre esta Terra. Então, foi nos dada, como a todas as gerações que nos antecederam, uma tênue força messiânica a que o passado tem direito. Não se pode rejeitar de ânimo leve esse direito. E o materialista histórico sabe disso. (BENJAMIN², 1994, p.1)

Esta afirmação reflete sobre o discurso autoritário do passado, sobre as imposições históricas na constituição da sociedade. Estas verdades impostas são discutidas nas falas dos personagens que discorrem sobre África mítica e a áfrica vivenciada.

3. Não há pior cegueira que a de não ver o tempo. E nós já não temos lembrança senão daquilo que os outros nos fazem recordar. Quem hoje passeia a nossa memória pela mão são exactamente aqueles que, ontem, nos conduziram à cegueira.

O Barbeiro de Vila Longe (COUTO, 2006, p.82)

Esta frase abre o capítulo cinco do romance, intitulado “Viagens, infinitos retornos” onde conhecemos um pouco mais do passado da personagem Mwadia, desde sua infância, até seu retorno a Vila Longe, com a santa encontrada nos arredores de sua morada com o marido.

Para narrar à viagem identitária desta personagem e outros fatos do enredo, o tempo da narrativa em questão é diluído. Em O outro pé da sereia, o narrador nos conta duas histórias bem distantes na temporalidade, uma em 1562 e a outra em 2002, porém a fluidez do que é narrado é de um tempo que não passou. Os momentos de dor vivenciados pelos personagens nos conduzem às reflexões benjaminianas sobre aqueles que vivenciaram a História e que sofrem com o passado, tornando-se pequeno diante da tempestade do que já passou e que impulsiona o futuro. O sujeito toma-se melancólico pelas catástrofes vistas e que se repetem no presente. O narrador de O outro pé da sereia reitera este pensamento ao dizer que: “O mais triste na história é como tudo se repete, sem surpresa.” (COUTO, 2006, p. 219). Após refletirmos sobre um passado que se presentifica, podemos perceber que o distanciamento temporal das duas histórias do enredo é, na verdade, tênue.

Na epígrafe deste capítulo temos um embate entre o tempo e a memória experienciada por Mwadia em sua viagem de volta a Vila Longe, pois ao retornar, ela retoma suas lembranças, “lembranças encobridoras” (FREUD, 2017), que os fatos vão encobrindo. Nesse processo, a memória se elabora até se tornar uma verdade, “e nós já não temos lembrança senão daquilo que os outros nos fazem recordar.” (COUTO, 2006, p.82).

Neste capítulo nos deparamos, não apenas, com viagem à História longínqua da colonização de Moçambique e com a reflexão da independência do país, mas sim com viagem identitária de Mwadia, mulher, filha, esposa... Enfim, introspecções sobre o feminino construídas melancolicamente pelas agruras do lugar sócio-histórico ocupado pela personagem.

4. Triste é viver num lugar Onde dormir não difere de morrer.

O Barbeiro de Vila Longe (Couto, 2006, p.118)

A epígrafe do capítulo sete da história ocorrida em “Moçambique, dezembro de 2002” e que tem o título Os temperos da mentira, narra a tristeza de Arcanjo Mistura, “um homem desiludido, amargado com o rumo político do país, inconformado com o que chama o “prateleirar” da Revolução.” (COUTO, 2006 p.120). O narrador nos leva a refletir sobre a luta pela independência, que buscava uma nação para todos os moçambicanos e, que após se livrar do inimigo colonizador, o objetivo da luta não se concretizou. Iniciou-se em Moçambique uma guerra civil pelo poder, onde o inimigo agora era um conterrâneo. O personagem, calejado pelas guerras, é nostálgico de uma vida onde tinha sonhos.

Ele era um descrente. Contudo, a ninguém doía tanto a que estavam votados a igreja e o cemitério. Uma terra que não cuida dos seus mortos é porque está sendo governada pela própria Morte, vaticinava o Barbeiro. (COUTO, 2006, p.123).

O tema da morte é recorrente no enredo e, por trazer uma postura animista em seus personagens, vida e morte são entrecruzadas e não separadas no tempo e espaço. Fica no imaginário no leitor, durante a leitura do enredo, se o personagem Madzero estaria vivo ou morto, aliás, a dúvida plantada é recurso estético tão bem elaborado, que oferece subsídios a quem queira tomar partido de quaisquer um dos lados. A construção desta dúvida de morte perpassa o espaço de Vila Longe e seus moradores: a mãe de Mwadia diz que Madzero já seria um ngozi2 (COUTO, 2006, p.93); Mwadia não vê o reflexo do Barbeiro no espelho (COUTO, 2006, p.124) e outros fatos que nos levam a perceber vida e morte num mesmo espaço-tempo da narrativa. Assim a tristeza narrada e vivenciada pede um desfecho e o Barbeiro sentencia: “tudo isto devia ser sepultado, todos nós devíamos ser sepultados”... (COUTO, 2006, p.124). Estas afirmações nos dizem do anseio de dar um fim ao sofrimento contínuo, a ferida aberta pela dor, seja a individual de cada personagem ou a da nação moçambicana ficcionalizada na obra.

5.Os ricos enriquecem, os pobres empobrecem. E os outros, os remediados, vão ficando sem remédio.

O Barbeiro de Vila Longe (Couto, 2006, p.182)

Nesta epígrafe do capítulo onze, que possui o título Um fio de cabelo atrapalhando a poesia, infere-se que vamos saber mais sobre Arcanjo Mistura, um personagem que conhece a escrita, quis produzir poemas em sua cidade e declamar sua poesia na vila, “mas todos fugiram e se trancaram dentro de casa”. (COUTO, 2006 p.183.) E Arcanjo Mistura torna-se barbeiro, o homem, pretenso poeta, que não realizou sua escrita e dizia que “Vila Longe não merece nem um epitáfio” (COUTO, 2006 p.183, grifo nosso). Nessa fala do personagem vemos mais uma frase que, de forma sutil, nos diz que os moradores de Vila Longe estariam mortos. Mas voltemos às reflexões deste item do artigo: O fato de os outros moradores da vila terem corrido para não ouvir o poema do Barbeiro, nos remete à ideia de Jaime Ginzburg quando este diz:

A estratégia de voltar-se para a negatividade, o silêncio, a discrição, permite manter a tensão, historicamente crucial, que pauta as relações entre indivíduo e história. A linguagem poética renuncia à expressão e se volta negativamente, seguindo uma forma brutal de “razão antagônica”, para a exposição de seus próprios impasses. (GINZBURG, 2003, p.66-67).

A história individual deste personagem e a História da nação moçambicana que este vivencia, no enredo, são de guerra e opressão: o jovem Barbeiro estudou em Lisboa, militou pela independência de seu país e foi preso nas masmorras da PIDE3, mas nunca silenciou suas ideias. Quando regressou da prisão e abriu a barbearia, todos pensaram que desistira da luta, mas segundo ele, “a barbearia é um lugar em que se reduz o cabelo e crescem as línguas. É um bazar de conversas, um mercado de mexericos.” (COUTO, 2006, p. 184).

Ele ouvia e era ouvido em seu ofício. Quando veio a independência de Moçambique, ele regressara à sua cidade em busca dos seus companheiros da luta, mas a maioria havia morrido. Nesta busca de pares para ouvir a história da luta ou para narrá-la,

descobriu, então, que era ele mesmo que se estava apagando em cada risco. No final, a sua memória não era mais do que uma agenda inútil. Desistiu da cidade e regressou a Vila Longe. E fez-se Barbeiro. Não tinham sido apenas os amigos que morreram. Falecera um tempo em que ele podia fazer amigos. (COUTO, 2006, p. 184).

Nesse sentido, o narrador, ao contar a vida deste personagem, nos relata uma história onde a memória fica soterrada pela glória da vitória. Na estética literária, principalmente em romances que encenam a História oficial como este, caminhos e estratégias de linguagem são recriadas. Podemos perceber que a estética literária busca contemplar em suas narrativas as subjetividades de um homem processual, que quer questionar seu passado individual e coletivo. É o que nos leva a refletir a estudiosa Aleida Assman, quando questiona:

Qual caminho ainda resta, se ambos os caminhos, o das recordações pessoais e da ficção, estão fechados? O trauma histórico e biográfico requer outra técnica literária, um experimento radical. (ASSMAN, 2011, p. 305).

Nas histórias narradas no romance O outro pé da sereia, a técnica literária se reveste de recursos estéticos vários, permite questionamentos da História oficial e dos recursos de linguagem, o que nos tira da zona de conforto do cânone literário, seja enquanto leitor, seja como crítico. Leitores experientes ou críticos literários bem capacitados, ou seja, “os remediados, vão ficando sem remédio” ao deparar com uma história (Não! Duas!) sobre o outro pé da sereia, uma figura folclórica não possui nenhum pé. Assim vemos “um experimento radical” que procura dar voz a uma parcela da humanidade que foi silenciada ao longo da história.

6. Os outros passam a escrita a limpo. Eu passo a escrita a sujo.

Como os rios que se lavam em encardidas águas.

Os outros têm caligrafia, eu tenho sotaque. O sotaque da terra.

O Barbeiro de Vila Longe (COUTO, 2006, p. 184.)

Esta epígrafe do capítulo catorze, intitulado Devaneios, farsas e visitações, continua as reflexões sobre a (re)escrita do passado. A personagem Mwadia percebe o valor da História documentada e o narrador trata da importância de se lerem estes documentos. Através da percepção de Mwadia podemos perceber essa reflexão, quando lemos a seguinte afirmação:

Nesses últimos dias, Mwadia fechava-se no sótão e espreitava a velha documentação colonial. Agora, ela sabia: um livro é uma canoa. Esse era o barco que lhe faltava em Antigamente. Tivesse livros e ela faria a travessia para o outro lado do mundo, para o outro lado de si mesma. (COUTO, 2006, p.238).

Na citação anterior podemos perceber o recurso da metalinguagem no romance, traço comum da escrita miacoutiana, que é falar sobre o ato da escrita. Tratar do tema da leitura reflete um problema, ainda em resolução, da nação moçambicana: o analfabetismo. Em Moçambique há muitos idiomas falados ao longo do interior do país, embora o português seja a língua oficial. A questão multilinguística do país pode ser percebida nas expressões em outros idiomas (principalmente banto) moçambicanos no romance, como podemos ver na frase: “Sou quizumba4 para mexer em ossos já mortos?” (COUTO, 2006, p.26).

A personagem Mwadia ao conciliar a leitura e a tradição oral para narrar a História, exercia, assume seu papel de canoa5, viajando entre os dois mundos: os manuscritos e a História oral de seu povo passada de geração em geração, ou com outros meios comunicativos com seus antepassados. Esse discurso múltiplo presente no enredo, com muitas facetas de um mesmo fato, uma história fragmentada, mas ao mesmo tempo entrelaçada, denotaria um comprometimento ético do autor, uma luta com as lacunas da História, pois a “verdade de um discurso não se esgota nem no seu desenrolar harmonioso, nem na sua argumentação sem falhas, nem na sua coerência interna.” (GAGNEBIN1, 2011, p.100). No enredo vemos que não é dado apenas aos manuscritos o poder de verdade da história moçambicana, há um mistério da encenação quando Mwadia diz que incorpora os antepassados: há muito valor nas suas falas, nas verdades ouvidas de outros personagens, nas suas vivências... Percebemos o valor de outras fontes históricas que não as escritas quando o narrador nos relata que:

Constança Malunga podia ser analfabeta para papéis. Mas ela sabia coisas tão fundas, que nem chegava a entendê-las bem.

Sabia, por exemplo, que não há conhecer sem lembrar. Mas o conhecer é um engano. E o lembrar é uma mentira. (COUTO, 2006, p.238).

O narrador acrescenta ainda que “[...] o seu livro [o de Constança] era o chão imenso, por aí fora. Quem lhe virava as páginas eram as estações do ano.” (COUTO, 2006, p.240).

Neste trecho vemos uma pincelada da epígrafe do Barbeiro de Vila Longe, quando este afirma, no início deste capítulo, “que ele passa a escrita a sujo, que possui em sua caligrafia um sotaque”, ou seja, o autor subverte o ato narrativo, a oralidade não está no texto como resgate de tradição, mas como forma estética, marcadamente na construção do espaço e tempo ficcional do enredo de O outro pé de sereia.

O conhecimento que engana, uma lembrança mentirosa que a personagem Constança nos fala, as “coisas fundas” que ela nem chegava a entender, podem ser vistos como uma narração discutida pela crítica Jeanne-Marie Gagnebin1 em suas leituras das teorias benjaminianas, onde esta afirma que: o “indício da verdade da narração não deve ser procurado no seu desenrolar, mas, pelo contrário, naquilo que (...) lhe escapa e a escande, nos seus tropeços e nos seus silêncios” (GAGNEBIN1, 2011, p. 100).

Não seria, então, nas riquezas de dados, nem na abundância das palavras que se contaria uma história completa. Neste sentido, o narrador de O outro pé da sereia nos proporciona brechas, dúvidas que geram diversos pontos de vista para análises literárias a cada leitura do romance, o que nos permite “um fluxo de palavras que não se exaure[...]” (GAGNEBIN1, 2011, p. 100). Estes recursos narrativos concedem ao romance analisado possibilidades de inesgotáveis discussões para os mais diversos pontos de vista do romance, ou até “Devaneios, farsas e visitações”? (Couto, 2006, p. 282).

7. Não é fácil sair da pobreza.

Mais difícil, porém, é a pobreza sair de nós.

(O Barbeiro de Vila Longe)

Primeiro, perdemos lembrança de termos sido do rio.

A seguir, esquecemos a terra que nos pertencera.

Depois da nossa memória ter perdido a geografia, acabou perdendo a sua própria história.

Agora, não temos sequer ideia de termos perdido alguma coisa.

(O Barbeiro de Vila Longe)

Na epígrafe do capítulo dezessete do romance, O desaparecimento do americano, o nosso Barbeiro filósofo traz, mais uma vez, uma reflexão sobre a História e as condições sociais que são difíceis de transpor. No enredo de O outro pé da sereia os personagens encontram-se em busca de suas histórias apagadas pelo tempo, pela História oficial do país. Nesse sentido vemos Mwadia retornando à Vila, Benjamin, o afro-americano, buscando as raízes da escravidão de negros na América, temos também a afro-brasileira que busca pelo passado de seus ancestrais.

A pobreza com a qual nos deparamos, neste capítulo, enunciada pela epígrafe, trata-se mais de pobreza informacional, pois o americano ainda consegue ludibriar os moçambicanos que o recebem. Logo, os personagens que acreditavam estar encenando uma farsa para o americano, estavam na verdade participando de um engendramento de espionagem americana montado por Benjamin Southman.

Esta pobreza narrada no enredo nos remete ao estereótipo de que nações africanas são sempre necessitadas de donativos, mas a ironia é que Lázaro vivo, se apropriava disto para arrancar dinheiro dos estrangeiros. Por outro lado, temos estrangeiros que agem de má fé e continuam explorando a África, seus recursos, sua cultura, etc.

Os fatos históricos e os apagamentos de algumas vivências, silenciamentos de alguns povos podem ser recuperados pela ficção. São inscrições no corpo cultural do povo que podem ser revisitadas e narradas, dando voz a sujeitos que jamais a teriam em outros momentos históricos. Essa história está inscrita no corpo da terra, que pede para ser revisitada e contada, que “se desloca e se altera em busca de seu próprio fim, que ainda precisa se encontrar. [...] No romance, essa perspectiva é confiada aos que vivem nas fronteiras entre raças, línguas e culturas” (ASSMAN, 2011, p.312).

No romance analisado podemos ver uma narrativa performática, processual, em que seu progresso não está pré-definido e o desfecho mantém-se aberto mesmo após o fim da leitura do texto:

Pegou na sacola que já estava preparada e beijou de leve o rosto do marido, tão de leve como se ele fosse apenas uma ausência adormecida. Apoiou a porta para suavizar o ruído do trinco ao fechar-se. Ainda hesitou, à saída do quintal, como se escolhesse entre que ausentes ela deveria viver. Só depois tomou o caminho do rio. (COUTO, 2006, p. 331)

O romance, estrategicamente, usa o recurso do tempo fluido, permitindo que a história possa ser recomeçada do final, assim como as memórias coletivas soterradas de um povo, aparentemente mortas, enterradas, podem ser lembradas, ressignificadas. Este re(sentido) da História pode ser reivindicado pela Literatura, de forma bem natural, com a visita descompromissada dos documentos históricos, mas com claro efeito de plantar a dúvida em versões totalizadoras de embates que, certamente, tiveram os vencidos e os vencedores.

8. Este mundo não é falso. Este mundo é um erro.

(Último desabafo de Arcanjo Mistura)

Na epígrafe do último capítulo, o narrador apresenta mais uma fala do Barbeiro de Vila Longe, desta vez não temos uma reflexão, nem um vaticínio, mas sim um desabafo. Esta fala de Arcanjo Mistura nos remete às narrativas de traumas, onde as vítimas muitas vezes não dizem que vão contar suas histórias, e sim, dizem que vão realizar um desabafo como no trecho seguinte. Este recurso narrativo reflete:

[...] as análises benjaminianas sobre as dificuldades objetivas que se opõem ao restabelecimento da tradição e narração em nossas sociedades” pós-modernas” e pós-totalitárias; isso significa também que, infelizmente, os bons sentimentos nunca bastam para reparar o passado. (GAGNEBIN2, 2006, p.52).

Assim, o narrador de O outro pé da sereia apresenta várias desconstruções e reconstruções identitárias dos personagens, narrando as percepções deles sobre a história da escravidão dos negros e de Moçambique. E nas reflexões apresentadas por um barbeiro, que, metaforicamente, somos levados a refletir sobre os cortes e aparas que a História oficial relata em seus documentos históricos.

O romance é guiado pelo enredo duas histórias em um romance que inova pelo conteúdo, mas principalmente pela estética literária e pela forma narrativa; são diversas vozes que, para falarem, recolhem os cacos da história da nação e de si mesmas, em busca de identidades, subjetividades, pois: ‘'A viagem termina quando encerramos as nossas fronteiras interiores. Regressamos a nós, não a um lugar.” (COUTO, 2006, p.329)

Na análise de O outro pé da sereia foi possível discutir sobre uma estética que contorne o silêncio que oprime, que encontre recepção para falas melancólicas ocasionadas por feridas que não cicatrizam, que estão marcadas no corpo cultural de um povo.

As epígrafes do Barbeiro de Vila Longe são palavras que testemunharam as histórias dos personagens, e as agruras dos espaços ficcionalizados no romance. Ele que era Arcanjo, mas era também Mistura. Ele era um anjo superior que poetava, mas era também um ardiloso e competente investigador do conhecimento, dos fatos observados ao seu redor. Enfim, se prestava ao papel de testemunha e,

Nesse sentido, uma ampliação do conceito de testemunha se torna necessária; testemunha não seria somente aquele que viu com seus próprios olhos, a história de Heródoto, a testemunha direta. Testemunha também seria aquele que não vai embora, que consegue ouvir a narração insuportável do outro e que aceita que suas palavras levem adiante, como num revezamento, a história do outro: não por culpabilidade ou por compaixão, mas porque somente a transmissão simbólica, assumida apesar e por causa do sofrimento indizível, somente essa retomada reflexiva do passado pode nos ajudar a não repeti-lo infinitamente, mas a ousar esboçar outra história, a inventar o presente. (GAGNEBIN2, 2006: p.57).

E assim, em um enredo de duas histórias entrecruzadas, com um tempo não-linear, com uma visão animista da vida onde mortos e vivos estão em convivência, o narrador ousa e esboça outra forma de narrar, onde o passado pode ser discutido e o presente reinventado.

Notas

Texto originalmente publicado no livro: Deslocamentos Estéticos.1ed. Florianópolis: Nyota, 2020, v. 1, p. 235-256. Nesta versão, além de nova revisão, foram feitas correções necessárias.

2 O autor não diz transportar, já na busca de palavras que se aproximem do sentido da história a ser contada.

3 Espírito vingativo por causa dos maus-tratos sofridos em vida.

4 Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) foi a polícia política portuguesa entre 1945 e 1969, responsável pela repressão de todas as formas de oposição ao regime político vigente nas suas colônias.

5 Hiena.

6 “O seu nome, Mwadia, queria dizer ‘canoa’ em si-nhungwé (língua falada no Noroeste de Tete, Moçambique).” (Couto, 2006, p.26).

Referências

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BENJAMIN2, Walter. Sobre o conceito da história. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Traduçao de Sério Paulo Rounet. São Paulo: Brasiliense, 1994 Disponível em http://www.rae.com.pt/wb2.pdf. Acesso em abril de 2017.[10p].

COUTO, Mia. O outro pé da sereia. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

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FREUD, Sigmund. Luto e Melencolia. Obras completas 3(1899): 285-304. Disponível em https://felipevillelapsicologia.files.wordpress.com/2015/01/freud-.pdf. Acesso em abril de 2017.

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