A poesia angolana pós-independência: tendências e impasses1

Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco*

Nos primeiros cinco anos da década de 1970, ao lado de uma literatura que cantava a urgência da independência, surgiu um projeto poético de afirmação da língua literária aproveitada em suas virtualidades intrínsecas e universais, embora houvesse ainda referências circunstanciais e o comprometimento ético com marcas linguísticas locais que caracterizaram a poesia angolana dos anos 1950. O retomar de aspectos desta, no início da década de 70, deveu-se, entre outros fatores, à criação de uma página semanal de literatura e arte, no Jornal A Província de Angola. O novo lirismo surgido em meados dos anos 1970 foi marcado pelo aprofundamento da metapoesia; muitos poetas refletiram em seus versos sobre o processo estético, apesar de não se terem esquecido de questionar, também, a realidade de Angola. Desses poetas, destacamos, entre outros, David Mestre, Ruy Duarte de Carvalho, Arlindo Barbeitos, Manuel Rui.

A proximidade da independência e os anos imediatamente a seguir a esta geraram em Angola uma grande euforia que contaminou grande parte do povo, dos intelectuais, dos poetas, dos escritores. Os dez primeiros anos após o 11 de Novembro de 1975 foram o período em que a poesia deixou a clandestinidade anticolonial para ocupar um lugar na reconstrução do país. O movimento editorial cresceu, tendo cabido à União dos Escritores Angolanos um papel de destaque. Isto porque, devido à censura do regime colonial, os escritores eram, até então, pouco conhecidos tanto dentro, como fora de Angola. No país, muitos eram lidos em exemplares copiografados, o que impedia uma maior divulgação pública. Grande parte dos poetas se inseria tanto no movimento literário, como nas lutas políticas de independência e na organização do Estado angolano. Agostinho Neto, Costa Andrade, Jofre Rocha, entre outros, são nomes representativos da poesia revolucionária. Houve, entretanto, como já assinalamos, poetas que, nesse período, apesar de terem celebrado o 11 de Novembro, intuíram não só a complexidade do momento histórico que envolvia o contexto da independência angolana, mas também a importância de um trabalho estético renovador. Poemas como “Manhã de 11 de novembro”, de Manuel Rui, “Chagas de Salitre”, de Ruy Duarte de Carvalho, “Últimas Águas de Novembro”, de David Mestre, são textos que, embora tenham cantado a libertação, lançaram um olhar crítico à volta e primaram pela elaboração da linguagem poética.

Podemos, assim, afiançar que a certeza próxima da independência despertou o aparecimento de vários textos poéticos celebratórios. Simultaneamente a estes, contudo, como já mencionamos, os anos 1970 em Angola foram palco da chamada “poesia do gueto”, também conhecida como “geração do silêncio”, pois se afastava da poética engajada dos anos de luta e se esmerava no labor estético dos versos, sem esquecer, todavia, os conteúdos político-sociais inerentes a diferentes momentos históricos vivenciados pelo contexto angolano. David Mestre – com seu corrosivo humor social –, Ruy Duarte de Carvalho, Arlindo Barbeitos e Manuel Rui, sem dúvida, são poetas representativos dessa “geração 70”, não obstante, tenham continuado a escrever pelas décadas subsequentes. Com exceção de David Mestre, que faleceu em 2001, os demais ainda estão vivos e produzem textos de poesia e/ou de prosa. Ruy Duarte de Carvalho, como antropólogo, contribui também para o conhecimento social e mítico de alguns povos angolanos.

Os anos logo a seguir à Independência foram, por conseguinte, de um modo geral, de regozijo e euforia com a liberdade conquistada. O sonho se realizara e a certeza da pátria a ser reconstruída animava grande parte do povo de Angola. Até meados de 1985, essa predisposição utópica, até certo ponto, persistiu, refletindo-se, inclusive, num movimento literário novo que se alastrou, com força e entusiasmo, por quase todo o país, principalmente entre os anos de 1980 e 1988: as Brigadas Jovens de Literatura2. Surgiu em Luanda, em 5 de julho de 1980, a Brigada Jovem de Literatura de Luanda – BJL, fundada pelo poeta São Vicente, tendo-se constituído como uma homenagem ao poeta Agostinho Neto, falecido em setembro de 1979.  Para saudar a memória do Presidente-Poeta, foram editados por essa Brigada folhetos mimeografados intitulados “Aspiração” e “Caminho das Estrelas”, títulos estes inspirados em conhecidos poemas de Neto. Tais folhetos foram publicados, em agosto de 1981, na coleção Lavra & Oficina, da União dos Escritores Angolanos, números 33 e 34.

O Movimento das Brigadas foi contagiante e espontâneo, tendo-se espalhado não apenas por diversas províncias angolanas (Luanda, Lubango, Huambo, Cabinda, Uíge e outras), mas também entre angolanos que se encontravam no exterior: em Cuba e na Rússia, por exemplo. Das Brigadas, três foram as mais representativas: a de Luanda; a do Lubango – da Huíla (fundada em 1982) –, cujas produções literárias e ensaísticas circularam no folheto “Hexágono”; e a do Huambo (criada em 1984), denominada “Brigada Jovem de Literatura Alda Lara”, cujos poemas e ensaios foram divulgados no folheto “Gênese”.

Funcionando como verdadeiras oficinas literárias, as Brigadas congregaram jovens poetas, mantendo viva e acesa a importância do constante e renovador processo do fazer poético. Tais centros literários serviram não só à discussão crítica e ao repensar dos ideais ideológicos legados por Neto e pelas lutas em prol da independência, mas também ao exercício da liberdade de cada cidadão e ao desenvolvimento da pesquisa estética rumo à renovação de uma autêntica poesia angolana. A poesia pós-1980 produzida pelas Brigadas se afastou do tom épico da poética de combate, abraçando um viés lírico e uma reflexão profunda acerca de questões humanas e literárias. Na esteira dos poetas dos anos 1970, exacerbaram os procedimentos de elaboração estética, em busca da construção de metáforas dissonantes e surpreendentes.

Não foi por acaso que grandes poetas hoje consagrados – entre os quais João Maimona, João Tala, Conceição Cristóvão, Fernando Kafukeno e muitos outros – saíram das Brigadas. E destas também emergiram representativos nomes em diversos campos: da Arte, da Política, da Economia, da Administração angolanas, entre outros.

A relevância das Brigadas foi percebida por muitos poetas e intelectuais angolanos mais velhos, entre os quais Uanhenga Xitu, Jorge Macedo, Boaventura Cardoso e António Jacinto. Esse movimento, em nossa opinião, é tão rico e fundamental para a formação e desenvolvimento da poesia angolana de hoje, quanto foi o da geração poética dos anos 1950.

No início das Brigadas Jovens, havia ainda uma certa visão utópica em relação à poesia, sendo esta concebida como arma de resistência e conscientização dos jovens, como instrumento de manutenção dos sonhos socialistas preconizados pela Revolução. Porém, após 1985, com o acirramento da guerra desencadeada entre a UNITA e o MPLA, e, especialmente após 1989, depois da queda do Muro de Berlim e da dissolução da antiga União Soviética, um tom melancólico passou a envolver a produção poética das Brigadas Jovens, havendo um clima de desencanto em razão do não cumprimento dos ideais prometidos pela Independência.

Os Movimentos das Brigadas Jovens nas províncias, na primeira metade dos anos 1980, foram intensos e solicitavam apoio à Brigada de Luanda. Foi Elísio Costa o iniciador da luta por uma organização nacional das Brigadas, o que, só em 21 de novembro de 1987, se concretizou com a criação da Brigada Jovem de Literatura de Angola- BJLA, resultado da massiva presença reivindicatória de jovens das diversas Brigadas das províncias na Assembléia Nacional. O primeiro presidente da BJLA foi Conceição Cristóvão, cujo mandato se estendeu de 1987 a 1997, data em que foi sucedido por David Filho. Fundidas na BJLA, as Brigadas provinciais foram-se extinguindo enquanto movimentos individuais e se transformaram no brigadismo literário que continua a congregar jovens poetas, discutindo procedimentos do fazer poético destes e publicando poemas dessa “novíssima poesia angolana” em antologias como, por exemplo: O Sabor Pegadiço das Impressões Labiais, de Akiz Neto (coordenação). Huíla: BJLA, 2003 e Geografia Mágica da Kianda, de John Bella (coordenação). Luanda: BJLA, 2004.

Observamos que, do final dos anos 1980 até 2002, as disputas internas entre o MPLA e a UNITA esfacelaram, em grande parte, o crescimento econômico de Angola, destruindo bastante determinadas regiões do país. Nesse período, a poesia, tanto a das Brigadas Jovens, como a de poetas não vinculados a esses Movimentos, também se esgarçou, passando a se caracterizar por forte distopia em relação aos antigos sonhos libertários. A certeza revolucionária foi substituída pela instabilidade e pelas dúvidas.

No campo da linguagem, a poética pós-1985, de um modo geral, propôs a radicalização do projeto de recuperação da língua literária, aproveitada em suas virtudes intrínsecas e universais, mas sem os regionalismos característicos da literatura dos anos 1950. Erigiu a metaconsciência e o traço crítico como estratégias estéticas prioritárias, porém despidos do panfletarismo ideológico dos anos 1960. Elegeu a ironia e a paródia como artifícios literários de denúncia da corrupção e das contradições do poder. Dialogando com poetas de gerações anteriores, essa lírica buscou apontar para a crise das utopias, fundando um lirismo que passou a cantar os sentimentos existenciais. Procedeu a uma intensificação poética, através da depuração da linguagem literária que, em alguns casos, se manifestou por experimentalismos, por corporizações plásticas de palavras, por metáforas surrealistas, por jogos verbais que acentuaram a relação entre ética e estética.

Profunda melancolia recobre, desse modo, grande parte da poética angolana produzida entre 1985-2002 (que abarca tanto o Movimento das Brigadas Jovens e o do Brigadismo Literário, como a poesia produzida fora desses Movimentos). Transgressão, errância, desafio, eroticidade, metalinguagem e desconstrução são alguns dos vetores dessa “novíssima poeisis3 tecida por perplexidades e precariedades, heterogeneidades e heterodoxias.

A par da decepção frente a um social cheio de contradições, muitos poetas continuaram a escrever versos, a maioria dos quais funcionando como instâncias críticas de reflexão acerca dos sofrimentos do povo angolano. Foi, portanto, como resistência que a poesia sobreviveu, ora trilhando os caminhos da sátira e da paródia, ora os da metalinguagem, do erotismo, dos mitos e dos sonhos. Estes nutriram o sistema literário angolano e, nos tempos presentes, embora um tanto dilacerados, ainda constituem uma espécie de energia subterrânea que impulsiona a imaginação criadora, combatendo o imobilismo e a descaracterização cultural.

Arlindo Barbeitos – surgido nos anos 1970, mas continuando a escrever até hoje – pode ser identificado como um “poeta dos sonhos”, pois é autor, entre tantas obras, de Nzoji – que significa sonho em quimbundo – e Fiapo de sonhos. Usando uma linguagem cortante e surreal, o poeta aponta para: escuras nuvens grossas de outros céus vindas; entrançando-se por entre asas de pássaros canibais e chuva de feiticeiro em sopro de arco-íris dependurada4 . Nesse poema, o sujeito poético confessa a desilusão por saber esgarçados os antigos sonhos que, no presente, se tornaram difíceis e quase impossíveis de se transformarem em realidade.

Luis Kandjimbo designou como “geração das incertezas” a poesia dos anos 80 e também a dos anos 90, cujos traços constantes são as temáticas da decepção e da angústia diante da situação de Angola frente à fome e miséria social. Essa poesia pós-1980 não vai, na maioria das vezes, se ater explicitamente às questões sociais. A inquirição não é apenas cognitiva, mas principalmente sensitiva, buscando apreender as paixões humanas em todas as suas dimensões. Paula Tavares, José Luis Mendonça, João Melo, Maria Amélia Dalomba, João Maimona, João Tala, Fernando Kafukeno, Lopito Feijoó, Luis Kandjimbo são, por exemplo, alguns destes poetas, entre os quais os cinco últimos aqui citados pertenceram a Brigadas Jovens de Literatura e/ou ao grupo OHANDANJI5, outro movimento representativo da “novíssima poesia angolana”.

Além das Brigadas e do grupo Ohandanji, em meados dos anos 1980, há que ressaltarmos o papel da revista Archote, cuja maior contribuição foi a de divulgar, como fizeram nos anos 1950 as revistas Mensagem e Cultura, uma literatura de qualidade. José Luis Mendonça, por exemplo, e outros, como Ana de Santana, publicaram aí alguns de seus textos. Em entrevista, José Luis Mendonça explica certas diferenças entre a produção das Brigadas Jovens e a de Archote:

As Brigadas sempre tiveram uma certa conotação política. Já o Archote foi uma pequena publicação de que só saíram dois ou três números, com literatura variada, boa literatura por sinal. Surgiu muito mais tarde do que as Brigadas. A diferença estava em que no Archote se podia publicar o que era considerado tabu pelo regime e havia o desejo de publicar literatura de qualidade.6

Para Maimona, poeta que fez parte da Brigada Jovem de Literatura do Huambo, a trajetória da liberdade foi obliterada pela corrupção e as utopias foram mutiladas. Por isso, ele questiona: De quem são as nuvens em ruas de sonhos? De quem são os desertos que anunciam lágrimas? 7

A poesia de João Maimona opta pelas trilhas da alegoria, operando com signos da ruína e da morte. Esqueletos enchem as mãos do poeta. São imagens metafóricas da fome e da guerra que ocuparam os espaços dos sonhos. Há, todavia, nesses poemas, a par do desencanto, da solidão, da dor, a procura de elementos cósmicos: o ar, o vento, as aves, as abelhas, alegorias do tecido tênue e aéreo da própria poesia.

José Luis Mendonça, autor de Chuva novembrina, 1981, livro de poemas galardoado com o prêmio de poesia “Sagrada Esperança – 1981” do concurso de literatura Camarada Presidente, é um dos grandes poetas da novíssima poesia angolana surgida após a Independência, embora não tenha sido membro de nenhuma das Brigadas Jovens de Literatura. Seus poemas produzidos entre os anos 1980 e 1990 apresentam uma visão noturna e melancólica, embora, também, trabalhem com a alegoria da aurora dos sonhos e do amanhecer da poesia:

A tempestade arrancou os ventos do meu peito
A pele do leão do meu coração faísca
Nos subúrbios da noite. De quem são estes sonhos perfilados no mural dos meus testículos?8

As imagens da “tempestade” e “subúrbios da noite” alegorizam a perda da imaginação frente ao anoitecer que se abate sobre o eu-poético, cujos sonhos, contudo, sob a forma de desejos, se guardam nos próprios testículos, local metaforicamente conotado que aponta para a reprodução, representando, por isso, uma forma de resistência.

Alguns poemas de Paula Tavares – grande poeta que também desponta logo após o 11 de novembro de 1975 e funda uma nova dicção para o discurso poético feminino em Angola – põem em cena, de modo contundente e alegórico, o universo de dor existente no contexto social angolano das guerras pós-Independência. O onirismo de seus versos é revelador dos absurdos do próprio real:

Um homem com o coração nas mãos
correu pela borda da noite
para oficiar as trevas
[...]
Perdeu a capacidade do gesto
[...]
as mãos já não são mãos
mas um tecido de veias
que pingam sangue no útero da floresta9

Paula Tavares é autora de livros como Ritos de passagem, No lago da lua, Dizes-me coisas amargas como os frutos e, mais recentemente, Ex-votos. Outras vozes poéticas femininas também surgiram nesta época, como Ana de Santana, Lisa Castel, Maria Alexandre Dáskalos, Amélia Dalomba. Estas autoras não fizeram parte das Brigadas Jovens de Literatura, mas existiu a participação feminina em algumas Brigadas, como a do Huambo (designada “Brigada Alda Lara”, em homenagem à grande poetisa representativa da “geração da utopia”), onde atuou, por exemplo, a poeta Maria Bela da Graça Neto. Houve, desse modo, no período logo após a Independência de Angola, uma significativa valorização do universo feminino, tendo ocorrido nessa poesia uma reivindicação do direito de a mulher ser correspondida, também, nos prazeres sexuais, podendo falar, sem preconceitos, da própria sexualidade. 

Um outro poeta bastante representativo da atual produção poética existente em Angola é João Melo que vem publicando desde os anos 1980 e, embora não tenha saído das Brigadas Jovens, tem sido atuante na consolidação da poesia contemporânea angolana. João Melo foi Secretário da União dos Escritores Angolanos, tendo organizado o I Seminário da Literatura Angolana em dezembro de 1997, onde se discutiram os rumos da literatura de Angola. O erotismo em sua poesia se faz arma de resistência para enfrentar medos e dores do passado e do presente povoados por fantasmas, pesadelos, gemidos. Poeta da paixão, elege o amor como forma de se manter vivo e de poder sonhar:

Estes fantasmas antigos
Estas palavras
Estes gemidos, selvagens
eu os arranco de ti, amor10

Poetas como Lopito Feijoó e Frederico Ningi, cuja linguagem poética rompeu iconoclastamente com os cânones estéticos tradicionais, valendo-se de metáforas dissonantes, corporizações plásticas de palavras e experimentalismos visuais, assumiram claramente um viés poético paródico, transgressor e irreverente, através do qual denunciaram pesadelos sociais. Frederico Ningi opera, ironicamente, com uma poética que faz dialogarem palavras, imagens e símbolos gráficos. Sua poesia é dissonante e agressiva. Muitos de seus poemas buscaram, por intermédio de alegorias surreais, alertar para o fato de que os sonhos e a esperança, em Angola, estavam morrendo sob as luzes de um poente desencantado. Também Lopito Feijó construiu uma poiesis que se erigiu como crítica ao surreal e absurdo contexto de guerra em Angola. Conotações eróticas, entretanto, revelaram-se em seus poemas como frágeis possibilidades de não deixarem que os sonhos e os desejos viessem a morrer totalmente.

Lopito Feijoó, poeta e crítico literário, foi membro fundador da Brigada Jovem de Literatura de Luanda (BJLL), tendo integrado também, com outros autores, o grupo Ohandanji11, cuja proposta central foi a de contribuir para a consolidação e renovação de uma arte literária nacional baseada em estruturas próprias que partissem da tradição oral, da mitologia, do fabulário e de línguas existentes no continente africano. A participação de Lopito como crítico literário tem sido muito importante para uma reflexão mais profunda acerca da poesia angolana contemporânea.

Herdeira de conquistas anteriores, como, por exemplo, a do trabalho de intensificação lingüística e estética que caracterizou a poética dos anos 1970, encontramos, no panorama dos anos 1990 e 2000, a poética de Fernando Kafukeno, outro poeta também oriundo da Brigada Jovem da Literatura de Luanda. Seu lirismo exacerba o exercício do aproveitamento das potencialidades intrínsecas da língua, primando, entretanto, por uma economia capaz de desbastar o verbo poético de excessos e, através de uma contundência visual, denunciar uma Angola em que os sentidos e os sonhos foram amputados:

hoje o crepúsculo convidou-me a estar presente
nas missas da aurora uma aurora minguada nos
blindados da minha memória.12

Embora este poema fale do crepúsculo, outro traço se faz recorrente na poiesis de Kafukeno: o erotismo sensorial que transforma seus versos em viagem de reflexão e desejo de novas auroras. Estas metaforizam a manutenção e sobrevivência do prazer poético e da memória identitária.

A imagem da aurora minguada, metáfora da imaginação poética, demonstra que, a par das decepções vivenciadas, o caminho do sonho, isto é, da poesia, ainda é possível. Em grande parte da produção poética dos anos 1990, depreendemos uma constante: a de que os sonhos foram adiados em razão da catastrófica realidade de guerra do país. Conceição Cristóvão, por exemplo, evidencia isso no poema “Apocalipse II”:

sonho e realidade adiados
da criança é tênue   sorriso
precocemente envelhecido13

Embora suspensos, observamos que os sonhos não desapareceram totalmente de Angola; vemos que a literatura e as artes, em geral, se apresentam como locais privilegiados das utopias ainda existentes no imaginário cultural angolano. É recorrente, entre os representantes da poesia angolana pós-1985, a imagem dos pássaros. O poeta Ricardo Manuel, por exemplo, adverte para o perigo da liberdade através da metáfora das asas cortadas:

Gaivotas de asas cortadas e
castelos desmoronados à espera
da consumação do amor
é o que nós somos14

Sonho, amor e erotismo são temas frequentes nessa fase da poesia angolana, funcionando como uma espécie de antídoto ao desencanto reinante em Angola. Antonio Panguila, entre outros, apresenta em vários de seus poemas uma linguagem prenhe de metáforas eróticas.

no útero do verde
a puberdade da minh´alma
rima com a menstruação dos sonhos
nas margens daquela sombra15

Há nos poemas de Panguila, apesar do contexto social melancólico em que se insere sua poesia, um viés erótico de certo modo utópico, pois existe uma crença no futuro:

percorri as tetas do sol
à procura de leite
par´amamentar o futuro16

A poesia pós-1985 oscila, desse modo, entre o sonho e a solidão, entre a esperança de futuro e a descrença no presente, entre a fartura dos antigos ideais e a secura das palavras, vivendo na própria terra angolana um “quase exílio”:

seca a palavra
embrutecido o ideal
seca de tempo
nada há por agitar17

Na poesia de John Bella, jovem poeta membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola, também surge a metáfora de uma época seca (kixibu), onde o cereal (masangu) baloiça esfomeado. Focalizando o clã de Ngombe, denuncia a miséria entre os povos pastores de Angola, vítimas das guerras que devastaram o interior do país. Em versos que mesclam o português com palavras das línguas de etnias angolanas, chama atenção para o vácuo, embora restem como esperança o sonho e a chuva:

o vácuo embebido
no sonho d´aurora
nomes marcados com a cor da chuva
neste clã, oh! Ngombe
masangu baloiça esfomeado
no mel do pote há kasumuna
e os restos que o cágado comeu
gado ingeriu sementes
cujas matérias fecais
produziram kixibu18

Adriano Botelho de Vasconcelos, em Abismos de Silêncio, defende o valor da palavra poética, demonstrando como esta é fundamental para a reconstrução de Angola. Segundo ele, ao término das guerras civis, haverá um lugar à passagem da lua / que virá fecundar o valor da palavra.19

Concluindo, procuraremos sintetizar os principais temas e procedimentos estéticos recorrentes na produção poética angolana dos anos de 1980, 1990 e 2000. Segundo Francisco Soares, uma grande heterogeneidade de estilos e formas assinala a poesia dessas três décadas em Angola. Há, contudo, alguns eixos recorrentes: a valorização da palavra poética, o afastamento da poesia militante que girava em torno das certezas revolucionárias, o advento das incertezas, o tema do amor e do erotismo, a fragmentação da linguagem, a flutuação entre uma disposição versificada e prosaica, o trabalho exacerbado com a metapoesia.  Quanto às diferenças, constatamos que uns trabalham mais as metáforas harmoniosas e o ritmo cadenciado, outros operam com dissonâncias e alegorias, chegando até, em determinadas ocasiões, a um certo ecletismo de linguagem. Alguns fazem poesia concreta, usando experimentalismos formais, como é o caso de Frederico Ningi. Outros recriam as matrizes ancestrais das culturas e línguas africanas. Mais recentemente há os que fazem poesia visual produzida em computador entre os quais, por exemplo, o poeta Zé Coimbra. Ainda é Francisco Soares quem chama atenção para as seguintes distinções:

Há que distinguir os poetas revelados mais recentemente e os que viram suas obras publicadas ainda nos anos 1980. [...] Para citar apenas um dos traços em que os dois movimentos divergem, basta falar no tom interveniente que é superado (mas não ignorado) no primeiro polo e que ressurge no segundo.20

Esse tom interveniente da poesia mais recente não apresenta, entretanto, as mesmas características da militância ideológica dos anos 1960. Caracteriza-se por uma denúncia corrosiva e desarmônica em relação aos problemas circundantes. Alguns dos poetas mais jovens demonstram também, por vezes, a tentação do discursivo, da qual os poetas dos anos 1980 se afastavam, pois suas opções, de um modo geral, eram pela elaboração poética mais contida. Apesar dessas diferenças, há na produção poética dos últimos anos uma grande influência de poetas consagrados do primeiro momento, tais como João Maimona e José Luís Mendonça. Observamos, assim, que, embora convivendo com significativas rupturas, há, ao longo do sistema poético angolano, persistências que evidenciam a recorrência de determinados temas e procedimentos literários, tais como o sonho e a metapoesia, respectivamente.

Não há, ainda, como fecharmos uma sistematização completa das características formais da poesia angolana mais jovem (das décadas de 1990 e 2000). Diante da imensa diversidade e dispersão de estilos e tendências, será necessário esperarmos algum tempo para que possamos ter um maior afastamento crítico, capaz de uma avaliação mais madura.

Para encerrarmos esta apresentação das principais trilhas da poesia em Angola, elegemos versos de João Tala, jovem poeta que estreou na literatura em 1997, tendo pertencido à Brigada Jovem de Literatura do Huambo. Seu livro A Vitória é uma ilusão de filósofos e de loucos, Prêmio Poesia/2005 da União dos Escritores Angolanos, revela, de modo contundente, algumas das principais inquietações das “novíssimas” gerações da poesia angolana. A alegoria dos tambores de uma pátria entrincheirada21, que abre o primeiro poema, explode no último poema do livro: no tambor de raiva, na dolorosa lágrima, no tempo de colher a cinza22. Refletindo filosoficamente sobre a guerra e a vitória, sobre a paz e as ruínas do país destroçado em diversas regiões, o sujeito poético canta a fadiga e os buracos do sonho23, numa linguagem de alta condensação estética:

(vivo. luto pelo que exprimo. sobejam princípios.
sangrando germino. não lutando me devoro.
esperar é demolir a expressão. calar-me é
inaceitável. o vazio. buraco no sonho. um saco.)24

Claramente depreendemos da voz do eu-poético o imperativo de uma outra forma de germinação de sonhos. Apesar das feridas ainda abertas, há a urgência de novamente lavrar a terra e a poesia:

NOVAMENTE EM LAVOURA

recolho da época devastada agora uma aura
cheguei dos rumores para o paraíso húmido
o meu catecismo é a bruma onde a língua
explode de paixões
cheguei, homem da festa, carrego orvalhos
onde findaram as explosões.25

A par da memória dos muitos anos de explorações e sangrentas lutas, no quadro atual da literatura angolana, depreendemos que a poesia se mantém como força geradora de sonhos, mesmo que estes se encontrem fissurados, conforme adverte Paula Tavares numa das epígrafes que escolhemos para abrir esta introdução crítica. Mesmo o sonho da liberdade – apesar de se ter tornado um projeto interrompido e adiado, em virtude da intensa destruição provocada pelas guerrilhas no pós-Independência –, ainda ecoa, embora pelo avesso, transformado em pesadelo e dúvida, ou em outras maneiras de sonhar que têm a lúcida dimensão de quão precárias e deslizantes são, hoje, com o avanço do capitalismo neoliberal, as novas possibilidades de formações utópicas.

Rio de Janeiro, 15 de março de 2006.

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Notas

* Carmen Lúcia Tindó Secco é Professora Titular de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisadora 1B do CNPq e da FAPERJ. Tem doutorado em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e Pós-Doutorado pela Universidade Federal Fluminense, com estágio na Universidade Politécnica de Moçambique (2009-2010). Publicações: A magia das Letras Africanas (2003); Paulina Chiziane: Vozes e rostos femininos de Moçambique (2013) em coautoria com Maria Geralda Miranda, Afeto& poesia (2014), Pensando o cinema moçambicano (2018), CineGrafias moçambicanas (2019), dentre outros.

 

[1] SECCO, Carmen Lucia Tindó. A Poesia Angolana pós-independência: tendências e impasses. In: VEREDAS, revista da Associação Internacional de Lusitanistas – AIL. Porto Alegre: EDUFRS; Porto: Fundação Engenheiro António de Almeida, v. 7, pp.83-100, dez. de 2006. ISSN: 0874-5102.

[2]  As informações sobre as Brigadas foram retiradas, principalmente, do livro Meditando, de Lopito Feijoó. Luanda: SOPOL; SARL, 1994; do prefácio de Kudijimbe à Antologia poética Geografia mágica da Kianda,coordenada por John Bella. Luanda: Brigada Jovem de Literatura de Angola, 2004; de depoimentos orais de poetas que pertenceram a estes movimentos, entre os quais Conceição Cristóvão, Fernando Kafukeno e Maria Bela da Graça Neto, entre outros.

[3] Tomamos emprestada a expressão “novíssima poesia” angolana de Lopito Feijoó, que, em seu livro Meditando ( Textos de reflexão geral), 1994, p. 12, explica que, na década de 1970, pouco antes e após a Independência, os poetas David Mestre, Ruy Duarte de Carvalho, Arlindo Barbeitos, Jorge Macedo constituíram a chamada “geração silenciada”, cuja proposta estético-literária era bastante inovadora. Assim, Lopito considera esta geração a representante da nova poética angolana, enquanto que os poetas surgidos pós-1980 (e aí se incluem também as Brigadas) como a “novíssima poesia angolana”.

[4] BARBEITOS. In: FERREIRA, M., 1988, p.418.

[5] Consultar FEIJOÓ, Lopito. Meditando (Textos de reflexão geral), 1994, p.26.

[6] MENDONÇA, José Luis. http://www.uea-angola.org/destaque_entrevistas1.cfm?ID=550

[7] MAIMONA, 1997, p. 81.

[8] MENDONÇA, 1997, p. 37.

[9] TAVARES, 2001, pp. 16-17.

[10] MELO, J., 1989, p. 52.

[11] O grupo literário Ohandanj foi criado em 1984 por jovens poetas angolanos, entre os quais: Luís Kandjimbo, Lopito Feijoó, Antônio Panguila, Joca Paixão, Domingos Ginginha; propunha uma poesia angolana profundamente elaborada a partir das tradições ancestrais africanas. Segundo Lopito Feijoó, ohandanji “é uma palavra que, do ponto de vista fonético, parece um termo de uma língua nacional – mas não o é. É a junção de duas palavras – uma palavra do quimbundo e uma palavra do umbundo –, e nós fizemos isto para marcar a dimensão espacial que nós queríamos dar ao nosso trabalho. (...) Têm o mesmo significado. Em quimbundo, é uma pedra que, regra geral, aparece ao lado dos rios; há sempre grandes pedras nas quais as mulheres lavam a roupa, dão banho aos filhos, lavam louça, pisam fuba, milho. É uma pedra com várias utilidades. Em umbundo, esta pedra chama-se «ohanda»; em quimbundo «dandji» e refere-se à aproximação do rio.”  (LABAN, Michel. Encontro com Escritores- Angola, 1991, v. II, p. 872.). No dicionário de Cordeiro da Matta, descobrimos que ndanji significa “raiz”. Consideramos tal significação sugestiva, tendo em vista o fato de a proposta principal de Ohandanji, enquanto grupo literário, ter sido a de produzir uma poesia inteiramente vinculada às tradições orais africanas, aos mitos e à recuperação do imaginário cultural angolano. Cruzando a explicação de Lopito Feijoó, com o sentido de ndanji  dado por Cordeiro da Matta, chegamos à seguinte interpretação: “ohanda” ou “dandji” – isto é, a pedra à beira-rio,  onde transcorria o cotidiano das mulheres umbundas e quimbundas – funciona, associada também ao vocábulo quimbundo “ndanji” (=raiz), como metáfora da busca profunda das raízes ancestrais de Angola.

[12] KAFUKENO, 2000, p. 52.

[13] CRISTÓVÃO, Conceição, 1996, p. 15.

[14] MANUEL, Ricardo, 1998, p. 29.

[15] PANGUILA, A. O vento do parto, 1993, p.18.

[16] PANGUILA, A. O vento do parto, 1993, p. 28.

[17] FERREIRA, Carlos, 2003, p. 55.

[18] BELLA, John, 2000, p. 36.

[19] VASCONCELOS, Adriano B., 1996, p. 40.

[20] SOARES, F, 2001, p. 10.

[21] TALA, 2005, p.11.

[22] TALA, 2005, p.61.

[23] TALA, 2005, p. 21.

[24] TALA, João, 2005, p. 21.

[25] TALA, João, 2005, p. 20.

 

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