DADOS BIOGRÁFICOS

Milton Santos Nasceu em 1926, no município baiano de Brotas de Macaúbas, situado na região da Chapada Diamantina. Filho e neto de professores primários, migrou, em sua infância, juntamente com sua família para outras cidades do estado, como Ubaitaba, Alcobaça e Salvador. Foi alfabetizado pelos pais e avós, aprendendo também álgebra e francês. Aos 10 anos o futuro geógrafo é matriculado no renomado colégio Instituto Baiano de Ensino, localizado na capital do estado. Foi aluno e residente da referida escola por dez anos e seria ali o local onde passaria a se interessar pela disciplina de Geografia. O professor de Geografia Humana Oswaldo Imbassay seria uma forte influência para a formação intelectual do jovem estudante. Aluno prodígio, aos quinze anos passou a ensinar seus colegas mais novos.

Ao terminar os estudos no ginásio, passou a se preparar para ingressar na Faculdade de Direito de Salvador, cursando, entre 1942 e 1943 o curso pré-jurídico, sendo aceito na referida instituição de ensino superior no ano de 1944. Depois de formado, em 1948, o intelectual ministrou aulas de Geografia Humana no Colégio Municipal de Ilhéus, cidade onde veio a se casar com Jandira Rocha, mãe de seu primeiro filho. Neste período, Milton trabalhou também como jornalista, publicando no jornal A tarde como colunista e depois como editor.

Após o casamento, Milton mudou-se com a família para Salvador, onde exerceu cargos públicos e iniciou sua carreira acadêmica tornando-se professor na Universidade Católica em 1956. A partir de contatos estabelecidos quando esteve no Congresso Internacional de Geografia, sediado no Rio de Janeiro, recebeu convite para realizar doutorado na França. Convite aceito, Milton formou-se doutor em geografia pela Universidade de Estrasburgo, França, em 1958, com a tese O Centro da Cidade de Salvador, sob orientação do professor Jean Tricart. Nessa época suas pesquisas centravam-se nas realidades locais. 

Ao retornar ao país natal, Santos tornou-se Livre Docente em Geografia Humana pela Universidade Federal da Bahia, em 1960. Um ano depois, foi escolhido como representante da Casa Civil no estado, durante governo do presidente Jânio Quadros. Pouco depois, prestou concurso para lecionar na referida universidade, mas o golpe militar de 1964 interrompeu seus planos e levou-o preso. Na cadeia, recebeu convite para lecionar na França. Assim, Milton seguiu para o exílio em 1964, já separado da sua primeira esposa. Imaginou que ficaria exilado por 6 meses, mas acabou por passar 13 anos no exterior. 

Na França, primeiro destino do seu exílio, Milton conheceu Marie Hélène Tiercelin, também geógrafa, com quem viria a se casar em 1972 e que seria sua companheira pelo resto da vida. Vivendo no exterior, Milton apegou-se a filosofia e empenhou-se em conferir status de filosofia à geografia, ou seja, provar que a geografia também é uma filosofia. Fundamentava, neste empenho, que a geografia é uma “filosofia das técnicas”. 

Milton Santos começou sua carreira no exterior lecionando em Toulouse, depois passou por Bordeaux e Paris, onde lecionou na Sorbonne. Em 1971, seguiu para o Canadá (Universidade de Toronto) e depois para os Estados Unidos, onde foi pesquisador convidado do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), trabalhando com o linguista e filósofo Noam Chomsky. Passou ainda pela Venezuela, onde foi diretor de pesquisa e planejamento de urbanização das Nações Unidas (ONU). Datam desta época as pesquisas do geógrafo acerca dos processos de urbanização das cidades do então chamado “terceiro mundo”. Depois, como desenvolvimento deste seu interesse, realizou trabalhos de pesquisa sobre pobreza urbana na América Latina em Lima (Peru), onde também lecionou na Faculdade de Economia da Universidade Central. Na Tanzânia, penúltimo destino antes do retorno ao Brasil, Milton organizou o curso de pós-graduação em Geografia da Universidade Dar-es-Salaam, e lá residiu por dois anos. De volta aos EUA, terminou o longo período de exílio lecionando na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. 

De volta à terra natal em 1977, ano de nascimento de seu segundo filho, Rafael, Milton tornou-se Consultor de Planejamento do estado de São Paulo, depois lecionou como professor visitante na Universidade Federal do Rio de Janeiro entre 1979 e 1983, quando então foi contratado como professor titular da Universidade de São Paulo, onde lecionou até se aposentar, sem nunca deixar de trabalhar.  

O impacto das publicações em português dos livros do geógrafo, que até então só haviam sido editados em outros idiomas, foi enorme. Suas ideias foram responsáveis pela renovação de boa parte dos conceitos e temas debatidos na geografia brasileira.

Após voltar ao Brasil, Milton não deixou jamais de produzir, seguiu lecionando e orientando mestres e doutores, ao mesmo tempo em que prosseguiu lançando livros, o que o alçou a uma das mais extensas e densas bibliografias brasileiras, sem dúvida a maior entre geógrafos latino-americanos.

Deixou como legado mais de 40 títulos publicados em diversos idiomas e mais de 300 artigos e pequenas publicações. Entre outros, podemos destacar: Por uma geografia nova (1978), O espaço dividido (1978), Ensaios sobre a urbanização latino-americana (1982), Espaço e Método (1985) e A natureza do espaço (1996). Suas produções mais recentes fundamentaram as principais teorias contemporâneas antiglobalização. Em 2001, foi filmado o documentário “Encontro com Milton Santos: O Mundo Global Visto de Cá”, dirigido por Silvio Tendler e lançado em 2006. O filme apresenta por meio de entrevistas alguns dos principais conceitos do geógrafo.

Milton Santos, ao longo de sua exitosa carreira acadêmica, recebeu dezenas de títulos e homenagens no mundo inteiro. São vinte títulos de Doutor Honoris Causa, sendo doze conferidos por universidades brasileiras e oito estrangeiras, além do título de Professor Emérito da USP, recebido em 1997. Dentre as diversas premiações recebidas, merece destaque o prêmio maior da geografia: Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, que o geógrafo recebeu em 1994.

Milton morou em São Paulo desde que passou a ministrar aulas na USP até a sua morte em 24 de junho de 2001, aos 75 anos, vítima de câncer. Seu corpo foi sepultado no cemitério da Paz, zona sul de São Paulo. Pelos familiares, amigos e alunos, Milton é lembrado como pessoa serena, de fala pausada, inteligência rara e sorriso fácil. 

Fonte: Museu afrobrasil. Disponível em: <http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/hist%C3%B3ria-e-mem%C3%B3ria/historia-e-memoria/2014/12/30/milton-almeida-dos-santos>. Acesso em: 06 de outubro de 2020.


PUBLICAÇÕES

Obra individual

O povoamento da Bahia: suas causas econômicas. Imprensa Oficial da Bahia: Salvador, 1948.

Estudos sobre geografia. Tipografia Manú: Salvador, 1953.

Os estudos regionais e o futuro da geografia. Imprensa Oficial da Bahia: Salvador, 1953.

Zona do cacau: Introdução ao estudo geográfico. 1ª ed. Imprensa Oficial da Bahi: Salvador, 1955. 2ª Edição: Companhia Editora Nacional: São Paulo, 1957. Coleção Brasiliana, vol. 296

A cidade como centro de região. Universidade Federal da Bahia - Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais. Imprensa Oficial: Salvador, 1959.

A rede urbana do Recôncavo, Universidade Federal da Bahia - Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais. Imprensa Oficial: Salvador, 1959.

O centro da cidade do Salvador, Universidade Federal da Bahia. Livraria Progresso Editora: Salvador, 1959.

Marianne em Preto e Branco (viagens). Livraria Progresso Editora: Salvador, 1960.

A cidade nos países subdesenvolvidos. Editora Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 1965.

Croissance démographique et consommation alimentaire dans les pays sous-développés, I. Les données de base (320 p.); II. Milieux géographiques et alimentation (341 p.), Centre de Documentation Universitaire (CDU): Paris, França, 1967.

Aspects de la géographie et de l’économie urbaine des pays sous-développés, 2 fasc (100 e 92 p.). Centre de Documentation Universitaire (CDU): Paris, França, 1969.

Dix essais sur les villes des pays-sous-développés. Ed. Ophrys: Paris, França, 1970.

Le métier du géographe en pays sous-développés. Ed. Ophrys: Paris, França, 1971.

Les villes du Tiers Monde. Ed. Génin, Librairies Techniques, Géographie Economique et Sociale, tome X, Paris, França, 1971.

Geografia y economia urbanas en los países subdesarrolados, Ed. Oikos-Tau: Barcelona, Espanha, Colección Ciências Geográficas, 1973.

Underdevelopment and poverty: a geographer’s view, The Latin American in Residence Lectures. University of Toronto: Canadá, 1972-1973, 1975.

L’espace partagé. Editions Librairies Techniques, M. Th. Génin: Paris, França, 1975.

Por uma geografia nova. HUCITEC-EDUSP: São Paulo, 1978. (5ª ed: 1996).

O trabalho do geógrafo no Terceiro Mundo. HUCITEC; AGB: São Paulo, 1978 (4ª edição: 1996).

A pobreza urbana. HUCITEC-UFPE: São Paulo, 1978. Coleção Estudos Urbanos. (2ª edição: 1979).

O espaço dividido. Livraria Editora Francisco Alves: Rio de Janeiro, 1978.

Economia espacial: críticas e alternativas. HUCITEC: São Paulo, 1978.

The shared space: the two circuits of the urban economy and its spatial repercussions. Methuen: Londres, 1979.

Espaço e sociedade. Editora Vozes: Petrópolis, 1979. (2ª edição: 1982).

A urbanização desigual. Editora Vozes: Petrópolis, 1980. (2ª edição: 1982).

Manual de geografia urbana. HUCITEC: São Paulo, 1981. (2ª edição: 1989).

Pensando o espaço do homem. HUCITEC: São Paulo, 1982. (3ª edição: 1991).

Ensaios sobre a urbanização latino-americana. HUCITEC: São Paulo, 1982. (2ª edição: 1986).

Pour une géographie nouvelle. Editions Publisud: Paris, 1985. (2ª edição, 1986).

Espaço e Método. Nobel: São Paulo, 1985. (3ª edição: 1992).

Espacio y Metodo, Geocritica nº 65, Septiembre 1986, Universidad de Barcelona.

O Espaço do Cidadão. Nobel: São Paulo, 1987. (3ª edição: 1996, 4ª edição: 1997, 5ª edição: 2000).

Metamorfoses do Espaço Habitado. HUCITEC: São Paulo, 1988. (5ª edição: 1997).

Por una geografia nueva. Espasa-Calpe: Madrid, 1990.

Metrópole corporativa fragmentada: o caso de São Paulo. Nobel: São Paulo, 1990.

Espace et Méthode. Publisud: Paris, 1990.

A Urbanização Brasileira. Hucitec: São Paulo, 1993. (4ª edição: 1998).

Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e meio técnico-científico informacional, Hucitec. São Paulo: 1994. (4ª edição: 1998).

De la Totalidad al Lugar. Oikos Tau: Barcelona, 1996.

Metamorfosis del Espacio Habitado. Oikos Tau: Barcelona, 1996.

A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. Hucitec: São Paulo, 1996. (3ª edição: 1999).

La Nature de l’Espace. Technique et Temp. Raison et Émotion. L’Harmattan. Paris: 1997.

La Naturaleza del Espacio. Técnica y Tiempo. Razón y Emoción. Ariel: Barcelona, 2000.

Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. Record: Rio de Janeiro, 2000. (4º edição: 2000).

O País distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania (organização, apresentação e notas de Wagner Costa Ribeiro e ensaio de Carlos Walter Porto Gonçalves). Publifolha: São Paulo, 2002.

Coautoria

 Estudos de Geografia da Bahia, (em colaboração com J. Tricart e outros). Livraria Progresso Ed.: Salvador, 1958.

Localização Industrial. Estudos e Problemas da Bahia (em colaboração com D. Jacobina). ed. mimeografada da CPE nº 3, Salvador, 1958.

O Ensino Superior Público e Particular e o Território Brasileiro (em colaboração com Maria Laura Silveira). ABMES: Brasília, 2000.

O Brasil: território e sociedade no início do século XXI (em colaboração com Maria Laura Silveira). Record: Rio de Janeiro, 2001.


FONTES DE CONSULTA

Território e Sociedade. Entrevista com Milton Santos. Entrevistado por Odette Seabra, Mônica de Carvalho, José Corrêa Leite. Editora Fundação Perseu Abramo: São Paulo, 2000.

ASSIS, Jesus de Paula. Milton Santos: testamento intelectual. São Paulo: Editora Unesp, 2004.


LINKS

Site de Milton Santos 

Milton Santos Museu afrobrasil

Milton Santos na Wikipédia

Milton Santos no Portal Fiocruz

Milton Santos no Roda Viva

Milton Santos no Jô Soares

Documentário O mundo global visto do lado de cá

Milton Santos no nexo Jornal

Milton Santos - Por uma outra globalização

Milton Santos fala sobre a condição do negro no Brasil

Da paisagem ao espaço - palestra de Milton Santos

Debate com Milton Santos - O papel ativo da Geografia