Apesar da pouca idade, Luana sabe de onde vem a força que a ajuda a não se desesperar. Mestre Calça-Larga, Nena e vovó Josefa sempre lhe falam: “Não temos nada a temer. Nossos antepassados nunca nos abandonam. Eles estão dentro de nós”.
[...]
De repente, Luana se vê na noite de 24 de janeiro de 1835, em um casarão também no Pelourinho. Os homens vestem uma espécie de camisolão e as mulheres, vestidos longos, com véus na cabeça. São os malês, muçulmanos, e se cumprimentam com a expressão:
– Allahu akbar! Allahu akbar!1
Nesta noite, vão deflagrar uma revolta para libertar todos os escravos e criar um império negro na Bahia. Luísa está centre eles.
De repente, alguém entra correndo na sala, gritando:
– Fomos traídos! Fomos traídos!
Imediatamente, mais de 1.500 malês entram em confronto com os policiais e atacam um quartel. Por algumas horas, a capital da Bahia lhes pertence. Setenta morreram e 281 são presos. Quatro líderes condenados à morte por enforcamento. Os demais, a trabalhos forçados, açoites e degredo na África.
(Luana: asas da liberdade, p. 15).