DADOS BIOGRÁFICOS

O escritor, jornalista, funcionário público e embaixador, Raymundo de Souza Dantas nasceu em Estância, no estado de Sergipe, em 11 de janeiro de 1923. O diplomata foi nomeado por Jânio Quadros embaixador em Gana, o primeiro, e único (até então), negro do país a ocupar a função.

Filho de pais analfabetos, Reis Café Souza Dantas, pintor, e Porfíria Conceição Dantas, lavadeira, o menino Raymundo frequenta a escola por poucos meses devido às dificuldades financeiras que a família, criada pela mãe e composta por mais dois irmãos, atravessava.

Dos dez aos doze anos de idade, exerceu vários ofícios para ajudar a mãe, dentre eles aprendiz de ferreiro e de marceneiro. Na adolescência, aos 16 anos, começa a atuar como tipógrafo, em Aracaju, no Jornal de Sergipe, época em que seu penoso processo de alfabetização tardia começaria a se concretizar. Essa trajetória seria narrada mais tarde em sua obra, especialmente no livro Um começo de vida, um depoimento biográfico, publicado em 1949 para a Campanha de Educação de Adultos do Ministério da Educação e Saúde:

– Preciso de um trabalho, doutor – ousei lhe confessar. Não tenho um níquel, nem onde dormir (...).

– Você sabe ler? (...) Além de conhecer as letras, sabia o destino a que estavam reservadas, mas sem ajuda de alguém eu nada poderia fazer com os sinaizinhos. Como responder, como? (...) Vi-me exposto à curiosidade geral, humilhado, rebaixado em minha condição humana. Foi um dos que estavam presentes que veio em meu socorro – de quem anos depois cheguei a ser um dos mais íntimos: Graciliano Ramos (...). Se não sabe ler, não será novidade. Muitos que hoje estão famosos chegaram analfabetos. Alguns até continuam... Portanto, quem lhe poderá atirar a primeira pedra? (DANTAS, 1949, p. 32, 34 e 35).

Aos dezoito anos, Raymundo de Souza Dantas chega ao Rio de Janeiro, onde tenta a princípio trabalhar em uma banca de frutas, mas, como não sabia direito fazer contas, foi despedido. É graças a essa demissão que o jovem pôde se aproximar da Literatura. Em 1942, passa colaborar com as revistas Vamos Ler e Carioca e também como revisor de uma editora de livros infantis e do Diário Carioca. Em 1944, o revisor, que, dois anos antes, ainda não completara seu processo de alfabetização, dá mostras de superação ao publicar seu primeiro livro, escrito em um período de três meses, Sete Palmos de Terra. O romance, grafado numa linguagem simples, ficcionaliza recordações de sua infância e adolescência em sua cidade natal – Estância.

Como jornalista, Souza Dantas integrou ainda as redações dos periódicos A Noite, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo, Dom Casmurro, Leitura, Brasil açucareiro, dentre outros. Mais tarde, atuou na Secretaria do Departamento de radiojornalismo da Rádio Nacional, bem como na Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa, como assessor especial, e também como debatedor do programa de entrevistas Sem Censura, que fez história no país logo após o fim do Ato Institucional nº 5 e da ditadura de 1964.

No MEC, trabalhou como Assistente de Educação e Técnico de Assuntos Educacionais, organizando, em 1968, o Setor de Relações Públicas do Ministério, onde também chefiou os setores de Imprensa e Divulgação. Foi também membro do Conselho Nacional do Cinema, e, mais tarde, do Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro.

O escritor assina ainda a autoria de Agonia (compilação de contos publicada em 1945), Solidão nos Campos (romance de 1949), das novelas Vigília da noite (1949) e Lado da Sombra, além do diário África Difícil: missão condenada (1965). Este último conta com o relato das experiências de Souza Dantas frente à Embaixada em Gana e traz muito da cultura africana e sua influência na sociedade brasileira. Nele encontra-se o registro de suas pesquisas e contato com os descendentes de escravos repatriados no Brasil, bem como descreve as dificuldades na carreira diplomática. Essa obra foi responsável por divulgar os estudos sobre uma comunidade fundada por brasileiros em Acra, viabilizando um importante trabalho de documentação sobre aspectos da história afro-brasileira e do trânsito diaspórico no Atlântico Negro.

Em 1966, Raymundo de Souza Dantas integrou a representação brasileira no I Festival de Artes Negras, em Dakar, no Senegal, e, em 1967, participou do II Congresso das Comunidades Negras de Cultura Portuguesa realizado em Moçambique.

O escritor foi condecorado com a Medalha do Pacificador, Oficial da Ordem Nacional do Senegal, Medalha Silvio Romero, e Medalha Santos Dumont. Faleceu em 8 de março de 2002, no Rio de Janeiro, aos 79 anos.

 


PUBLICAÇÕES

Obra individual

Sete Palmos de Terra. Rio de Janeiro: Editora Vitória, 1944. (romance).

Agonia. Curitiba: Editora Guairá, 1945. (contos).

Solidão nos campos. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1949. (romance).

Vigília da Noite. Rio de Janeiro: Edições da Revista Branca, 1949. (novela).

Um começo de vida. Rio de Janeiro: Campanha de Educação de Adultos, Ministério da Educação e Saudade, 1949. (memória).

Reflexões dos 30 anos. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1958. (memória).

O lado da sombra. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy Editora, 1961. (novela).

África Difícil: missão condenada. Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1965. (diário).

Antologia

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, vol. 1, Precursores.

 


TEXTOS

 


CRÍTICA

 


FONTES DE CONSULTA

AYESU, Alcione Meira Amos e Ebenezer. “Sou Brasileiro: História Dos Tabom, Afro-Brasileiros em Acra, Gana”. In: I am Brazilian. History of the Tabon Afro-Brazilians, Transactions of the Historical Society of Ghana, New Series, n° 6, 2002, pp. 35-58. Tradução de Valdemir D. Zamparon. Disponível também em: http://www.casadasafricas.org.br/site/img/upload/762284.pdf

BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.

CHIACCHIO, Carlos. Resenha a Agonia. Salvador: A Tarde, “Homens & Obras”, 20. fev.1946.

COUTINHO, Afrânio e SOUSA, J. Galante. Enciclopédia de literatura brasileira. Vol I. São Paulo: Global Editora; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional/DNL: Academia Brasileira de Letras, 2001.

COSTA, Haroldo. Fala crioulo: depoimentos. Rio de Janeiro: Record, 1982.

GILFRANCISCO. Raimundo Souza Dantas. Aracaju: Aracaju Magazine (Especial n. 100), fev. 2004, p. 28-9.

J. E. F. Resenha de Um Começo de Vida. In: A Ordem. Petrópolis-RJ, out. 1949.

JUREMA, Aderbal. Poetas e romancistas do nosso tempo. Rio de Janeiro: s/i, 1953.

LIMA, Melo. Resenha a Sete palmos de terra. S.I.; s.n., 1944.

MARIANI, Clemente. Este Livro. Apresentação a DANTAS, Raymundo de Souza. Um Começo de vida. Rio de Janeiro: Campanha de Educação de Adultos, Ministério da Educação e Saudade, 1949.

MILLIET, Sérgio. Diário crítico IV. 2. ed. São Paulo: Martins-EDUSP, 1981.

NASCIMENTO, Elisa Larkin (org). A matriz africana no mundo. São Paulo: Selo Negro, 2008. Disponível também em: http://books.google.com.br/books?id=knmryuqbKboC&pg=PA223&lpg=PA223&dq=%C3%A1frica+dif%C3%ADcil+souza+dantas&source=bl&ots=dkAkP0qTNX&sig=cx9Bf5JtvfXlMCcc7f7l-uoqzJQ&hl=pt-BR&ei=s66dTf-kGsjogQeqxcyzBA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEUQ6AEwBw#v=onepage&q=%C3%A1frica%20dif%C3%ADcil%20souza%20dantas&f=false

OLIVEIRA, Eduardo de (Org.). Quem é quem na negritude brasileira: volume 1. São Paulo: Congresso Nacional Afro-brasileiro; Brasília: Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, 1998, p. 237-8.

SANTOS, Gilfrancisco. Raimundo Souza Dantas. In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, vol. 1, Precursores.

 


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