DADOS BIOGRÁFICOS

Edson Lopes Cardoso nasceu em Salvador, em 1949. Militante do Movimento Negro desde os anos 70, é jornalista, professor e ensaísta. Já em seus primeiros escritos, demonstra forte propensão ao uso da poesia como gesto político. Seus textos surgem marcados pela condição de intelectual negro empenhado em construir a identidade afro-brasileira pelo resgate da memória ancestral e em denunciar todas as formas de discriminação de que são vítimas os afrodescendentes.

Em 1980, mudou-se para Brasília, onde reside atualmente. Na capital, graduou-se em língua e literatura portuguesa pela UnB, e cursou mestrado em Comunicação na mesma Universidade, com a dissertação A celebração conflituosa do mito – uma leitura dos jornais do centenário da abolição da escravatura, defendida em 1990. É doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (2014), com a tese Memória de Movimento Negro - um testemunho sobre a formação do homem e do ativista contra o racismo. Em seguida, cumpriu estágio de Pós-doutoramento em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo.

Militante do Movimento Negro Unificado (MNU), destacou-se por seu trabalho junto à imprensa negra, sendo editor de algumas importantes publicações, dentre as quais  Raça & Classe, da Comissão do Negro do PT-DF (1987), e o Jornal do MNU (1989-1994). Entre 1996 e 2010 editou o jornal Irohín

Edson Cardoso publicou seu primeiro livro de poesia, Areal das Sevícias, em 1977, ao qual se segue Bruxas, Espíritos e outros Bichos, de 1992, que reúne artigos publicados na imprensa no período próximo à comemoração do centenário da abolição. Neste volume encontra-se parte da pesquisa desenvolvida pelo autor e que resultou na sua dissertação de mestrado em Comunicação Social.

Na apresentação do segundo livro de poesia do autor, Ubá, lançado em 1999, o poeta Jônatas Conceição comenta que os textos estão indelevelmente marcados pelo olhar do jornalista, que usa o verbo para voltar-se para os problemas do país e da comunidade negra:

"Se Edson Cardoso tivesse obedecido ao poeta Carlos Dummond de Andrade, quando este escrevera ‘não faça versos sobre acontecimentos’, a literatura afro-brasileira contemporânea teria perdido sua importante contribuição com Ubá. [...] São vinte e um poemas de acontecimentos, numa busca e realização incessantes de poesia que contraria o verso do querido poeta mineiro" (CONCEIÇÃO, Ubá, 1999).

Já para Lourdes Teodoro, o livro encontra-se marcado pelo “espírito do ativista político, pela causa dos negros, por um Brasil melhor.

Como intelectual negro que é, Edson Cardoso traz à tona questões importantes relacionadas à condição do afrodescendente no Brasil. Em texto recente divulgado na internet, questiona as diversas nomenclaturas utilizadas para se referir ao negro, pontuando que a nomeação distinta (mulatos, pardos etc) baseia-se na aparência física (textura do cabelo, tom da pele) e, muitas vezes, expressa uma forma de discriminação para a classe hegemônica, enquanto se manifesta como uma forma de resistência para a “minoria” afrodescendente:

No Brasil de hoje, quando o Movimento Negro diz que pardos e pretos são negros, e constituem a maioria da população brasileira, está menos interessado na descrição da aparência física do que na organização política desse segmento superexplorado. A designação, o ato de nomear, em si, encerra um princípio ativo de poder. É também um ato político-organizativo. O que se disputa não é uma nomenclatura, um conjunto de termos mais ou menos peculiares ou apropriados a nossas relações raciais. Trata-se, na verdade, de dimensionar um instrumento de ação política. Pardo e preto são a expressão de nossa dominação e subalternidade. A palavra negro, no passado, serviu aos interesses dos colonialistas. Hoje, na afirmação contemporânea do Movimento Negro, significa um sujeito político que articula suas referências de massa para a superação de um quadro de profundas desigualdades. (CARDOSO, 2004).

Em entrevista ao jornal PUC Minas, concedida durante o evento Semana de Consciência Negra, realizado pela Universidade, o autor destaca a importância do Movimento Negro no processo de desnudamento das desigualdades raciais no país e ressalta suas conquistas no campo ideológico, ao promover, por exemplo, a valorização da cultura negra. Além disso, como profissional da área de comunicação, destaca a necessidade de o Estado cobrar da imprensa brasileira uma postura contra o racismo no Brasil. Na década de 1990, Edson Lopes Cardoso foi professor lotado no Departamento de Linguística, Línguas Clássicas e Vernáculas da Universidade de Brasília.

Referências

CARDOSO, Edson Lopes. Ubá. Brasília: Edição do Autor, 1999. (Poesia).

  Atualmente está vinculado ao Programa de Pós-Doutoramento da Faculdade de Educação, na Universidade Metodista de São Paulo.

 


PUBLICAÇÕES

Obra individual

Areal das Sevícias. Salvador: Edição do Autor, 1977. (Folheto, poesia).

Ubá. Brasília: Edição do Autor, 1999. (Poesia).

Antologias

Corpo insano. Antologia. Porto Alegre: Editorial Emma, 1977.

Não Ficção

A celebração conflituosa do mito – uma leitura dos jornais do centenário da abolição da escravatura. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social). Faculdade de Comunicação Social. Universidade de Brasília, UnB. 1990.

Bruxas, espíritos e outros bichos. Belo Horizonte: Mazza Edições, 1992.

"O avanço dos bonecos". O Estado de S. Paulo, 11 out. 1996.

Afinal, qual a sua cor? In: Educação Municipal  - Informativo da União Nacional dos dirigentes Municipais da Educação, ano 5, n.13, abr. 2000.

O desafio de controlar a própria explosão. In: PANTOJA, Selma (Org.). Entre África e Brasis. Brasília: Paralelo 1 5; São Paulo: Marco Zero, 2001. p.179-190.

O general que cheirava. In: COELHO, Pedro Motta Pinto; SARAIVA, José Flávio Sombra (Org.). Fórum Brasil-África: política, cooperação e comércio. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, 2004. p.109-122.

Algumas tendências e possibilidades na luta contra o racismo e as desigualdades raciais. In: RECH, Daniel (Coord.) Direitos Humanos no Brasil: diagnóstico e perspectivas. Coletânea Ceris, Rio de Janeiro: CERIS/Mauad X, ano 2, n. 2, p. 485- 493, 2007.

TV pública: falta no debate uma crítica radical ao racismo. Coautoria de PINTO, Ana Flávia Magalhães Pinto e Carlos Alberto Medeiros. In: ARAÚJO, Joel Zito (Org.). O negro na TV pública. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2010. p.193-195.

Memória de Movimento Negro - um testemunho sobre a formação do homem e do ativista contra o racismo. Tese (Doutorado em Educação). Universidade de São Paulo - USP. São Paulo, 2014.

Negro não - a opinião do jornal Ìrohìn. Brasília: Brado negro, 2015.

Nada os trará de volta. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

 

FONTES DE CONSULTA 

JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Discriminação racial, políticas de ação afirmativa. Universidade e mídia. Linhas críticas, Brasília, v. 8, n. 14, jan./jul. 2002.

 

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