DADOS BIOGRÁFICOS

Nascido em Vilar dos Teles-RJ, em 1976, Paulo Dutra é escritor, professor e crítico. Possui Licenciatura em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo, Pós-graduação em Inglês como Segunda Língua/Estudos de Segunda Língua, Mestrado em Literatura Latino Americana e Doutorado em Literatura Latino Americana pela Purdue University (EUA) e Pós-doutorado também pela UFES.

Atua como docente da Universidade do Novo México (EUA), sendo também professor permanente do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do

Espírito Santo e professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora. Dedica-se a pesquisar os diálogos que a América Latina estabelece com o texto de Dom Quixote e, paralelamente, estuda as expressões da diáspora africana, especialmente no Brasil.

Seu primeiro trabalho como ficcionista – Aversão Oficial: (resumida), publicado em 2018, reúne vinte contos marcados pela concisão e por um intenso mergulho no universo conturbado da periferia carioca. No posfácio do livro, o crítico Pedro Antônio Freire escreve:

"Não dá para competir com a realidade", eis uma constatação e tanto já feita logo de início pelo nosso autor ao seu respectivo narrador para levarmos em consideração na lida com as estórias que aqui se encontram, pois, se pensarmos na vida como uma competição, um jogo que se divide entre meros perdedores e vencedores, tal eufemismo cínico pode descaracterizar a parte mais sombria de nosso organismo social perante a grande massa de anônimos sobreviventes: subtraídos em vida e, assim, mais propícios às páginas policiais que às sorridentes colunas sociais e, na morte, estatísticas. Em suma: cartas marcadas como 'cabras marcados para morrer'." (p. 81).

Na abertura de Aversão Oficial: (resumida), consta uma “Advertência do autor ao narrador (mas que o leitor também pode ler se assim lhe parecer conveniente)”, abaixo transcrita:

Usando de suas atribuições legais (ou não) comunica à autoridade máxima narrativa competente que:

Estas histórias vêm repartidas em partes desiguais.
Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência.
Todos os personagens aqui são, foram, ou serão reais em algum momento.
Nenhum nome foi omitido ou mudado.
Quase tudo aconteceu ou acontecerá entre o começo da década de 80 e o fim da década de 90.
Os personagens são reais mas ao mesmo tempo são anônimos.
A periferia é um mundo e lá todos são anônimos.
Nenhuma ficção é páreo para qualquer realidade.
A realidade não existe.
Na real?
Não dá pra competir com a realidade.
                                                      (Dutra, 2018, p. 15)

Já Abliterações, publicado no ano seguinte e semifinalista do Prêmio Oceanos, reúne composições em verso também centradas nos dramas vividos no Complexo da Maré e demais espaços, na prática segregados, do Rio de Janeiro. Abliterações apresenta uma poesia forte e incisiva, com grande aproximação ao universo social e humano abordado nos contos da publicação anterior. Ressurge a Maré, seus dramas e adjacências, numa escrita explicitamente política, a exemplo de inúmeras produções contemporâneas.

No Prólogo do livro, o poeta deixa patente seu recado:

O poeta Haki Madhubuti uma vez disse que nós,
descendentes de Africanos neste continente, somos
vítimas de uma educação pobre e inadequada:

Faltam escolas de qualidade, porém este não é o maior
Problema, já que nas boas e más escolas:

Na aula de história aprendemos que somos e sempre
fomos e seremos bárbaros ignorantes.
Na aula de sociologia aprendemos que nosso cabelo cor e
feição são motivo de vergonha.
Na aula de língua portuguesa aprendemos que nossa
linguagem é insuficiente e que “todos” inclui mulheres
também.
Na aula de literatura aprendemos que fazer poesia
Consiste em hiperbatonizar a língua de dicionários de
páginas amareladas e venerar musas de cabelos doirados
cujas partes mais carnais e por isso sensuais e delicadais
nunca menstruais do corpo são metáforimoseadas
em mandrágoras ou outras flores florais tão proparoxítonas
quanto essa em versos musicados em alinhamento com a
música clássica e cesuras obrigatórias.
[...]
                                                  (Dutra, 2019, p. 13)

Como pesquisador e crítico literário, Paulo Dutra tem trabalhos publicados sobre a presença do Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, na literatura latino-americana e brasileira, com destaque para a obra de Machado de Assis. Estuda também a poética dos Racionais MC’s em relação com o contexto histórico e social contemporâneo.


PUBLICAÇÕES

Obra individual

Aversão Oficial: resumida. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2018. (contos).

Abliterações. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2019. (poesia).

Antologias

Cadernos Negros 41. Organização de Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2018. (poesia).

Cadernos Negros 43. Organização de Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2020. (poesia).

Navegar. "Soninho's Magnificent mile". Chicago; São Paulo: Editora Nós, 2021. (conto).

Review: Literature and Arts of the Americas, n. 102, 2021. "Quarantine and the Quarantined Man". (conto).

Cadernos Negros 44. Organização de Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. São Paulo: Quilombhoje, 2022. (conto).

Revista Casa de las Américas n. 313, 2023. "Allstar". Tradução para o espanhol por Patricio Paúl Peñaherrera Cevallos. (conto).

Revista Casa de las Américas n. 313, 2023. "Me m (i) mento". Tradução para o espanhol por Patricio Paúl Peñaherrera Cevallos. (poesia).

 

Não ficção

Apontamentos sobre a construção da mulher na obra de Machado de Assis e Miguel de Cervantes. In: Espelho, v. 12.13, Porto Alegre, p. 19-27, 2007.

Dom Bacamarte de Itaguaí: rastro de Dom Quixote em “O Alienista”. In: Contexto – Revista do Programa de Pós-graduação em Letras, v. 26, p. 195-216, 2014.

Quincas Borba, Humanitas e a loucura de Dom Quixote. In: Contexto – Revista do Programa de Pós-graduação em Letras, v. 25, p. 208-232, 2014.

DUTRA, Paulo; VOGAS, V. B. Tradição cervantina em Luisa Valenzuela: sonho, relativização da realidade e exposição da linguagem literária contra a verdade dos discursos oficiais. In: Contexto – Revista do Programa de Pós-graduação em Letras, v. 33, p. 208-237, 2018.

DUTRA, Paulo; VOGAS, V. B. A palavra literária como arma em Luisa Valenzuela. In: Contexto – Revista do Programa de Pós-graduação em Letras, v. 34, p. 439-467, 2018.

Noite de Almirante: Interracial Love in Machado de Assis Nineteenth Century. Belo Horizonte: In: Aletria (UFMG), v. 28, p. 119-136, 2018.

Machado de Assis author of Dom Quixote versus Brás Cubas Author of Memórias Póstumas. In: CHASQUI, v. 48, p. 303-318, 2019.

Racionais MC’s and N.W.A.: Bridging the Gap, Embracing Race, and Reclaiming Brazilian Rap’s Blackness. In: Transmodernity: Journal of Peripheral Cultural Production of the Luso-Hispanic World, v. 19, p. 1-21, 2019.

O Recitatif de Machado de Assis: Para uma leitura negra de “Missa do galo” e “Teoria do medalhão”. In: Latin American Research Review, v. 55, p. 122-134, 2020.

Racionais MC’s, Marighella e o branqueamento do Brasil. In: Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, ed. 5916, 2020.

"The ultimate drive by": Racionais MC's, Ice Cube, and the pursuit of Blackness. In:  Revista Brasileira de Literatura Comparada, vol. 24, n. 43. p. 42-55, ABRALIC, 2021.

On Resistance and Dissidence: Blackness in Juliana Sankofa, Ana Paula de Oliveira, and Joyce Viana. In: Review: Literature and Arts  of the Americas, Issue 102, vol. 54, n.1, p. 56-63, 2021.

(Re)ensinando literatura brasileira: uma perspectiva afrodescendente. In: Nuances: estudos sobre Educação , n. 32, 2021.

O Machado Significadô(r): Literatura na afrodescendência. In: Machado de Assis em Linha, n. 15, p. 1-17, 2022.

O chiaroscuro (de) Machado de Assis. In: Rascunho: O jornal de literatura do Brasil, n. 265, p. 24-25, Maio, 2022.

À margem da margem: as poesias de Juliana Sankofa e Ana Paula Oliveira. In: Revista Iberoamericana, vol. 89, n. 282-283, p. 375-392, 2023.

Comovida como o diabo: a poesia (im)publicável de de Juliana Sankofa. In: Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 70-71-72, p. 1-9, 2023.

 

TEXTOS SELECIONADOS

Paulo Dutra - abliterações

Paulo Dutra - A Maré, na Maré, Amar é.

Paulo Dutra - Samba à bangu.

Paulo Dutra - Não me levem a mal, não é nada Pessoal

Paulo Dutra - A culpa deve ser do sol

Paulo Dutra - Oquarentenado e a Quarentena


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