TINTA FORTE

Estou ruído na carne
não no símbolo
que é de pedra
e pégaso.

Andaimes de mim
se erguem
sob uma febre
                      onírica
que da memória
                      esplende
aos ossos
e aos glóbulos.

Estou no gume
e basta
o que se alastra
às veias
           e seu esquivo ouro.

Meu rito avança
sobre a linfa.


(Inda que da saga
férrea
        se emoldure
ao couro
a senha do curtume
                           fero.)

Na dor
o real
        desce
ao osso
cru
e esgarçado
como o avesso
a ver
      – se.

As horas
            em sépia
derrotam o cerco
da promessa
tal que do excesso
– essência.

E nem o tenro
                    ser
da água
em módulos
muda
a dor que dói
no sangue
a dor
no impalpável.

O magma da raça
infenso
         ao mangue
transluz
          da canga
                      bruta:
lavas de sol
primal
renga de tambor
tribal
cateretê
babá.


Árduo de transe
e (extrema)
                 espera
desespero
num rap réptil
num latir
              de latas
reino

à flor da pele
da tinta forte
em que me negam.
        (Sol sanguíneo, p. 110-113)