Zumbi

Ramatis Jacino e Jonathas Wagner

 

1

Quisera Homero estar vivo
E, ao meu lado, soprando
Me ensinando a discorrer
Sobre a saga do ser humano
Mas, que, ao invés da nação Grega
Tivesse ele a pele negra
Como a do povo africano

 

2

Mas como eu não posso tê-lo
Nem fazê-lo reviver
Para contar esta odisséia
Terei mesmo eu que escrever.
Que, pra mim, é grande glória
Mas, por ser longa a história
É arriscado eu me perder

 

3

Outra coisa que me aflige
Apesar de ser normal
É o medo do leitor
Não achar a história legal
Pois não sou historiador
Só um cordelista amador
Sem mandado oficial

 

4

Sendo assim, meu caro amigo
Caso eu cometa sandice
Ou você se aborrecer
Com alguma coisa que eu disse
Tente entender o meu lado
Pois até mesmo Jorge Amado
Já deve ter feito tolice

 

5

Mas deixemos de delongas
Pois o herói que escolhi
Para escrever sobre sua vida
E deixar registrado aqui
É o herói dos sofridos
E um dos mais perseguidos
O grande rei negro, Zumbi

 

6

O dono deste cordel
Nasceu livre em Palmares
O maior quilombo do mundo
E um dos mais belos lugares
Mas, para que fosse educado
Foi um dia, à força, levado
Pra conhecer outros ares

 

7

Contam que um tal de Brás Rocha
Atacou Palmares um dia
E sequestrou uma criança
Que, como tantas, ali, nascia
Não queria a "presa" pra venda
Queria só dar uma prenda
Para o chefe da abadia

 

8

Mal sabia o invasor
Que a criança que levara
E, que mais tarde para o padre
Como prometera, entregara
Era o rei dos palmarinos
Senhor dos negros destinos
Que à sua espera ficara

(Zumbi, p. 9-10)