Conto das três mulheres que se chamavam

Paciência, Discórdia e Riqueza

 

Certa vez, como se costuma dizer nas histórias, havia um homem cujo nome era Orumilá.

Mandaram-lhe despachar um ebó, a fim de melhorar de situação, que era tão confusa, que não se sabia donde vinha e por onde havia de ir.

Orumilá, possuidor de uma grande paciência, não se abalava de sua posição serena de conformidade com as consultas que avisavam tivesse ele muita calma.

Um dia, apareceram em sua porta três mulheres que diziam chamar-se Paciência, Discórdia e Riqueza, todas querendo ficar em sua companhia. Lhe perguntaram qual das três preferia, ao que respondeu Orumilá:

— Escolherei a de nome Paciência.

Por causa disto, desgostaram-se as outras duas, falsas e ricas, seguindo viagem.

Em dado momento, no caminho, uma estrada quase deserta, surgiu uma grande discussão a ponto de irem as duas às vias de fato, por ter uma censurado a escolha de Orumilá como extravagante, e a outra retrucado que isto era coisa que dependia do gosto de cada um.

Isto foi o bastante para as duas mulheres se esbofetearem até uns trabalhadores da estrada mais próxima intervirem na luta para evitar um possível assassinato que ia se dando, levando as duas, presas, à presença do chefe local.

Ambas as partes expuseram as suas razões e, como o chefe não tivesse testemunha do fato, achando-se sem provas bastantes para resolver o assunto, mandou que as levassem à casa de Orumilá, para que ele, como o homem mais sábio e adivinhador, decidisse a causa.

Assim que elas avistaram Orumilá, foram dizendo logo:

— E por causa deste homem que estamos brigando; por ele ter ficado com nossa serva, a Paciência, sem a qual, está claro, não podemos viver; por isto, todas nós ficaremos com o mesmo homem, até o fim da nossa vida.

Fica assim provado que, onde tem paciência, existe tudo necessário para viver.

(Contos negros da Bahia e Contos de nagô. 2 ed. Salvador: Editora Corrupio, 2003 p. 87-88.)