Três Tigres

 

MIGUEL DAS LAGES O escrito é mais silêncio, quando li-

do. Certos livros viram camisas europas medalhas.

Nos fazem retratos, vozes ditadas à nossa voz. Sigi-

los sigilosos para nós. Que é feito de minha frase que

a lavra de outra fala inventa?

 

ESTEBAN MONTEJO E de meus riscos, que ordenaram

dizendo ser meu espelho? Palavra ilha armadilha, o

nunca saber se o escrito é o dito. E, no entanto, flo-

resce literatura furta-cor. Que eu mesmo, de tanto

esquecer, talvez, tenha inscrito.

 

CANDELARIO NAVARRO Emprestei meu cavalo se falei

sobre ervas que deram em letra. Umas não é outra.

Mil cabelos se a minha comida, feitura difícil, virou

escrito, o só esqueleto. Eu sabendo dizia o que não

é possível, a ver se com isso escreviam livro.

 

Miguel Esteban Candelario das Lages Montejo Navarro

escreve alguém no delírio de pensar haver-nos escrito.

(Sete selado. In: As coisas arcas: obra poética 3, 2003).