Escravocratas
 
Oh!. trânsfugas do bem que sob o manto régio
Manhosos, agachados - bem como um crocodilo,
Viveis sensualmente à luz dum privilégio
Na pose bestial dum cágado tranqüilo.
 
Eu rio-me de vós e cravo-vos as setas
Ardentes do olhar - formando uma vergasta
Dos raios mil do sol, das iras dos poetas,
E vibro-vos à espinha - enquanto o grande basta
 
O basta gigantesco, imenso, extraordinário -
­Da branca consciência - o rutilo sacrário
No tímpano do ouvido - audaz me não soar.
 
Eu quero em rude verso altivo adamastórico,
Vermelho, colossal, d' estrépito, gongórico,
Castrar-vos como um touro - ouvindo-vos urrar!
(O Livro derradeiro. In: Poesia completa, p. 201).