Mise-En-Scène
 
Fechem as janelas!
Abram o coração!
E que esse trovão se espalhe
Pela palma de qualquer mão!
 
Refestelem-se!
Ontem resolvi rir...
Ri ao rubro raio!
Ri até me partir!
 
Claro que ninguém me fez eco!
Ninguém uma alegria verteu ...
Jamais saberão quão simples é entender-me...
Jamais saberão quão simples sou eu ...
 
Sou artista de plateia alguma!
Meu texto é recital de pavores!
Declamo lágrimas...
Enceno beijos sem sabores...
 
Este tablado é meu!
Dele sou seu pó...
Pólipo que sou deste teatro
Que é a vida!
Vivo a interpretar no escuro...
Só!...
 
Eu, mais que ninguém,
Sou o ator da melancolia...
Finjo carência, careço de harmonia!
Harmônica sinfonia em dó menor!
 
Eu, mais que ninguém,
Nos holofotes banho o corpo...
E afogo a alma no breu, calado...
Pois de minha dor escura eu sei de cor!
(O Baile dos Versos, p. 48).