DADOS BIOGRÁFICOS

Aline dos Santos França nasceu em 15 de fevereiro de 1948, em Teodoro Sampaio-BA. É filha de Bento Ramos França, ferreiro e conhecido contador de estórias. Começou a escrever desde criança quando trabalhava com seus pais na agricultura. Na década de 1970, muda-se para Salvador, presta concurso público, e passa a trabalhar como funcionária da UFBA - Universidade Federal da Bahia. Anos depois, e a partir de sua aposentadoria, a autora volta a residir no interior do Estado para se dedicar à produção literária.

Em 1982, Aline França participa da antologia Dicionário de Escritores Baianos, com o texto “Mensagens dos nossos ancestrais”. Integra comissões julgadoras em concursos como Miss Afro-Bahia (1982) e Festival de Música Popular (1985). A autora também se dedicou à produção e direção de espetáculos musicais voltados para o resgate e celebração da herança cultural afro-baiana, a exemplo de "Coisas da terra", em 1983, e "Bahia africanismo", no ano seguinte.

Em paralelo, participa de inúmeros debates sobre a mulher e o negro na literatura afro-brasileira. Em 1990, viaja à Bélgica, onde profere palestras em seminários organizados por associações femininas europeias e latino-americanas.

Sua primeira publicação literária é a novela Negão Dony, de 1978,  que narra a história de um funcionário do manicômio do Estado que, por sua vez, é profundo conhecedor do candomblé.

Em 1985, vem a público a novela A mulher de Aleduma, situada num espaço utópico de liberdade, no qual não existem preconceitos, nem a exploração do trabalho alheio. Com seu segundo livro, a autora obtém reconhecimento crítico no meio literário baiano. Essa repercussão fez com que a revista nigeriana Ophelia, publicada em língua inglesa e de circulação internacional, colocasse Aline França entre os precursores da literatura contemporânea, no gênero “ficção em estilo surrealista”.

Vale ressaltar que A mulher de Aleduma foi tema de inúmeros artigos em várias línguas. A escritora foi entrevistada por jornalistas da Nigéria, Bélgica, Alemanha, Estados Unidos, Itália, Holanda e, naturalmente, de vários estados do Brasil. A partir da leitura dessa obra, Edvaldo Brito tece o seguinte comentário, publicado no blog pessoal da autora:

Li com atenção, a partir da primeira frase, as palavras que se sucediam, porque desde o início percebi que era uma epopeia, era uma ode a esses valores sem a mais mínima dose demagógica de panfletários, racismo, preconceito ou segregação que se destroem na própria violência em que são criados e, por isso, sem conseguirem construir as bases onde se preservarão esses valores. E essa sucessão me foi revelando imagens características dos mais evidenciados desses valores: a resignação do negro brasileiro diante da selvagem escravização a que foi submetido; a sua esperança na redenção decorrente de sua disposição de luta, que até hoje empreende, para reverter essa situação altamente adversa. Tudo, porém, caldeado pelo maior desses valores, a força de sua personalidade cada vez mais forte pela forja que a energia transmitia à têmpora. (BRITO: 1985).

Após a segunda edição de A mulher de Aleduma, Aline França traz a público, em 1993, Os Estandartes, texto de ficção em que entroniza o povo “fortiafri” – comunidade que tem a missão de alertar o mundo sobre a espiritualidade e a preservação da natureza. A obra foi adaptada para o teatro e sua estreia integrou as comemorações pelos 300 anos de Zumbi dos Palmares. Já Emoções das Águas, publicada em 2005, também se transformou em peça teatral, apresentando como tema central a integração de arte, educação ambiental e cultura. A peça dá continuidade ao espetáculo As fontes antigas de Salvador e seus convidados, também escrito pela autora.

Referências

BRITO, Edvaldo. “Uma ode aos valores culturais da raça negra”. Disponível em: <mulherdealeduma.blogspot.com>. Acesso em: 18 jul. 2009.

COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico de escritoras brasileiras (1711-2001). São Paulo: Escrituras Editora, 2002.

Dicionário de escritores baianos. Salvador: Governo do Estado/ Secretaria de Cultura e Turismo, 2006. p.145.

 


PUBLICAÇÕES

Obra individual

Negão Dony. Salvador: Prefeitura de Salvador, 1978. (novela).

A mulher de Aleduma. Salvador: Clarindo Silva e Cia. Ltda., Tipografia São Judas Tadeu, 1981. 2. ed. Salvador: Ianamá, 1985. (romance).

Os Estandartes. Salvador: Editora Littera, 1993; 2. ed., Salvador: Editora BDA-BAHIA LTDA., 1995. (romance).

Antologias

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. v. 2, Consolidação. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

 


TEXTOS

 


CRÍTICA

 


FONTES DE CONSULTA

AFOLABI, Niyi. Afro-Brazilians: cultural production in a racial democracy. Rochester, Nova York: University Rochester Press, 2009. p. 314-317.

FRANÇA, Aline. A Mulher de Aleduma na fantasia dos caminhos do negro. In: A Tarde. Salvador, 17 jul. 1981.

AUGEL, Moema Parente. Aline França. In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. v. 2, Consolidação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

AUGEL, Moema Parente. “Wenn sie das Schweigen brechen: Literatur afrobrasilianischer Frauen”. In: Schönberger, Axel (Org.). Geschlechterdiskurse in der modernen Literatur Brasiliens, Portugals und der PALOP. Frankfurt am Main: TFM/Domus Editoria Europea, 1996, p. 325-349.

­­­­­AUGEL, Moema Parente. Quando elas rompem o silêncio. Escritoras afro-brasileiras contemporâneas. In: Lusorama. Zeitschrift für Lusitanistik. Revista de Estudos sobre os Países de Língua Portuguesa. Frankfurt am Main: TFM, n. 30, jun. 1996, p. 5-25.

AUGEL, Moema Parente. ’E agora falamos nós’. Literatura feminina afro-brasileira. In: AFOLABI, Niyi; BARBOSA, Márcio; RIBEIRO, Esmeralda (Org.). The Afro-Brazilian mind: contemporary Afro-Brazilian literary and cultural criticism/ A mente afro-brasileira: crítica literária e cultural afro-brasileira contemporânea. Trenton, N. J.: Africa World Press, 2007. p. 21-45.

AUGEL, Moema Parente (Org.). Schwarze Prosa. Prosa Negra. Tradução de Johannes Augel e Marianne Gareis. St. Gallen/Berlin/São Paulo: Edition Diá, 1992. (Antologia da prosa afro-brasileira contemporânea).

BRITO, Edavaldo. Uma ode aos valores culturais da raça negra. Introdução. In: FRANÇA, Aline. A mulher de Aleduma. Salvador: Ianamá, 1985.

CÂNDIDO, Jorge. A mulher de Aleduma. O Negro recuperado. In: Revista do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro, agosto de 1981.

FRANÇA, Aline. Forerunners: Aline França. Entrevista para a revista nigeriana Ophelia Magazine. Lagos, v. 2, abr. 1982.

GONZAGA, Sérgius. Literatura marginal. In: FERREIRA, João-Francisco (Org.). Crítica Literária em nossos dias e Literatura marginal. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1981.

GUIMARÃES, Torrieri. Um livro da Bahia e todo seu mistério. In: Folha da Tarde. São Paulo, 05 jul. 1979.

JONES, Esther L. Traveling discourses: subjectivity, space and spirituality in black women’s speculative fictions in the Americas. Tese (PhD) – The Ohio State University, 2006.

LEONARD, Kathy S. Latin american women writers: a resource guide to titles in English. Maryland: Scarecrow Press, Inc., 2007.

MAIA, Adinoel Mota. A Mulher de Aleduma. “Gênese Negra”. In: Jornal da Bahia, out. 1985.

OJO-ADE, Femi. Interview with Aline França, afro-brazilian woman writer. In: OJO-ADE, Femi. Being black, being human: more essays on black culture. Ife-Ife, Nigéria: Obafemi Awolowo University Press, 2004. p. 247-250.

SILVA, Ana Rita Santiago da; SOUZA, Florentina da Silva. Vozes literárias de escritoras negras baianas: identidades, escrita, cuidado e memórias de si em cena. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) – Universidade Federal da Bahia, Instituto de Letras, 2010.

SILVA, Ana Rita Santiago da. Aline França: Uma Protagonista da Literatura Afrofeminina. In: SILVA, Ana Rita Santiago da. Vozes literárias de escritoras negras. Cruz das Almas, Bahia: Editora da UFRB, 2013.

 


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