Armada

As horas veem minha euforia insana
De quem sorri à espera de milagres.
Um antídoto digno da minha loucura,
Cura pra todos os males do meu dia,
Coisas assim.
Abandonada em folias de menina
Crescida em colo de mãe,
Deixo o desespero e o empório pra mais tarde.
O aluguel, as casas vazias, chaves pra cópias,
Tudo reservo para a eternidade vindoura, legítima.
Quem pensa que eu morro se engana:
Tenho sangue de senzalas e exalo morros,
Meu palácio é feito de arrastares, desprezo de sonhos,
Falências, cores velhas, arcaísmos de profeta lilás.
Jamais amo sempre o meu Senhor.
A paz em excesso por vezes me atormenta,
Fervo as veias em pensamentos,
Cozo desejos num tacho grande de caruru.
Minha casa é feita de renda inglesa e avencas,
O homem que amo me acha boa, bonita,
E sabe que sou Poeta, arrebanhada entre os malditos,
Escassa de verbas,
E aventurada de poesia.
Os verbos rondam o meu chão como estrelas.

(Tratado das veias, p. 27)