Uma fruta do "pé do santo"

Vinte e cinco de dezembro de 1937.

D. Archanja de Azevedo Fernandes foi passar o Natal com a "Madrinha Mãe de Santo", levando consigo o esposo e três sobrinhas — (filhas de criação).

A lyalorixá prezava muito Dona "Menininha", como era conhecida a visitante. Como prova de consideração, estima e confiança, deu-lhe o "oiê" de "Sobaloju", naquele dia festivo, com abertura de "champagne", discursos e abraços de confraternização.

Perto das despedidas, conversa vai, conversa vem, a "Sobaloju" chegou ao assunto de que a "sobrinha do meio" estava muito estranha, rebelde, indisciplinada; não queria assunto com ninguém; se não gostava da pessoa — (que lhe dirigia a palavra) — fechava os olhos e nada de abri-los... ia muito mal na escola... O dia não era próprio para isto, mas, quem sabe, a madrinha marcaria uma consulta; acertou-se o retorno de tia e sobrinha para princípios de janeiro.

Mãe Aninha chamou a "menina do meio", Stella, e lhe deu uma fruta "do pé do Santo". (Importante salientar-se que no dia 8 de dezembro eram oferecidas todas "as frutas do tempo" ao Orixá, o mesmo acontecendo no dia de Natal; as frutas seriam repartidas entre os membros da Comunidade).

A garota de doze anos aceitou a maçã sem coragem de devorá-la. Isso porque ao lhe entregar a fruta, Mãe Aninha olhou-a de uma forma profunda, estranha, interessante, como de quem olha longe.

Stella nunca mais viu Oba Biyi; não pôde acontecer o encontro marcado. (A menina, iniciada no ano seguinte por Senhora de Oxum, levaria, em suas lembranças, aquele olhar da fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá).

(E daí aconteceu o encanto, 1988, p. 47).