Ìtan 2 (1ª versão)

Òṣósi, garoto ainda, mas já demonstrando paixão pela caça e consequentemente pela mata, saía todas as madrugadas e voltava sempre ao anoitecer, sempre, trazendo uma novidade. Ele tinha poucos amigos, pois era desconfiado. Falava pouco, mas quando escapava uma conversa, falava muito de um amigo, Òsányìn. A mãe não gostava muito das proezas do amigo. Este fazia as pessoas se perderem na floresta, assustava a quem passava distraído, sem pedir licença – “ago”.

Certo dia, a mãe o chamou e disse: – Tive um sonho desagradável com você, por isso, hoje não saia de casa. Ele insistiu e ela disse: – Então não vá para longe. Como Òṣósi era destemido, achou que era controle ou repressão. Sabia também que não era de briga ou agressão. Saiu. Adiante, encontrou com o amigo Òsányìn, que pulou em sua frente o assustando. Quando reconheceu o amigo, abraçaram-se e foram andando. Ele contou a conversa da mãe, ao que o outro respondeu: – Toda mãe é boba. Nem de briga você gosta. Você não é como Ògún. Andaram muito, tiveram sede. Odé, nas pressas, não pegou o embornal da água e se lamentou. O outro disse: – Tem nada não, tenho aqui uma coisa melhor que água. No primeiro gole, Odé achou forte e disse que não queria. O outro falou: – Você parece uma mocinha. Ao que ele respondeu – Sei que sou homem. E bebeu.

A sede aumentou, Odé bebeu mais e mais, ficou embriagado, sentou e dormiu. O outro gozador jogou a bebida pela cabeça do companheiro. A tal bebida era meladinha – aguardente e mel de abelha – e colocou um punhado de penas da cabeça aos pés, pelo rosto, braços. Pôs no corpo todo. Estando embriagado, Odé não sentiu. Ao acordar, horas depois, meio zonzo, achando-se estranho, pensou que era apenas efeito da bebida, foi para casa já bem tarde, depois da hora de costume. A mãe ao vê-lo fantasiado e trôpego, o expulsou de casa. Ele voltou para a mata desolado, não encontrou mais Òsányìn que tinha se tornado invisível, depois da peça que pregou. Odé tonto, triste, com fome e sede, todo cheio de penas, não teve condições de seguir em frente.

Pela madrugada chegou Ògún, encontra Odé nesse estado deplorável, toma conhecimento do ocorrido absurdo, manda que vá tomar banho no rio, prepara uma cabana de folhas e o põe dentro e fica de guarda até passar o efeito da embriaguez, até o amanhecer. Deste dia em diante, Ode tomou horror ao mel de abelhas, não quer nem ouvir falar no nome.

(Òṣósi: o caçador de alegrias, 2011, p. 29-31).