Pai Adão era Nagô

 

 
   Olorum criou a terro. o mar, o ar. Olorum nasceu antes de tudo. 
Olorum é o princípio. Ele criou Obatalá e Oruunmilá e deu poder para Eles criarem outras criaturas e queria que todas vivessem em hamornia. Um dia, umas criaturas humanas resolveram tirar lucro de outras e, com armas potentes para este feito, invadiram a região delas e abalaram a harmonia que tentavam manter. Esta era a África.

Quando os africanos eram seqüestrados da sua terra para outras terras do outro lado do mar, eles deixavam sua família. Seus pertences materiais, seus companheiros, só trazendo consigo a roupa que vestiam. Amontoados no porão do tumbeiro, eram encarregados feito objetos ou animais, vendidos ou leiloados. E iniciaram uma vida de trabalho duro sem nenhum direito. Só tinham o dever de trabalhar, trabalhar, trabalhar. Essa forma de trabalho era chamada de escravidão.

Trabalhando desde o nascer até o por do sol, o africano era prisioneiro do “senhor”, o homem que lhe comprara e delegava ao capataz a vigilância constante para evitar qualquer descanso ou fuga. Nenhum capataz, porém, consegue vigiar ou prender a crença de um povo. E o africano trouxe com ele a sua crença e a guardava no íntimo de sua vontade, do seu entendimento. Sabia que Obatalá, aquele que criou os homens, não os criou para serem escravizados. Sabia que Orunmilá, aquele que cuidava do destino dos homens, cuidaria do seu destino e da sua descendência.

O africano não tinha o direito a nada: não tinha casa, não estudava, não passeava livremente, só podia fazer o que era da vontade do “senhor”. O “senhor” não sabia, porém, que ele guardava a sua fé nos orixás e com eles conversava em qualquer lugar que estivesse.

Os Orixás estão representados na natureza: nas plantas, nas matas, nas águas, no vento, no arco-íris, nos minerais, nos raios, na chuva, na terra, na pedra, nos vegetais, nos animais... pois o africano aproveitava dos momentos de trabalho, conversava e fazia ofertas para os Orixás pedindo proteção e força para a sua descendência continuar a lutar. E desta maneira ele se fortalecia apesar dos castigos do “senhor’”.

Foram várias as nações africanas sequestradas para o Brasil e aqui foram misturadas, o “senhor” achava que, procedendo assim, enfraqueceria a luta contra a escravidão , porque difícil elas se comunicarem umas com as outras. Puro engano. Um grupo destas nações era de origem YORUBÁ. Os Yorubás eram muito organizados, preparavam fugas e enfrentavam o capataz ou o “senhor”, se fosse preciso. O “senhor” e seus capatazes chamavam os Yorubás de Nagô, que queria dizer piolhento, porque eles eram muito agitadores. O nome nagô passou a ser orgulho para eles e de Nagô se chamaram e chamaram a sua língua Yorubá de Nagô. O candomblé era Nagô, eles eram Nagô.

 

(In: Pai Adão era Nagô. p. 3-6)