Nyame era uma princesa do reino medieval de Gana. Seu povo acredita que os mortos habitam um mundo que é a imagem espelhada do mundo dos vivos. Por isso, os antepassados não estão exatamente mortos, mas, sim, invisíveis. O país do lado de lá é igual ao do lado de cá. A diferença é que em um deles não se consegue acender fogueira.

Sentada à margem do rio Niger, a jovem pensava em invocar a poderosa avó, a rainha-mãe, que se tornara invisível. Ela, certamente, apareceria em seu sonho, "território" onde vivos e ancestrais podem se encontrar e falar (...)

O pai de Nyame era o chefe de um reino vizinho e havia abençoado a união de sua filha com o líder achanti. Mostrou-lhe também o tesouro em pepitas de ouro que deveria aumentar de geração em geração.

Mas, agora, o coração do guerreiro estava “arrebentado” com o desaparecimento de Nyame. Os dois encontravam-se desde crianças e sempre havia tempo para se alimentarem de alegria, amizade e amor (...)

(O espelho dourado. São Paulo: Peirópolis, 2003, p. 9, 11)