Cena sertaneja
 
Serpentes negras foscas invadem
ameaçando o sertão
incompreensíveis na paisagem
avançam canaviais adentro
rebolando sinuosas no ventre
miserável. A fome
se instala às margens de
mãos e rostos enegrecidos
 
Sol, fuligem e muita dor
sugam canas impróprias
não mais caules em fruto
apenas seca matéria-prima
rostos e mãos carregam armas
afiadas (para o trabalho) e cegas
(na parelha com a justiça)
 
A serpente asfáltica
plana e lisa ressalta na paisagem
(estrada do coronel
asfalto do coronel)
fazendas canaviais usina.
Por enquanto a Miséria estende o braço
e implora por mais um dia
((re)confesso poesia, 2009, p. 78).