Asé

Sou uma árvore de tronco grosso.
Minha raiz é forte,
nodosa,
originária,
betumosa como a noite.

 O sangue,
ejé que corre caudaloso,
lava o mundo e alimenta
o ventre poderoso de meus Orixás.
A cada um deles dou de comer
um grânulo vivo do que sou
com uma fé escura.
(Borrão na escrita do deus de olhos docemente azuis).

 Minha fé é negra,
e minha alma enegrece a terra
no ilá
que minha boca escapa.

 
Sou uma árvore negra de raiz nodosa.
Sou um rio de profundidade limosa e calma.
Sou a seta e seu alcance antes do grito.
E mais o fogo, o sal das águas, a tempestade
e o ferro das armas.

 
E ainda luto em horas de sol obtuso
nas encruzilhadas.

(Água negra, p. 33)

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