Meus quilombos

Em volta tudo é montanha
Escuros abraços que amparam
protegem, aquecem
mas não prendem.
Liberam
libertam.
Dentro tudo pulsa
tambores inundam o peito,
a pele
desaguam nos pés.

Em volta e de longe
tudo é calmaria
silêncio
água mansa.
Dentro e no fundo
tudo é movimento
intensidades
correntezas.

Em volta tudo é murmúrio,
palavras que brotam de gargantas
antes interditadas.
Dentro tudo é vozerio
brados de resistência
coro de insubmissões
que rompem cercos
círculos de ocultamento.

Em volta tudo é gesto que se desenha no ar.
Dentro tudo é punho que se ergue
braços que sustentam
mãos que garimpam, lapidam
transformam
reinventam.

                                          (Nós, p. 35-36)