Rio – São Paulo

Os bancos da rodoviária
Ficam mais cenográficos
Pelas duas de manhã.
Em um completo vazio poético
Habitam ali os que já passaram
E aqueles que ainda não chegaram.

Eis que já é hora de voltar.

As ruas da Lapa tão atraentes
Com seus arcos, suas gentes
Periga fingir que saudade não sete
Mas sente…
E como sente!

O bar da cachaça
Onde a gente se perde e se acha
Se engraça e se enlaça
Até que a noite se desfaça.

O ônibus aponta na plataforma.
A rodoviária é uma plantação de sonhos
Onde alguns voltam sem fazer a colheita.

É que já não queria mais voltar.

Havia um amor de retorno
Que não lhe quis assim faceira, namoradeira.
De vê-la olhando nos olhos de outras mulheres
Só faltou morrer.
Por olhar nos olhos de outros homens
Não quis saber.
Que pena!

Lembrando do desprezo
Resolveu ficar
O ano novo a começar.
Subindo as escadas pra Santa Tereza
Curar as mágoas bebendo cerveja.

Mas um dia eu volto
Te explico tudo
E se você não entender
Tudo bem, meu bem.

Só vim pra te dize que
O Rio de Janeiro continua lindo.

                                         (Terra fértil, p. 84) 

 

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