Samba jazz

Ele gosta de jazz
Frequenta cafés e lugares cult.
Já leu Morin, Bourdieu e Oswald
Fã de Glauber como Deus e o Diabo.

A Terra em Transa, transe.

De tão existencialista
Divagava horas sobre
O tal sentido da vida.

Ela não.
Só queria saber de viver.

Criada no samba
No ruído da cuíca.
Frequentava bares, biroscas, botequins.
Além das receitas dos remédios de sua mãe
Gostava de ler muros e olhos de pessoas.

Fã mesmo
Só de histórias
De Dona Biu benzedeira
Sua bisavó.

Ele, nascido e criado em SP.
Império acinzentado e sem amor
Até que se prove o contrário.

Ela, nascida e criada em SP.
Na multidão de dez milhões
Aprendeu a se aquecer.

Havia rumores de que o mundo fosse acabar.

Ele dotado de “razão” que era
Não deu a mínima.
Rumou para o centro da cidade
Para ver os Expressionistas.

Ela apressou-se
Queria se arrumar, estar bonita.
Era tempo de festejar
Um possível recomeço.

Aconteceu do salto fino de menina do samba
Trombar na camisa desbotada do cara do jazz
Na General Jardim
Assim.

Ela primeiro leu seus olhos
E no muro a escrita:
-Mais amor, por favor!

Ela não teve o que teorizar.
Diante dela sentiu-se parte
Do Cinema Novo.

Nasceu ali o samba jazz.

Agora o mundo já podia se acabar
Ou não.

                                         (Terra fértil, p. 14) 

 

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